Escrevi nessa segunda um texto sobre a deturpação do termo liberalismo, que a esquerda vem tentando usurpar no Brasil como fez nos Estados Unidos. Usei como base uma entrevista de Eduardo Giannetti e outra com a turma “Livres”, uns tucanos e outros left-libs, mas são inúmeras evidências nos últimos anos. O esforço em colar no liberalismo as pautas “progressistas” é visível e quase tocante. Logo após a publicação do texto, fui presenteado com um exemplo perfeito dessa manipulação e/ou ignorância.
Guga Chacra, jornalista da Globo News que mora em Nova York, acha que liberal é Obama, Clinton ou mesmo Bernie Sanders, e que precisa defender aborto, drogas e multiculturalismo. Ele comprou a valor de face o truque da esquerda americana, e agora entendi porque ele se disse, certa vez, um liberal numa conversa que tivemos. Ele acha mesmo que é um liberal, pois usa o termo no sentido distorcido dos americanos. Levou uma bordoada do meu amigo Leonardo Correa, advogado e colaborador de textos para o Instituto Liberal:
Como que um jornalista que vive nos Estados Unidos e cobre política não sabe de algo tão básico e elementar? É um espanto! Ofereceria ao Guga meu curso online “Trajetória das Ideias Liberais”, mas a Kátedra encerrou os trabalhos (devo disponibilizar as aulas para meus patronos).
Recomendo, então, que ele compre meu novo livro Confissões de um ex-libertário: Salvando o liberalismo dos liberais modernos, em que disseco justamente essa confusão conceitual. Mas já em Esquerda Caviar dediquei um capítulo a essa manipulação de sentido das palavras, e falei especificamente do termo liberal:
Palavras e expressões fazem diferença na cultura de um povo. Mas mesmo os americanos não ficaram livres das manipulações de conceitos. A esquerda lá foi tão eficiente que usurpou até mesmo o termo “liberal”, que passou a ser associado a políticas claramente antiliberais, que pregam sempre maior intervenção estatal na vida dos indivíduos.
O líder do Partido Socialista americano, Norman M. Thomas, em um discurso de campanha em 1948, declarou que o povo americano jamais adotaria o sistema socialista de forma consciente. Mas, sob o nome “liberalismo”, encamparia cada fragmento do programa socialista até que um dia a nação seria socialista sem saber como aconteceu. Quando vemos que Obama se diz um “liberal”, temos de reconhecer a capacidade profética do líder socialista.
No Brasil, o termo perdeu totalmente seu sentido, e nossos males sempre foram jogados na conta do tal “neoliberalismo”. Porém, como disse Roberto Campos, o “Brasil está tão distante do liberalismo – novo ou velho – como o planeta Terra da constelação da Ursa Maior!” Só mesmo no Brasil que um partido de esquerda como o PSDB pode ser rotulado de neoliberal.
Recentemente, talvez por perceber os ventos de mudança e o declínio da esquerda, chamuscada pelo desgaste no poder, parte da imprensa começou a tentar criar no país a mesma dicotomia entre liberal e conservador existente nos Estados Unidos. A Folha, quando fez uma reportagem sobre uma pesquisa que mostrava que o brasileiro é conservador, colocou a bandeira do desarmamento como coisa de liberal. Não! Desarmar inocentes não é uma bandeira liberal, até porque os liberais respeitam o direito individual de legítima defesa.
Mas a esquerda caviar adora rótulos sem sentido. Enquanto posa de moderada, costuma atacar seus oponentes como “extremistas”. O primeiro passo daqueles que pretendem confundir os indivíduos com seus vagos termos é jogar tudo no mesmo saco, chamando o conjunto todo de “extremismo” e pregando um “caminho do meio”. A técnica é conhecida.
Durante anos a mídia mainstream tratou o PSDB como partido liberal ou de direita, o que é uma piada de péssimo gosto. Mas isso passou impune pela imprensa porque nossos jornalistas são como Guga Chacra em sua maioria: acham que liberalismo é sinônimo de social-democracia “progressista”. Essa gente pensa mesmo que Obama – Obama! – é um liberal, e não um esquerdista bem radical até, quase socialista. Aí complica…
No Brasil se perde um tempo precioso para explicar o óbvio. Mas são os ossos do ofício, não é mesmo? Alguém tem que fazer o trabalho sujo. Até porque essa ignorância conceitual foi disseminada por anos e anos justamente pela falta de oposição no campo das ideias. Isso acabou. Agora Guga Chacra e companhia passam vergonha nas redes sociais, pois não perceberam que suas bolhas estouraram. Liberais? Nem aqui, nem na China!
Rodrigo Constantino