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Enrico Misasi, ex-deputado federal e secretário de Relações Institucionais da Prefeitura de São Paulo
Enrico Misasi, ex-deputado federal e secretário de Relações Institucionais da Prefeitura de São Paulo| Foto: Divulgação Prefeitura de São Paulo

Ex-deputado federal pelo MBD em São Paulo, o advogado Enrico Misasi, de 28 anos, tentou se reeleger no último pleito, mas por conta do coeficiente eleitoral os 77.949 votos não foram suficientes para garantir a cadeira no Congresso. Há pouco mais de um mês, no entanto, ele assumiu a Secretaria de Relações Institucionais da Prefeitura de São Paulo à convite do prefeito Ricardo Nunes, um dos responsáveis pela sua ida ao MDB após deixar o Partido Verde.

Os dois se conheceram há cerca de oito anos, quando o então estudante de Direito da USP foi à Câmara dos Vereadores fazer um trabalho para discutir o Plano Municipal de Educação e se surpreendeu com a forma pela qual o então vereador o recebeu. "O Ricardo foi a exceção porque nos tratou como se fôssemos representantes altos de qualquer instituição", diz Misasi.

À frente da secretaria, Enrico é responsável pela interlocução da prefeitura de São Paulo com instituições como o governo do estado de São Paulo, governo federal, Congresso Nacional, Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e entidades e confederações representativas e relevantes na cidade. Também cuida do relacionamento com as cidades da região metropolitana de São Paulo e de uma coordenadoria de governo aberto, responsável por práticas de governo aberto, transparência, contability e participação social da prefeitura de São Paulo.

À Gazeta do Povo, Enrico contou sobre os principais focos da pasta e sua visão sobre os candidatos para a Prefeitura de São Paulo e a corrida eleitoral que deve se intensificar no ano que vem.

Como está o contato da pasta com o governo federal, há possibilidade de envio de verbas para obras sociais?

O MDB, que é o partido do Ricardo Nunes, tem três ministérios no governo federal. O partido compõe o governo federal e tem uma interlocução com ministérios que são importantíssimos, Planejamento, Cidades e Transportes. O relacionamento não é tão próximo como com o governo estadual, porque o Ricardo Nunes e o Tarcísio de Freitas têm um relacionamento até de afinidade pessoal e se identificam em ideologia política e valores. O governo do estado e a prefeitura de São Paulo têm necessidades muito prementes e que são corresponsáveis, a exemplo da Cracolândia, que o Tarcísio designou o próprio vice-governador para ser representante nessas questões do centro da cidade. A cooperação e a unidade estratégica de atuação com o governo do estado está bem consolidada. Embora o MDB faça parte do governo federal, há algumas diferenças que não impedem um bom relacionamento institucional, mas ele está se desenhando até porque o governo federal está com dois meses e pouco e ainda tem pessoas sendo nomeadas.

As verbas do governo federal para a cidade de São Paulo devem aumentar ou diminuir?

Minha missão é aumentar. Nós fazemos uma interação à margem do relacionamento ideológico, São Paulo precisa ser olhada com o peso que tem. As grandes iniciativas, os grandes gargalos, precisam ter um olhar do governo estadual e do governo federal independente de quem seja, porque é o centro econômico-financeiro do país, a cidade que mais gera emprego, tudo conflui para cá. Nossa missão é que tenhamos o amparo do governo estadual e do governo federal para essas prioridades que a gestão tem para o município.

A impressão é que o governo Lula é mais gastador que o governo Bolsonaro e é mais aberto às alianças com partidos diferentes...

De fato, o governo federal tem um perfil menos fiscalista rigoroso ortodoxo e mais gastador, e isso pode ser fruto do que foi feito antes, de saneamento das contas públicas. Também tem sido demonstrado ao menos uma certa maturidade política para lidar com as outras autoridades, deixando um pouco a divergência ideológica de lado e estabelecendo as parcerias necessárias, como foi o caso do Tarcísio à nível de São Sebastião. Isso é a normalidade, o problema é quando acontece o contrário, quando as divergências ideológicas impedem parcerias pelo bem comum e tudo fica tudo contaminado por uma briga política. Quando o PT anuncia pelo menos um alinhamento ao Boulos, que se diz candidato à prefeito, aparece o momento da divergência política, mas isso será no ano que vem. O momento eleitoral é o momento eleitoral e cada um faz a sua opção. O Ricardo vai mostrar o que tem sido feito na sua gestão para ser avaliado pela população de São Paulo, mas até lá essa interação política à nível de gestão dos problemas de São Paulo precisa ser feita com maturidade e com responsabilidade.

Como o senhor prevê as alianças de esquerda em torno da candidatura do Boulos?

