Parem de levar a América Latina a sério!

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Há mais de duas décadas venho tentando trazer para o debate os valores do liberalismo clássico, enfrentando o socialismo, o coletivismo estatizante típico da esquerda tupiniquim. Império das leis, liberdades individuais, democracia representativa e economia de mercado, tudo isso calcado em valores morais de decência e foco no indivíduo: não é preciso reinventar a roda.

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Não nego o avanço das ideias liberais e conservadoras no país. Tampouco defendo algum tipo de fatalismo, do tipo "o problema é o povo". Mas é forçoso admitir que Charles de Gaulle tinha um ponto quando disse que o Brasil não era um país sério. Nem o Brasil, nem qualquer país latino-americano, vale notar. Abaixo da Linha do Equador, parece que as ideias básicas da liberdade nunca deram o ar de sua graça para valer.

A história do Brasil e seus vizinhos mais parece uma pornochanchada, ou uma tragicomédia. A "tentativa de golpe" ocorrida na Bolívia esta quarta é o mais novo capítulo. Teria sido um golpe Tabajara, um autogolpe, um teatro? O próprio militar responsável diz que sim, que foi ordem do presidente ligado ao Foro de SP, para levantar uma cortina de fumaça sobre a crise do país e justificar medidas drásticas e autoritárias. Não seria novidade no continente.

Abaixo da Linha do Equador, parece que as ideias básicas da liberdade nunca deram o ar de sua graça para valer

A esquerda brasileira ficou em polvorosa: usou o caso boliviano para defender a perseguição aos bolsonaristas. Mas houve tanques, armas e militares nas ruas brasileiras no 8 de janeiro? Donas de casa com a Bíblia na mão, senhoras com a bandeira do Brasil, uma mãe de família "armada" do seu batom, um relógio quebrado: esse tipo de coisa remete ao que vimos na Bolívia, ainda que tenha sido teatral? Se a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude, ao menos a esquerda sabe o que se parece com um golpe de verdade!

Lula já se manifestou alegando ser um "amante da democracia". Aquela relativa da Venezuela ou a cubana mesmo? Por falar em Venezuela, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que o governo Lula está acompanhando de perto todos os acontecimentos sobre as eleições na Venezuela e que o Brasil espera um pleito transparente e “aceito por todos”. Gargalhadas, por favor.

Enquanto isso, a Gilmarpalooza recebe inúmeros empresários em Lisboa, sendo que representantes de 12 empresas com processos no STF estão presentes. O STF nega conflito de interesses, claro. Juiz suspeito só Sergio Moro mesmo. O Brasil é uma festa suprema, e nem mesmo as aparências eles tentam manter, pois perderam qualquer pudor. Mas a maconha está liberada, até 40 gramas, para viabilizar a "profissão" do "aviãozinho", o traficante de pequeno porte crucial para o negócio gigantesco do crime organizado. Os policiais precisam andar com balanças no lugar das armas agora...

Para fechar com chave de ouro o esquete, Alexandre de Moraes cassou a sentença que apontou erro seu e ainda mandou o CNJ investigar o juiz que "desafiou" o STF. Monarquia absolutista é assim mesmo, ora bolas. E o senador Rodrigo Pacheco observa a tudo feito um bicho preguiça, levando dois meses para dizer "discordo", e depois retornar ao descanso, provavelmente hibernando ao lado de ursos polares. É nossa democracia pujante!

Que me perdoem os iludidos e alienados, mas quem leva essa coisa toda a sério precisa cair na real o quanto antes. Vou continuar minha luta, claro, agora como um americano, protegido pelas leis de um país mais sério – ainda que em crise institucional, moral e econômica. A esquerda americana vem trabalhando com muito afinco para destruir a América, transformá-la numa típica republiqueta latino-americana. Espero que nunca consigam lograr êxito. Meu sonho era fazer do Brasil um país mais parecido com os Estados Unidos, não o contrário...

Rodrigo Constantino

Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal. **Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.

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