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Boa parte da mídia insiste em ver Donald Trump apenas como um fanfarrão, um populista ou um maluco. Sua guerra tarifária assustou os mercados, economistas liberais e os defensores da "ordem mundial" pós-guerra. O que muitos falham em notar é que Trump veio mesmo chacoalhar essa "ordem", pois ela precisava de uma grande reforma. Trump é disruptivo para poder reequilibrar as forças geopolíticas e sanar problemas insustentáveis da economia americana.
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Um ótimo resumo disso foi publicado pela conta The Long View no X, com o título "The Great Rebalancing: Why Everything Feels Like It's Breaking - and Why Thats the Point". Ele começa com uma frase de Ayn Rand na epígrafe: "Você pode ignorar a realidade, mas não pode ignorar as consequências de ignorar a realidade". O modelo pós-guerra tinha muitas inconsistências, e Trump simboliza uma correção de rumo, não o colapso desse sistema.
De forma simplificada, esse modelo foi calcado em mão de obra barata, crédito ilimitado, todos delegando aos americanos os investimentos em defesa, e transferência das indústrias para a Ásia. Esse modelo não é sustentável e isso ficou ainda mais claro na pandemia. Não quer dizer que é preciso abolir a globalização, as cadeias globais produtivas interligadas, tampouco cada país buscar sua autossuficiência em tudo, mas, sim, corrigir excessos, que é o que Trump propõe.
O Ocidente precisa se lembrar do custo de sua relativa segurança, do preço da liberdade. Ajustes são sempre tensos, ainda que necessários. Esses países terão de investir mais em energia 'suja', ofendendo uma elite que colocou o ambientalismo como novo Deus
A queda da indústria, as dívidas crescentes (e impagáveis), o descaso militar, a dependência energética de países hostis, a imigração desenfreada, a fragmentação doméstica e a enorme dependência de adversários geopolíticos colocaram Estados Unidos e Europa numa rota de colapso. Se nada for feito, aí sim poderemos ter uma decadência sem precedentes.
Muitos liberais ignoraram esses efeitos por focar apenas no aspecto econômico: China mandando produtos baratos para a Amazon, enquanto se fortalecia com uma política externa agressiva e os americanos acumulavam dívidas de dezenas de trilhões. Alguns democratas tinham esperança de que permitir a China na OMC faria com que a abertura política se seguisse da econômica, mas a China segue uma perigosa ditadura comunista, e ignora as regras da OMC. É um engodo! O autor argumenta:
O Grande Reequilíbrio não é um retorno ao nacionalismo ou o fim da globalização. É a sua maturação — um esforço para alinhar valores com resiliência e estratégia com sustentabilidade. O que vem a seguir pode ser mais confuso e lento, mas será mais honesto. E pode, com o tempo, provar ser mais estável.
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O Ocidente precisa se lembrar do custo de sua relativa segurança, do preço da liberdade. Ajustes, como os feitos por Trump, são sempre tensos, ainda que necessários. Esses países terão de investir mais em energia "suja", ofendendo uma elite que colocou o ambientalismo como novo Deus, um luxo de mimados; terão de controlar melhor suas fronteiras, pois a resposta inevitável do povo a esta invasão islâmica (não há outro termo) será votar mais e mais na direita nacionalista; terão de fazer reformas para conter a hipertrofia estatal; terão de usar parte dos recursos escassos para investir em sua defesa, sem depender totalmente dos americanos.
Se esse for o resultado das estratégias de Trump, teremos um mundo melhor, mais seguro e sustentável à frente. Resta saber se a Europa vai conseguir reverter seu atual curso de colapso a tempo de evitar o pior.





