Um dos primeiros economistas de renome a declarar apoio ao então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições presidenciais, em 2021, o ex-presidente do BC Arminio Fraga vê hoje com pessimismo um governo que "comete velhos erros".
Entre os enganos apontados estão investidas sobre a governança de empresas estatais, como a Petrobras, tentativa de interferir em empresas privadas, como a Vale, iniciativas para ressuscitar a indústria naval e renacionalizar refinarias.
Dois erros, porém, o preocupam mais: o desequilíbrio nas contas públicas, que eleva o endividamento brasileiro (a dívida bruta do país calculada pelo BC foi a 76% do PIB em abril, maior índice desde abril de 2022), e a pressão sobre as decisões do Banco Central em relação à taxa básica de juros (Selic), hoje em 10,5% ao ano.
Os três primeiros parágrafos acima foram retirados de uma entrevista concedida por Arminio Fraga para a Folha de SP. Os alertas do economista são pertinentes, claro, mas a questão que trago para a reflexão é outra: Arminio não fazia mesmo ideia de que Lula seria assim? Ele esperava um presidente moderado e com responsabilidade fiscal, apesar de tudo que sempre disse e que fez quando estava no poder?
Com base em que Arminio acreditava neste Lula com um bom senso que nunca demonstrou? Se acreditava mesmo, óbvio. Pois há sempre uma alternativa. E eis o ponto central: Arminio, assim como inúmeros outros tucanos de mercado, economistas "liberais" e "farialimers", resolveu fazer o L para "salvar a democracia", emprestando sua reputação para recolocar o ladrão de volta à cena do crime, como diria Alckmin.
Ora, gestores multimilionários, que ficaram ricos por suas análises de mercado, mostraram-se mesmo incapazes de enxergar o óbvio? Afinal, não era preciso ser profeta ou ter bola de cristal para saber que Lula voltaria ainda mais raivoso, radical e irresponsável. Eu cantei essa pedra junto a milhões de brasileiros que não são donos de renomadas gestoras. Fomos mais sábios, então? Ou é outra a explicação?
Talvez seja um fator psicológico, como o Trump Derangement Syndrome nos Estados Unidos, aquela dissonância cognitiva que impede o sujeito acometido pela doença de raciocinar seriamente a respeito de uma figura que passou a odiar com seu fígado. Sabemos que Bolsonaro causou o mesmo tipo de fenômeno em terras tupiniquins, especialmente em tucanos "isentões" e "limpinhos".
Mas para tudo há um limite - ou deveria haver. Bolsonaro tinha Paulo Guedes no comando da economia, com sua equipe liberal e técnica. Do outro lado, Lula e sua trupe de insanos demagogos dispostos a turbinar ainda mais a hipertrofia estatal e gastar como se não houvesse amanhã. Como que gente do mercado achou melhor apostar no PT uma vez mais, com um histórico tão recente de desgraça?
A conclusão é inapelável: ou essa turma é muito limitada em suas análises, apesar de seus milhões nas contas bancárias, ou são sonsos e cínicos, agem de forma míope de olho em ganhos de curto prazo, e não ligam muito para o país. De qualquer forma, fica muito complicado manter qualquer respeito por figuras como Arminio, Elena Landau, Pedro Malan, Persio Arida, Henrique Meirelles e João Amoedo, que agora tecem críticas pontuais aos "graves erros" do desgoverno que ajudaram a eleger para destruir de vez com o Brasil.
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