Existe a Guerra de Canudos “raiz”, em que Antônio Conselheiro e seus seguidores fanáticos tocaram o terror no interior da Bahia no final do século XIX. E existe a Guerra de Canudos “Nutella”, da era moderna, em que grupos ambientalistas declararam ser o canudinho de plástico o maior vilão da humanidade (coisa de quem não precisa enfrentar inimigos reais, convenhamos).
2018 será lembrado – com gargalhadas dos nossos descendentes (se o bom senso for restabelecido e nossa espécie sobreviver) – como o ano em que o ódio aos canudos se tornou mainstream. Não mais coisa de um ou outro doido que abraça árvores por aí, mas de leis aprovadas para banir esses terríveis vilões do planeta.
Em artigo publicado na Reason, Christian Britschgi mostra, porém, que o tiro saiu pela culatra. Ele usa o caso da “progressista” Starbucks, a gigante que embarcou nessa canoa furada, apenas para ver o consumo final de plástico… aumentar!
Em julho, Seattle impôs a primeira proibição americana aos canudos de plástico. Vancouver, British Columbia, aprovou uma proibição semelhante alguns meses antes. Há tentativas ativas de proibir canudos em Nova York, Washington, D.C., Portland, Oregon e São Francisco. Uma lista de celebridades de Calvin Harris a Tom Brady nos deu palestras sobre desistir de canudinhos. Tanto a National Geographic quanto a Atlantic têm perfis longos sobre a história e os efeitos ambientais do troço. O vício agora é tratar seu consumo como um excesso sujo e hedonista.
A Starbucks se antecipou e declarou guerra ao canudo também. “Este é um marco significativo para alcançar nossa aspiração global de café sustentável, servida aos nossos clientes de formas mais sustentáveis”, disse o CEO da Starbucks Kevin Johnson em um comunicado à imprensa anunciando a mudança.
A gigante do café diz que até 2020 espera eliminar todos os canudos de plástico de uso único em suas 28 mil lojas em todo o mundo. Agora, ela vai cobrir o topo de todas as suas bebidas frias com novas tampas sem canudo que a empresa atualmente serve com seus cafés nitro frios. (Frappucinos ainda serão servidos com canudo de papel). A decisão recebeu muita aprovação, ao menos da turma ecologicamente correta.
A World Wildlife Fund e o Ocean Conservancy deram declarações entusiasmadas sobre a decisão da Starbucks. A revista “liberal” The New Republic elogiou o movimento como um “marco ambiental”. A Slate saudou a proibição do canudo da Starbucks como evidência de uma vitória para um autêntico movimento anti-canudo, que poderia levar à proibição de mais coisas de plástico nos próximos anos.
No entanto, diz o autor, o que faltou nessa fanfarra foi o fato inconveniente de que, abandonando os canudos de plástico, a Starbucks realmente aumentaria seu uso total de plástico. Como se constata, as novas tampas de nitro nas quais a Starbucks está inclinada para substituir os canudos são feitas de mais plástico do que a combinação atual de tampa/canudo da empresa.
Agora, os clientes da Starbucks estão usando no topo da maioria de suas bebidas geladas 3,23 gramas ou 3,55 gramas de produtos plásticos, dependendo se eles combinam a tampa com um canudo pequeno ou grande. As novas tampas de nitro, entretanto, pesam 3,55 ou 4,11 gramas, dependendo novamente do tamanho da tampa. O próprio autor se certificou dos pesos.
Isso significa que os clientes estão, na melhor das hipóteses, empatando sob o novo esquema sem canudo da Starbucks, ou estão adicionando entre 0,32 e 0,88 gramas ao consumo de plástico por bebida. Dado que os clientes vão usar uma mistura de tampas de nitro maiores e menores, o consumo de plástico da Starbucks certamente aumentará, embora ninguém saiba quanto.
O peso do plástico – não o número bruto de objetos de plástico usados, ou se esses objetos são recicláveis – é o que deveria realmente interessar aos ambientalistas, alega o autor. Fotos de tartarugas com canudos no nariz são certamente chocantes. No entanto, a maior parte do plástico, qualquer que seja a forma como ele entra no oceano, acabará sendo fragmentado em pedaços muito menores, conhecidos como micro-plásticos. São esses micro-plásticos que formam essas gigantescas manchas de lixo oceânico, se acumulam no fundo do oceano e penetram no estômago e carne de criaturas marinhas.
No máximo, os canudos representam cerca de 2.000 toneladas das 9 milhões de toneladas de plástico que são estimados para entrar no oceano a cada ano, de acordo com a Associated Press – 0,02% de todos os resíduos de plástico. O problema da poluição colocado pelos canudos parece ainda menor quando se considera que os Estados Unidos são responsáveis por cerca de um por cento dos resíduos plásticos que entram nos oceanos, com os canudos sendo uma porcentagem ainda menor.
Os guerreiros ambientalistas provaram ser teimosamente resistentes a essa lógica. Em vez disso, optaram por depender de estatísticas falsas (como a alegação de que os americanos usam 500 milhões de canudos por dia) ou de noções totalmente não comprovadas para justificar pequenas proibições inócuas de canudos. E eles foram ajudados por uma mídia nada crítica. As coberturas da decisão do Starbucks pelo New York Times, o The Wall Street Journal e a National Geographic citam a cifra de 500 milhões de canudos por dia.
Ao adotar um enfoque míope na proibição de canudos, ambientalistas, câmaras municipais e “capitalistas conscientes”, na melhor das hipóteses, não têm impacto significativo sobre o problema geral dos resíduos plásticos marinhos. Na pior das hipóteses, eles estão forçando proibições caras à escolha do consumidor que são contraproducentes – pelo menos no caso da proibição da Starbucks – e vêm com todos os tipos de conseqüências não intencionais.
Por exemplo, as proibições provavelmente prejudicarão as pessoas com deficiência que não possuem as habilidades motoras necessárias para realizar um movimento impecável da xícara para a boca. Enquanto canudos reutilizáveis existem, eles são difíceis de limpar e nem sempre são úteis quando se precisa deles. Idosos e pais com filhos pequenos provavelmente serão afetados pelas mesmas razões.
Por que não usar canudos descartáveis mais ecológicos? Porque eles são terríveis. Os canudinhos de papel são conhecidos por colapsar na metade de uma bebida. Canudos compostáveis custam de seis a sete vezes mais do que suas alternativas plásticas, não se mantêm por muito tempo e desmoronam quando expostas a altas temperaturas.
Enfim, o que podemos concluir disso tudo? Que, uma vez mais, a turma romântica “progressista” liga muito mais para a estética do que para os resultados. É charmoso declarar guerra ao canudinho, posar de engajado numa boa causa, monopolizar as virtudes e se sentir superior ao vizinho, aquele “bárbaro” que toma seu café com canudo sem qualquer preocupação com a pobre da tartaruga. E essa “vibe” basta para muitos. O resto é o resto…
Rodrigo Constantino
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