Nas idas e vindas da política brasileira, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), anunciou na semana passada o ex-ministro dos governos petistas Aldo Rebelo (PDT) como novo secretário municipal de Relações Internacionais. O convite a Rebelo foi feito após a saída de Marta Suplicy, que até então ocupava a pasta e deixou a administração paulistana para ser candidata a vice-prefeita na chapa de oposição a Nunes, encabeçada por Guilherme Boulos (Psol), que tem o apoio do presidente Lula (PT).
Para assumir o cargo em São Paulo, Rebelo recebeu o aval do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), cujo partido declarou apoio à reeleição de Nunes nas eleições municipais de 2024.
Enquanto Marta retorna ao Partido dos Trabalhadores após desavenças, críticas, rompimentos e até um voto pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT) no currículo político, o substituto Aldo Rebelo parece seguir sem qualquer perspectiva de reconciliação com o PT, depois de ter sido ministro das gestões de Lula e Dilma. O ex-integrante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) critica a esquerda brasileira e, principalmente, o lulismo desde sua saída da sigla, em 2017.
“A questão nacional passou a ter peso pequeno na agenda das esquerdas. As agendas identitárias e o multiculturalismo passaram a ter muito mais importância. Isso me levou a um afastamento dessa esquerda moderna, do politicamente correto”, declarou em entrevista à BBC Brasil, em 2018.
Na carreira política, Aldo Rebelo foi eleito seis vezes para ocupar a cadeira de deputado federal na Câmara e chegou a presidir a Casa entre 2005 e 2007, durante o escândalo do Mensalão no governo Lula. Nas administrações presidenciais do PT, ele foi ministro das Relações Institucionais (2004-2005), dos Esportes (2011-2015), da Ciência e Tecnologia (2015) e da Defesa (2015-2016).
Marta-Rebelo: chapa foi derrotada por Kassab em São Paulo
Com apoio de Lula, Marta Suplicy e Aldo Rebelo formaram a chapa de esquerda na disputa pela prefeitura de São Paulo nas eleições municipais de 2008, quando Gilberto Kassab, que então estava filiado ao DEM, buscava a reeleição após assumir o cargo de prefeito com a renúncia de José Serra (PSDB).
O tucano deixou o Executivo municipal para vencer as eleições em 2006 e assumir o governo do estado no ano seguinte. Apesar do apoio presidencial do líder petista, a dupla Marta-Rebelo foi derrotada no segundo turno pelo então prefeito Kassab, que teve 61% dos votos válidos.
Copa do Mundo colocou Aldo Rebelo e Boulos em lados opostos
Aldo Rebelo também é um opositor declarado de Boulos, apesar do apoio do PDT, liderado por Carlos Lupi, atual ministro da Previdência Social de Lula e velho aliado do PT. O novo secretário municipal de São Paulo não esquece do movimento “Não vai ter Copa”, que tinha Boulos como um dos líderes das ações em protesto contra a realização do Mundial no Brasil, no ano de 2014.
À época, Rebelo ocupava o cargo de ministro dos Esportes no governo Dilma e foi um dos responsáveis pela organização da Copa do Mundo no país. Antes do Mundial, Rebelo afirmou que não existia “clima” para protestos violentos durante o evento e que as manifestações não teriam apoio da população. Ao contrário, manifestantes chegaram a ser escoltados pela polícia para não sofrer agressões.
O então coordenador da Copa e ministro também declarou que “Copa não ganha eleição e nem voto” e alfinetou o movimento de Boulos no final do Mundial, depois da superação do “estado de espírito de pessimismo, de descrença e de desconfiança”: “Em Manaus [uma das cidades-sede], as cobras se recolheram durante a Copa e ninguém foi mordido”, provocou.
No Partido Comunista, Aldo Rebelo chefiou Ministério da Defesa
Nascido em 1956 na cidade de Viçosa (AL), o jornalista Aldo Rebelo começou a trabalhar no diretório do PCdoB no final da década de 1970, período em que o partido atuava na clandestinidade por causa da ditadura militar. Em 1980, ele foi eleito presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).
No ano seguinte, Rebelo entrou no PMDB e só retornaria ao Partido Comunista do Brasil em 1985, quando a sigla foi legalizada durante o processo de redemocratização do país. Em 1990, foi eleito deputado federal pela primeira vez e integrou a comissão que investigou Fernando Collor de Mello durante o processo que terminou com o impeachment do então presidente da República.
Apesar da filiação por décadas ao principal partido comunista do país, ele foi ministro da Defesa no governo Dilma Rousseff a partir de 2015 e só deixou o cargo ligado às Forças Armadas no ano seguinte, após o processo de impeachment da presidente petista. Após deixar o PCdoB em 2017, Rebelo passou pelo PSD e pelo Solidariedade antes de se filiar ao PDT, em 2022, para concorrer ao Senado. Para assumir o cargo na gestão do prefeito paulistano, Ricardo Nunes, ele anunciou que deve pedir licença do atual partido.
“Esquerda raiz”: Rebelo acena para Bolsonaro em entrevistas
A defesa da soberania da Amazônia e a narrativa “fantasiosa” do 8 de janeiro são exemplos de como Aldo Rebelo acena para algumas posições de Jair Bolsonaro, apesar de ainda se considerar integrante de uma antiga esquerda “nacionalista e desenvolvimentista”.
Ponto sensível na gestão Bolsonaro, a política ambiental da Amazônia foi defendida por Rebelo, apesar da enxurrada de críticas dos partidos de esquerda voltadas para o ex-ministro Ricardo Salles (PL). “O governo Bolsonaro aproveita algumas coisas simbólicas do interesse nacional, como a Amazônia. A defesa da Amazônia contra interferência dos governos estrangeiros é uma coisa certa que ele faz. Se ele silencia, prevalece o interesse estrangeiro de tutelar a Amazônia. Os governos do FHC e do Lula foram muito coniventes com essas interferências externas. O governo Bolsonaro resiste a isso”, declarou Rebelo ao jornal O Globo, em 2020. Na mesma entrevista, ele classificou o governo Bolsonaro como uma “tragédia”.
Na última sexta-feira (19), ele lembrou que o ex-presidente apoiou o nome dele como ministro da Defesa, apesar de ser integrante do PCdoB na época. “Bolsonaro me apoiou para o Ministério da Defesa e votou em mim para presidente da Câmara. A política é muito heterogênea e comporta alianças mais amplas. Afinidades são diferentes de alianças”, disse em entrevista à CNN Brasil. “A esquerda abandonou a ideologia e abraçou a biologia. Sou de uma esquerda nacionalista e desenvolvimentista. A esquerda de hoje abandonou a ideologia e abraçou a questão de gênero e cor da pele”, emendou.
No último dia 8 de janeiro, que marcou um ano das manifestações em Brasília, Rebelo chamou de “fantasia” o discurso de tentativa de golpe que beneficia, na avaliação dele, a polarização entre os governos Lula e Bolsonaro. Além disso, ele compara os manifestantes com “baderneiros” de movimentos de esquerda, como o MST.
"Criou-se uma fantasia para legitimar esse sentimento que tem norteado a política nos últimos anos. É óbvio que aquela baderna foi um ato irresponsável e precisa de punição exemplar para os envolvidos. Mas atribuir uma tentativa de golpe àquele bando de baderneiros é uma desmoralização da instituição do Estado“, opinou o ex-ministro de Lula e Dilma em entrevista ao Poder360.
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