Os números da última pesquisa Datafolha sobre a percepção dos brasileiros em relação à economia levaram ontem aliados do pré-candidato do MDB à Presidência, Henrique Meirelles, a reconhecer as dificuldades do emedebista em conquistar o apoio do próprio partido na convenção de julho. Finalizada na quinta-feira passada, a pesquisa mostra que 72% dos entrevistados enxergam uma piora do cenário econômico, enquanto apenas 6% acreditam em uma possível melhora. Os resultados adversos da economia, combinados à impopularidade do presidente Michel Temer, têm dificultado o crescimento de Meirelles, que segue com 1% das intenções de voto.
Diante dos resultados do Datafolha, o próprio ministro da Secretaria de Governo de Temer, Carlos Marun, praticamente descarta a candidatura do emedebista, ao defender que a legenda e os outros partidos aliados ouçam o “instinto de sobrevivência” e discutam o apoio a um candidato de centro “mais competitivo”. O ministro, no entanto, diz que vai continuar trabalhando por Meirelles enquanto os partidos não chegam a esse entendimento.
— Acho que em algum momento essa conversa vai acontecer, até por um instinto de sobrevivência. Mas hoje, como a proposta não teve retorno, no momento cabe ao MDB fazer o que já estamos fazendo, fortalecer a candidatura do Meirelles — diz o ministro.
Meirelles não é o único ao “centro” que não decola. São todos! A ponto de FHC não esconder mais seu desespero com os extremos, Ciro Gomes à esquerda e Jair Bolsonaro à direita, pregando uma união em torno do “centro progressista” (leia-se esquerda herbívora). O que se passa?
O fenômeno tem várias explicações. Em primeiro lugar, o cansaço com o establishment, e mesmo aqueles que surgiram como “outsiders” tinham clara ligação com a máquina estatal e seu maior ícone, o PMDB. Efeitos da Lava Jato e do clima de anti-política no país, que impede qualquer um percebido como representante dessas elites de prosperar.
Mas há também a falta de qualquer convicção ideológica no que se chama de centro em nossa política. Ou estamos diante da velha esquerda, apenas mais moderada do que o PT (nenhum mérito), ou então dos fisiológicos oportunistas que vestem a roupa que for preciso de acordo com o momento. O público percebe a farsa, e a rejeita. Foi o tema da coluna de Carlos Andreazza hoje:
O que se chama de centro, hoje, no Brasil, é um balaio reacionário de partidos sem identidade e sem projeto de país; sem coragem de sustentar bandeiras e pautá-las, de dizer o que pensam, se é que ainda pensam, acovardados e dirigidos pela pressão artificial de uma tal impopularidade, acossados pela iminência da implosão e mobilizados pela luta por sobreviver.
O que ora se chama de centro foi em parte dinamitado pelo lava-jatismo, pela campanha que criminalizou a atividade política e pelo renovismo influente que transformou a condição de outsider em virtude política; mas sobretudo pela covardia de homens públicos que se deixaram guiar pelo valor movediço da popularidade, a circunstância impopular de súbito vertida em sina, de toda forma como se alguém pudesse enfrentar posição política desconfortável se negando ao debate político ou aderindo ao discurso fácil da antipolítica já controlado pelos adversários — exatamente aquele que colocou a política e os políticos no lugar indesejado do qual se quer sair.
Andreazza cita o caso de Álvaro Dias como exemplo de covardia e oportunismo, como alguém que está há décadas na vida pública, parte indissociável do establishment, mas que de repente tentou se vender como rebelde, como inovador, e até como caminhoneiro revolucionário.
Cita Alckmin também, e mostra como a tentativa de jogar Bolsonaro para a extrema direita, sem que haja qualquer um que assuma a bandeira da direita em primeiro lugar, é uma estratégia fadada ao fracasso. Muitos eleitores do capitão votavam no PSDB ontem: viraram extremistas do nada, ou falta quem efetivamente assuma uma postura de centro-direita no cenário atual? Andreazza conclui:
Centro — equilíbrio — pressupõe a existência de algo a ser ponderado. Um só pensamento. Mas: onde? Esvaziado, disputando terreno com a esquerda e desprezando a direita, existindo para permanecer; existindo para não desagradar àqueles que desagradará sempre, o que se chama de centro perdeu-se dos meios de comunicar e atrair. Para não morrer, morre — morreu.
Goste-se ou não, o lulismo — de que Ciro Gomes é subproduto eleitoral — tem suas ideias; seu projeto de poder. Goste-se ou não, o bolsonarismo tem suas ideias, seus valores. Não podem, porém, ser extremos — se nada há a empurrá-los. No meio, é o vazio. Ou: um amontoado de rodrigos maias — para que se dê figura ao extremo nada.
Enquanto o “centro” no Brasil forem os esquerdistas Marina Silva e FHC, ou então os oportunistas sem credo do DEM e do PMDB, claro que o eleitor vai virar a cara ou para a esquerda de fato e mais firme, ou para a direita que não teme dizer seu nome e defender suas bandeiras. Esse “centro” esquerdista ou amorfo não tem condições mínimas de atrair o eleitorado, especialmente em clima polarizado e de crise, com a maioria de saco cheio do sistema político atual.
A mídia pode martelar à vontade, pode repetir ad infinitum o quão terrível e extremista ele é, quase um nazista que desejaria matar gays e escravizar mulheres; mas veremos inúmeras pessoas moderadas, razoáveis, centradas votando em Jair Bolsonaro por total falta de opção.
Rodrigo Constantino