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Bolsa de Valores
Sede da B3, em São Paulo| Foto: GUSTAVO SCATENA/Divulgação B3

São frequentes os rumores sobre o surgimento de novas bolsas concorrentes à B3, como ocorre em países como os Estados Unidos, que possui uma série de companhias atuando na negociação de ações, contratos e derivativos. O Brasil mesmo, antes dos anos 2000, possuía mais de uma bolsa de valores, como a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, mas o mercado foi se afunilando até que a fusão entre a BM&FBovespa com a Cetip, em 2017, tornou a B3 uma das maiores bolsas de valores do mundo. Em 2021, esses rumores sobre o surgimento de novas bolsas voltaram com força e derrubaram as ações da B3. Na época, devido à saída de José Berenguer, presidente do Banco XP, do Conselho de Administração da B3, a possibilidade de a XP Investimentos entrar com força nesse mercado aumentou. O BTG Pactual também era visto como um possível novo player no Brasil.

Desde então, no entanto, nem a XP Investimentos e nem o BTG Pactual deixaram de ser grandes clientes da B3 para se tornar concorrentes, mas outras empresas vêm surgindo e ganhando fatias significativas do mercado de negociação de ativos mobiliários, atuando em funções que também são exercidas pela B3. É o caso da CSD BR, fundada em 2018 por Edivar Queiroz Filho, físico que percebeu que poderia criar uma empresa que atuasse na parte de registro de ativos e valores mobiliários, o que desde a década de 1980 era feito pela Cetip e posteriormente absorvido pela B3.

A empresa vem crescendo a uma velocidade significativa, saindo de R$ 15 bilhões em volume de ativos registrados no início de 2022 e encerrando o ano com R$ 240 bilhões. As maiores frentes de crescimento foram valores mobiliários, NDFs (contratos a termo de moedas que são negociados em mercado de balcão e fixam a taxa de câmbio futura) e, principalmente, o mercado de Swaps (troca de valores mobiliários entre duas partes com valor de referência e prazo fixados). A expectativa é que em 2023 o volume se triplicará.

"O nosso mote de competição é oferecer um serviço melhor. Conseguimos ser mais baratos porque temos uma infraestrutura bem mais moderna que nossos concorrentes, o que em geral está ligado a sistemas mais modernos, rápidos e baratos e de manutenção mais fácil", diz Queiroz, que esclarece que mais que "roubar clientes da B3", as soluções visam criar um mercado novo. "Trazemos algumas tecnologias adicionais que permitem a viabilização de certas operações que seriam muito caras e por isso não seriam feitas, como um swap longo com muito fluxo de caixa. Viabilizamos operações no mercado que não se faziam no passado, na parte de registro de derivativos mais complexos", diz ele.

Primeiros passos para o surgimento de uma nova bolsa de valores

Uma das principais vantagens que a B3 tem no mercado brasileiro é a detenção de dados, uma vez que ela é a empresa que realiza todas as etapas de negociação de um ativo, como compensação, liquidação, depósito e registro das principais classes de ativos, além de deter e administrar os sistemas de negociação. Para novas empresas entrarem nesse mercado e se tornarem uma nova bolsa, elas primeiro precisam começar a colher esses dados e é isso que a CSD BR fez ao começar a atuar na pós negociação de compra e venda de ativos. "Você precisa construir essas etapas para não depender da bolsa", diz Edivar Queiroz.

A empresa agora visa entrar na negociação de blocos a partir de 2024, tendo já obtido uma licença para essa atuação. Isso foi possível a partir da Resolução 135 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), de outubro de 2022, que passou a "permitir a constituição de segmentos ou procedimentos de negociação específicos para a realização de operações com grandes lotes a serem cursadas nos mercados de bolsa e de balcão".

Na prática, isso significa a negociação de ativos em grande volume, acima de R$ 8,5 milhões, focados em clientes institucionais. Como a CSD BR tem entre os acionistas a Chicago Board Options Exchange (CBOE), a bolsa de valores de Chicago, que é a maior plataforma de negociação em bloco do mundo, existe grandes de chances de haver um intercâmbio de tecnologia para atuar nesse segmento.

Instituições depositárias

Outra empresa que vem se destacando na atuação de um nicho que é realizado pela B3 é a Laqus, antiga Mark 2 Market, que opera especificamente na renda fixa, como depositária na parte do registro, liquidação e custódia de CRAs, CRIs, FIDICs, debêntures e principalmente notas comerciais, segmento no qual passou a trabalhar a partir de 2021 a partir de uma regulamentação via lei. Desde 2022, também após o surgimento de uma regulamentação, a empresa atua com Certificados de Recebíveis.

A Laqus iniciou as atividades em junho de 2021 e hoje possui R$ 7 bilhões em depósito, principalmente de nota comercial, com mais de 10 bancos, 50 fundos e cerca de 150 emissores como clientes. "É um volume pequeno em comparação com a B3, mas significativo tendo em vista o crescimento no curto prazo. O ticket médio dessas operações também é bastante baixo, de R$ 10 milhões a R$ 12 milhões, o que significa que nossa proposta de simplificar o acesso e a jornada no mercado de capitais está acontecendo", diz Luana Monteiro, sócia-diretora da Laqus, que explica que um dos principais objetivos da empresa é facilitar todo o controle da emissão de dívidas, do pré ao pós-emissão.

Ampliação de produtos pela B3

A B3, por sua vez, que detém mais de 97% de market share do mercado de balcão brasileiro e, mesmo diante da alta de juros, teve em 2022 um crescimento no volume médio diário negociado (ADTV), chegando a R$ 30 bilhões, vem diversificando a oferta de produtos. À Gazeta do Povo, Claudia Hoshiba, diretora de M&A, Parcerias e Planejamento Estratégico da B3, afirmou que mesmo com a entrada de novos competidores principalmente no mercado de balcão ou registros, a empresa não viu uma perda de market share relevante.

"A competição fez com que a gente quisesse mais e mais pensar numa expansão e ir além do pós-negociação, ou seja, oferecer produtos e serviços diferenciados para esse mercado. Isso é bom para a gente, sempre tento estimular a nossa companhia a pensar que tem alguém muito mais forte e correndo muito mais rápido que nós, porque isso faz com que a gente queira inovar e fazer diferente", diz Claudia. "Isso fez com que a B3 reestruturasse por exemplo o time de produtos e clientes, pra que ficasse mais e mais claro esse foco em criar produtos customizados para o que o cliente quer".

Uma das principais áreas de investimento da B3 é em solução de dados, tendo no final de 2021 adquirido a empresa Neoway, de plataforma de BigData, em uma operação no valor de R$ 1,5 bilhão. Já em novembro do ano passado foi feita a aquisição da Neurotech, especializada em criação de sistemas e inteligência artificial, além de machine learning e big data, no valor de R$ 1 bilhão. "Temos deixado muito claro na companhia o que a gente faz bem e que a gente tem que fazer melhor na estratégia de diversificação, ou seja, ter mais completude nos serviços oferecidos. Foram centenas de milhões em investimentos para termos mais participações em tecnologia e serviço em tecnologia", diz Claudia Hoshiba. "Temos um volume muito grande de entrada de pessoas físicas. A gente ganha muito mais aumentando o tamanho dessa pizza, então queremos que estimule a entrada de mais pessoas físicas e investidores offshore na bolsa. Isso é bom para o mercado de capitais", complementa.

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