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Guedes não é demofóbico, mas levantou bola para oportunistas
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Paulo Guedes é o melhor ministro da Economia que já tivemos. Extremamente preparado, com Ph.D. pela Universidade de Chicago, um liberal de primeira mão, que montou uma equipe excelente e sabe priorizar as reformas certas, o Posto Ipiranga de Bolsonaro vem entregando bons resultados. É o grande selo de qualidade do governo para o "mercado", o público da Faria Lima e de Davos.

Dotado de espírito público, mas de pavio curto, aprendeu até mesmo a engolir sapos da política, um jogo bem diferente daquele que estava acostumado no mercado financeiro. Convenhamos: aturar o filho do bandido José Dirceu te acusando de "tchutchuca" não é para qualquer um. Guedes está focado em aprovar as reformas liberais, e por isso os brasileiros decentes devem muito a ele.

Mas, se havia a esperança de que ele fosse exercer boa influência sobre o presidente, a verdade é que o oposto se mostra verdade: é Bolsonaro que, com seu estilo mais "espontâneo", vem influenciando o ministro. Falas infelizes como o comentário sobre a beleza da primeira-dama francesa têm se repetido com alguma frequência. Esquece-se que nem só de duras verdades vive o mundo político. Alguma diplomacia, pitadas de cerimônia e certo tato se fazem necessários.

Chamar os servidores públicos de "parasitas" já pode ter sido um excesso, em que pese a importância para a narrativa que pode atrair maior apoio da sociedade para a reforma administrativa do estado. Mas mencionar empregadas domésticas indo para a Disney numa "farra" por conta do câmbio valorizado é daquelas levantadas desnecessárias de bola para os oportunistas de plantão.

Muitos buscam pretextos para atacar Guedes e o governo a cada instante, pois no fundo não suportam o viés reformista liberal. Há também tucanos recalcados, que se recusam a admitir que seus economistas social-democratas levaram anos até fazerem as coisas certas, por pressão do mercado, sob enorme custo para o país. As viúvas de FHC detestam o fato de que Guedes defende o liberalismo sem receios ou rodeios, pois não precisa acender velas para a esquerda o tempo todo.

Com essa fala infeliz, Guedes deu de bandeja a chance de tentarem colar nele a imagem de elitista preconceituoso. Não é o caso, e eu sei pois trabalhei com ele por seis anos. Guedes é extremamente simples, acessível, simpático e era adorado pelos funcionários mais humildes. Passava um bom tempo conversando sobre futebol com o copeiro, e sempre repetia que lhe incomodava, no mercado financeiro, essa coisa de ficar rico e ter de adotar hábitos padronizados, todos entendedores de vinhos e esqui em Courchevel. Ele repetia que continuava gostando do seu arroz com feijão e do Flamengo.

Faço esse relato em nome da justiça, pois já há oportunistas chamando Guedes de "demofóbico", tirando de contexto sua fala. É puro oportunismo, por mais que ele pudesse ter filtrado melhor o exemplo para fazer seu ponto. E este é que o câmbio estava fora de lugar antes, valorizado demais, gerando distorções na economia.

Acreditem: poucos se irritam tanto com a alta do dólar como eu, que ganho em reais e gasto em trumps (moeda forte). Mas o câmbio é flutuante! E a alta se deve basicamente à queda da taxa Selic. E essa redução dos juros é fruto da autonomia do Copom (BC) que persegue sua meta de inflação. E a inflação está contida, dentro da meta. Logo, não há muito o que ser feito aqui, por mais que a alta do dólar incomode.

O ministro tenta argumentar que há o lado bom, que haverá substituição de importações, que o turismo interno pode se desenvolver, que o setor exportador se beneficiará. Mas, na prática, significa brasileiros mais pobres em termos relativos. Moeda forte é sinal de estabilidade, e são os desenvolvimentistas que costumam flertar com desvalorização cambial como instrumento de estímulo econômico.

A queda dos juros é desejável, se calcada em fundamento econômico (reformas liberais). É a eutanásia do rentista, algo que Guedes sempre defendeu. Mas um efeito colateral disso é a alta do dólar. Não é preciso celebrar isso para reconhecer que os ganhos compensam as perdas. O ministro poderia ter explicado isso tudo de forma mais didática, sem forçar a barra. E, claro, sem o exemplo infeliz que deu, oferecendo munição gratuita a quem quer "destruir" o governo Bolsonaro, pois torce contra o Brasil.

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