A iniciativa privada tem sobre o setor público inúmeras vantagens para ser mais eficiente na prestação de serviços. Isso não quer dizer necessariamente que tudo deve ser feito pelo “mercado”, pois há certas funções, como Justiça ou policiamento, que não podem funcionar sob a ótima do lucro e prejuízo. Mas para a imensa maioria das coisas o setor privado costuma ser mais eficiente.
Um dos principais motivos é, sem dúvida, o mecanismo de incentivos, de punição e premiação. Sob o escrutínio dos donos do dinheiro, as empresas precisam colocar o cliente como prioridade, pois sem ele elas não sobrevivem. E a pressão dos acionistas serve para garantir essa busca constante por excelência.
Funcionário que for eficiente poderá ser recompensado, enquanto aqueles que não agregam valor acabam punidos de alguma forma. Se houver um ambiente de livre concorrência, sem tanta intervenção estatal, é assim que as coisas funcionam na iniciativa privada. O mesmo não ocorre no setor público.
Ao incorporar o espírito de Amador Aguiar, fundador do Banco Bradesco, em uma carta para o ex-funcionário Joaquim Levy, Elio Gaspari acabou tocando no xis da questão em relação a essa confusão toda gerada pelo eSocial e o cadastro das empregadas domésticas. O banqueiro puxa a orelha de Levy na carta fictícia com base na falta de punição para as trapalhadas no governo:
No domingo passado, ficou claro que o sistema do cadastro não funcionava. Eu sei o que é isso porque o Bradesco foi o primeiro banco brasileiro a usar computador. O senhor e o secretário da Receita não disseram uma palavra. Pareciam aqueles paulistas quatrocentões que competiam comigo.
Passaram-se o domingo e a segunda-feira. Nada. Na terça-feira, a Receita avisou que não prorrogaria o prazo para a regularização do cadastro: “Não trabalhamos com essa hipótese”. O senhor foi a dois eventos e continuou calado.
Só na tarde de quarta-feira, a 72 horas do limite dado aos clientes para se cadastrarem sem multa, o senhor e a Receita fizeram o que deveriam ter feito na segunda. Não ouviram os clientes, mas ouviram a patroa e estenderam o prazo.
O senhor sabe como eu reagiria se durante quatro dias uma agência do Bradesco estivesse com uma máquina quebrada, uma enorme fila de clientes na sua porta, e o gerente nada tivesse a dizer. Se a confusão do cadastro da criadagem tivesse acontecido no Bradesco, eu teria dispensado seus valiosos serviços.
E é exatamente por isso que as empresas eficientes conseguem avançar, enquanto o governo faz lambança atrás de lambança e fica por isso mesmo. Para as empresas, especialmente quando há competição, somos clientes soberanos; para o governo, somos “contribuintes”, praticamente súditos.
Somos destratados o tempo todo, sem um pedido de desculpa. Afinal, os responsáveis pelas trapalhadas não são punidos no governo. Por isso a empáfia, a arrogância desses que ajudam a transformar nossas vidas num verdadeiro inferno.
Rodrigo Constantino