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Entre os arranha-céus que dominam a região beira-mar de Balneário Camboriú (SC), uma pequena igrejinha luterana de paredes brancas resiste na área que possui o metro quadrado mais caro do Brasil, segundo o Índice FipeZap. A Capela da Paz — ou igrejinha da 2.300, como é carinhosamente chamada pelos moradores — foi tombada como patrimônio histórico, cultural e arquitetônico do município em 1998 e se tornou um símbolo da badalada cidade catarinense.
Incorporada a um prédio de luxo na rua 2.300, está a igrejinha de 8,80 metros de comprimento por 6 metros de largura, que nasceu em um tempo em que Balneário Camboriú ainda era conhecido apenas como "praia de Camboriú".
Em 1956, a luterana Berty Jensen começou a escrever a história da Capela da Paz ao sair de Curitiba (PR) com destino ao litoral catarinense. Naquele tempo, os fiéis de Balneário Camboriú precisavam se deslocar até a cidade vizinha de Itajaí para participar de cultos que aconteciam apenas uma vez por mês.
Os primeiros encontros dos luteranos passaram a ocorrer na sala da própria casa de Jensen. Com o espaço ficando cada vez menor, o pastor Lindolfo Weingärtne, de Brusque, foi quem percebeu a necessidade de construir uma capela. Jensen bateu de porta em porta pedindo apoio para a construção da igrejinha, que passou a servir como ponto de encontro de moradores e veranistas luteranos.
Ao lado do pedreiro Paulo Tesch, que também era luterano, Jensen ajudou a começar a construção. Em apenas sete semanas, a igrejinha ganhou forma e, em 22 de janeiro de 1961, abriu suas portas para a comunidade. Após 64 anos, a igrejinha de Balneário Camboriú ainda guarda uma cruz com Jesus Cristo esculpida em pau-marfim e canela-imbúia pelo artista Alvino Ziebarth, de São Bento do Sul.
Primeiro templo luterano se tornou atrativo turístico e histórico-cultural
A Capela da Paz foi o primeiro templo da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Balneário Camboriú. Em 2012, a empresa Ciaplan comprou a igrejinha, restaurou a construção e a incorporou ao condomínio do prédio. O condomínio administra o espaço, que hoje funciona como área de visitação e para celebrações — especialmente casamentos e batizados —, além de tê-lo transformado em um atrativo turístico da cidade.
O espaço comporta 40 pessoas sentadas e tem capacidade máxima de 60 pessoas. A capela fica aberta ao público de segunda a sexta-feira das 14h às 18h. A comunidade luterana ainda tem acesso e pode agendar celebrações, mas não detém mais a propriedade do local.
O diretor-presidente da Fundação Cultural de Balneário Camboriú, Allan Müller Schroeder, observa que a capela é prova de que a modernidade e a tradição podem caminhar juntas. "Ela mostra que é possível a convivência entre urbanização, turismo e aspectos histórico-culturais", afirma.

Igrejinha em Balneário Camboriú revela desafio da preservação
De acordo com Schroeder, a preservação de patrimônios históricos diante da pressão imobiliária e da verticalização da cidade é um desafio. Ele cita que a maioria dos patrimônios materiais da cidade pertence a particulares e, por isso, fica mais suscetíveis ao mercado.
Porém, a cidade tem mecanismos legais para buscar essa proteção, por meio de legislações específicas. O Plano Diretor, que está em fase de revisão, é um deles. "Um caminho é mostrar que construtoras podem ser parceiras deste processo. A Capela da Paz é um exemplo disso. A construtora construiu o prédio, mas custeou o restauro, e ainda transformou a igrejinha numa paisagem icônica da cidade, atraindo visitantes".

O contraste não passa despercebido até para quem está acostumado a vender o luxo dos arranha-céus diariamente. "Mais do que um templo religioso, a igrejinha se tornou um ponto turístico e afetivo para moradores e visitantes. É um local que guarda memórias em meio ao dinamismo urbano", diz o especialista em mercado imobiliário de luxo, Bruno Cassola.
Para ele, a cena da capela cercada por edifícios espelhados resume a alma de Balneário Camboriú. Segundo Cassola, a cidade não apaga suas raízes, mesmo enquanto cresce. "Esse diálogo entre passado e presente mostra como a construção civil, além de erguer novas obras, também cumpre um papel fundamental na restauração e na valorização da identidade local", cita.
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