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O estado de Santa Catarina terá, a partir de 2027, quatro deputados federais e quatro deputados estaduais a mais do que na legislatura atual. Resultado do projeto aprovado no Congresso Nacional que aumenta o número de cadeiras para adequar a representatividade dos estados de acordo com a população e que deve dar ainda mais espaço à direita no estado mais conservador do Brasil.
Caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancione o projeto, serão 20 cadeiras catarinenses na Câmara dos Deputados — hoje são 16 — e 44 na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) — são 40 atualmente. O estado é o que terá maior aumento, ao lado do Pará, seguindo os dados obtidos pelo Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Santa Catarina tem sido um expoente conservador. Em 2022, por exemplo, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) venceu Lula no segundo turno com 69,27% dos votos válidos. O governador Jorginho Mello (PL) foi eleito, também em segundo turno, contra Décio Lima (PT) com 70,69% dos votos válidos, tornando-se um dos principais aliados de Bolsonaro.
A família do ex-presidente, aliás, tem reforçado o espaço para o conservadorismo no estado, mas também do próprio bolsonarismo. Tanto que o filho mais novo de Bolsonaro, Jair Renan (PL), foi eleito vereador de Balneário Camboriú em sua primeira tentativa. Carlos Bolsonaro (PL), vereador no Rio de Janeiro há 25 anos, inclusive, cogita concorrer ao Senado por Santa Catarina no ano que vem.
“Santa Catarina foi o estado que mais aderiu ao movimento à direita. Há outros movimentos saindo do bolsonarismo e já se destacando. Isso acaba sendo um cenário positivo para a direita com quatro novas vagas”, opina o professor de Administração Pública e pesquisador de Cultura Política da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) Daniel Moraes Pinheiro.
Essa característica de Santa Catarina vem sendo aproveitada pela direita, inclusive com a realização da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC) no ano passado, em Balneário Camboriú. Além da família Bolsonaro, o presidente argentino Javier Milei marcou presença, reforçando um movimento antipetista no estado, com adesão forte de empresários no enfrentamento ao governo Lula, como Emílio Dalçoquio, do setor de transportes, e Luciano Hang, dono da Havan.
“Santa Catarina é um estado com um empresariado que declara votos, que expressa questões liberais na economia e conservadora nos valores. Isso ajuda a avançar a direita nos momentos de eleições”, explica Pinheiro.
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O último Censo, que baseou o aumento de cadeiras para alguns estados na Câmara dos Deputados, mostrou que Santa Catarina recebeu 503.580 moradores vindos de outras unidades da federação entre 2017 e 2022, fechando com um saldo positivo de 354,3 mil pessoas — o aumento populacional foi de 4,66%.
O saldo é o maior entre todos os estados brasileiros, sendo que os vizinhos - Rio Grande do Sul e Paraná - lideraram o movimento migratório para Santa Catarina:
- Rio Grande do Sul: 134.854
- Paraná: 96.110
- São Paulo: 62.414
- Pará: 44.901
- Bahia: 20.285
- Rio de Janeiro: 17.027
- Maranhão: 16.085
- Minas Gerais: 12.424
- Pernambuco: 11.199
- Amazonas: 9.851
Paraná e Rio Grande do Sul representam quase metade (46%) do fluxo para Santa Catarina, exatamente dois estados onde a direita tem se fortalecido nos últimos anos, com pouco espaço para candidatos de esquerda. Isso não significa, necessariamente, que os votos da direita devam se transferir de forma automática, mas fortalece o cenário conservador como um todo.
“SC é um estado com empresariado que declara votos, que expressa questões liberais na economia e conservadora nos valores. Isso ajuda a avançar a direita nas eleições.
Pesquisador de Cultura Política da Udesc Daniel Moraes Pinheiro
“Muitos que se mudam para Santa Catarina têm um perfil econômico agressivo que dialoga com o movimento conservador. Nem sempre transferem o título rapidamente. Eles não votam, mas pressionam o cenário a favor da direita”, analisa o professor Pinheiro, da Udesc.
O aumento populacional catarinense em decorrência da migração interestadual já teve repercussões no cenário político local e deve ser um dos ingredientes para as eleições em 2026. A deputada federal Júlia Zanatta (PL), uma das representantes conservadoras mais ferrenhas no estado, disse que pessoas de outros lugares “não podem vir para cá e votar na esquerda porque o nosso estado, bem ou mal, sempre se manteve longe da esquerda.”
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