A postagem de Carlos Bolsonaro sobre a lentidão da democracia para as mudanças almejadas gerou forte reação, e já comentei sobre o caso aqui. Volto a ele, porém, por conta da reação dividida dentro do bolsonarismo.
Enquanto uns tentaram acusar todos que viram algum flerte com o autoritarismo na fala, alegando que o filho do presidente apenas constatou um fato e esses críticos não sabem interpretar textos, outros aproveitaram a deixa para colocar um pé fora do armário autoritário mesmo. Foi o caso de Leandro Ruschel:
Palavras têm consequências, e conceitos importam. Se o que o sujeito quer dizer com isso é que temos uma “democracia de fachada”, que somos “escravos” porque temos uma justiça capenga, então parece totalmente defensável, ou mesmo necessária, uma luta armada para conquistar nossa liberdade e, por tabela, nossa democracia.
Vários bolsonaristas passaram a perguntar, de forma retórica, se existe mesmo democracia no Brasil. Isso, não custa lembrar, num contexto em que Bolsonaro foi eleito! Apesar do “sistema”, apesar das urnas eletrônicas, apesar de tudo.
E num contexto em que Lula segue preso, assim como vários caciques poderosos denunciados na Lava Jato, que lançou sua sexagésima-quinta operação hoje mesmo, prendendo outro cacique importante.
Mas se o STF tem problemas, se o Congresso inclui corruptos, então isso é prova, no discurso jacobino dessa “direita” revolucionária, de que não temos uma democracia em nosso país. E se não vivemos numa democracia, então atos reativos, inclusive com violência, estariam justificados. Ou não?
Afinal, lutar contra uma ditadura é lutar por liberdade, não? E se não temos democracia, só podemos ter uma ditadura… a “ditadura” do STF e do “centrão” corrupto! É a narrativa de uma gente irresponsável, golpista, que incita a “ucranização” do país como se fosse a solução para nossos problemas.
Diante desta reação de boa parte do bolsolavismo, e lembrando que o guru já disse que é preciso ser mesmo um PT de sinal trocado nos métodos, fica claro que quem sentiu calafrios com a fala de Carluxo não sofre de paranoia, e tem todo direito do mundo de temer um ovo da serpente fascistoide sendo chocado. Liberalismo na economia não é garantia de compromisso com democracia, vide Pinochet e Fujimori.
Carlos Bolsonaro disse também que não tem apego ao poder, como seu pai. Um é político há 30 anos, o outro começou aos 17 e continua. Outros dois filhos também viraram políticos, e um quarto, ainda novinho, deve seguir pelo mesmo caminho. O pai demonstrou enorme vontade para se tornar presidente. Perdão por desconfiar dessa falta de ambição da família e ter receio de um viés autoritário. É só patriotismo mesmo?
Rodrigo Constantino