Escrevo, como o leitor sabe, muitos textos sobre o esquerdismo, sobre o mimimi, o vitimismo, a seletividade e a hipocrisia do mundo moderno. Em Esquerda Caviar, tentei elencar vinte origens para o fenômeno. Mas resolvi montar uma equação que simplificasse a coisa toda. Como toda simplificação, esta também é incompleta, não dá conta de uma explicação mais abrangente e detalhada. Mas, em linhas gerais, creio que captura o essencial.
Esquerdismo é sinônimo de vitimismo somado à hipocrisia. O vitimismo é fundamental, principalmente nessa era da “revolução das vítimas”, em que basta posar de coitadinho para chamar a atenção e, quiçá, levar algum privilégio para casa. Só tem um problema: se todos bancarem a vítima juntos, ninguém se destaca na escala de suposto sofrimento. Logo, é crucial apelar para a seletividade, para o duplo padrão, para a hipocrisia. Só as “minorias” que fecharem com a própria esquerda têm o direito de bancar a vítima.
Uso dois casos distintos para ilustrar o ponto. No primeiro deles, uma mulher resolveu processar a gigante Walmart nos Estados Unidos. Motivo? Ela diz que os produtos de beleza voltados para o público negro estão fechados em cabines trancadas na loja. Nossa! Que preconceito! Que gente malvadinha! Não passa pela cabeça da moça que vários outros produtos fiquem trancados também, de acordo com seu valor e risco de roubo. Nem tudo é “racial profiling”, como ela alegou. A loja esclareceu:
Nós não toleramos discriminação de qualquer tipo no Walmart. Atendemos a mais de 140 milhões de clientes semanalmente, passando por todas as demografias e estamos focados em atender às suas necessidades, oferecendo a melhor experiência de compra em cada loja. Somos sensíveis a esta situação e também entendemos, como outros varejistas, que alguns produtos como eletrônicos, automotivos, cosméticos e outros produtos de higiene pessoal estão sujeitos à segurança adicional. Essas determinações são feitas de loja em loja usando dados que suportam a necessidade dessas medidas.
Se calhar de o produto que você deseja fazer parte da lista dos itens mais roubados ou com chance de ser roubado, então claro que isso só pode ser preconceito, discriminação e “racial profiling”. Não pode ser simplesmente um dado estatístico, um controle do varejista para impedir o roubo e seu consequente prejuízo. O mimimi da cartada racial precisa falar mais alto. E tinha que ser na California, claro.
No segundo caso, Kirsten Gillibrand, uma senadora democrata por Nova York, mostra-se bem indignada durante uma entrevista com o sexismo do presidente Trump, que pode ter usado linguagem chula, mas nunca foi condenado por abuso sexual de fato. Na hora em que perguntam a ela sobre Bill Clinton, porém, o tom muda totalmente, ela se mostra mais compreensiva, fala em termos abstratos, diz que não conhece detalhes do caso (sério?), que o importante é focar nas mudanças de agora, e que os tempos mudaram (sim, mudaram, principalmente com a chegada de um republicano ao poder). Vejam:
🤔🤔🤔🤔🤔🤔 pic.twitter.com/YAoyeI8Ho9
— Rae (@RaeLynnZiegler) January 29, 2018
A postura varia completamente dependendo de quem é o alvo, o que deixa claro que o foco não é o abuso das mulheres em si, mas a política ideológica e partidária. Com Clinton, sejamos tolerantes, cautelosos, pois o mais importante é falar em abuso no abstrato, em termos gerais. Com Trump, sejamos implacáveis, determinados, justiceiros, pois esse sujeito não pode continuar na Casa Branca!
Esquerdismo é a soma do vitimismo com a hipocrisia seletiva. Mas felizmente isso não passa despercebido por todos. Quando a própria Hillary Clinton tentou recentemente bancar a defensora das vítimas de abuso, foi massacrada nas redes sociais por mulheres que cobraram coerência, aquilo que ela, como todo esquerdista, claramente não possui. Inevitavelmente a turma desperta para o embuste…
Rodrigo Constantino
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