O Boulos representa ao PT a mesma ameaça que o Bolsonaro representa para uma direita que se queira mais moderada. Na minha visão, o Boulos só representa uma ameaça ao PT. Embora haja uma manifestação de interesse e uma certa unidade em torno do Boulos, não sei como isso vai ficar e se o PT vai entender que é estrategicamente importante para o partido apoiar o Boulos, o PDT ou o PSB.

Não estamos nos preocupando muito com o que vai acontecer, construímos um relacionamento político com diversas forças, do PSOL ao PL, essa é a orientação do Ricardo.

Não é para fazermos filtro político porque o momento da política chegará, o processo eleitoral é no ano que vem. Até lá temos uma cidade que é um país para gerir, com um monte de desafios, e todo mundo que quiser e puder ajudar vai ser bem vindo. As alianças políticas vão ser consequência do trabalho. Temos interesse em ter interlocução com o maior número possível de partidos, forças políticas e lideranças que queiram bem São Paulo.

Foi impressionante a votação que o Boulos teve na última eleição...

Uma coisa é eleição proporcional e outra é majoritária. Quando se vota para deputado, há um componente ideológico muito mais forte que quando se vota para prefeito. Foi uma votação muito extraordinária, assim como de outros players. Política é que nem nuvem, em dez minutos tudo muda, por isso a orientação de agora é trabalhar e entregar o melhor possível. Por exemplo, pretendemos entregar mais de 45 mil unidades habitacionais até o fim da gestão, a gestão do Haddad entregou 5 mil. Estamos fazendo o maior recapeamento da história, a fila da creche zerou, é uma herança da gestão Bruno Covas e Ricardo Nunes que será colocada no momento eleitoral. Vejo todos empenhados porque temos as condições para fazer, principalmente depois da negociação que o Ricardo fez, que para mim foi um dos maiores golaços da gestão, com o governo Bolsonaro. Ele encerrou o imbróglio do Campo de Marte. Até essa negociação, a prefeitura de São Paulo pagava para o governo federal R$ 290 milhões por mês. O Ricardo assumiu isso no peito, articulou com o Bolsonaro, fez a negociação e acabou com essa dívida, então aumentou a capacidade de investimento da prefeitura.

Como analisa o derretimento do PSDB em São Paulo e a possibilidade de o PSD de Kassab assumir este protagonismo?

O derretimento do PSDB é um fato numérico e incontestável. Depois de 30 anos no governo do estado, o partido perdeu uma eleição e se enfraqueceu muito à nível nacional e de São Paulo. Agora, com a presidência do Eduardo Leite e o papel de Paulinho Serra, de Santo André, o partido tem tudo para dar uma arejada e repensar o posicionamento político e estratégico. Com o grau de protagonismo que o Kassab tem na articulação política do Tarcísio, é muito natural que o PSD cresça, mas não só ele. O MDB também vai crescer, essa faixa de centro direita vai ser ocupada. E até algumas franjas da centro esquerda, é natural que todos cresçam porque o Kassab é um político extremamente competente que está com um poder de articulação e de construção de candidaturas para o ano que vem nas diversas cidades.

É certo que o governador Tarcísio de Freitas apoiará o Ricardo Nunes nas próximas eleições?

O Tarcísio tem reiterado publicamente, tem dito repetidas vezes, que o apoia não só à nível do estado, como também a uma eventual candidatura para o ano que vem.

Mais algum partido deve apoiá-lo?

Temos conversas com vários partidos que até compõem e têm espaço no governo da cidade de São Paulo. É muito precoce falar de aliança política para o ano que vem, a verdade é que se começa a afunilar estas discussões mais para frente. Por enquanto temos parcerias de governo e faz sentido que esses partidos estejam em uma construção no ano que vem. Podemos, PL, Republicanos, MDB, PSDB, PP estão nos ajudando a governar a cidade e faz todo sentido que estejam no projeto do Ricardo, caso isso se confirme. Mas de fato ainda não estamos no tempo de uma conversa política, acabamos de sair de uma eleição.

Como o senhor vê o papel do João Dória nas próximas eleições?

Olhando de fora, acredito que ele sempre terá uma entrega de corpo e alma para a iniciativa privada, para o LIDE e suas iniciativas como empresário. Ele saiu muito machucado e em certo sentido desidratado do processo político do ano passado. Mas é uma figura que merece todo respeito e reverência por ter sido prefeito e governador de São Paulo. Acho difícil ele reaparecer nessa eleição depois de como as coisas foram conduzidas no ano passado, de ter saído do PSDB, foi tudo muito traumático para pensar em qualquer tipo de retorno. O que vejo é um mergulho de volta na vida privada depois dos seis anos que ele passou na política.

Deve surgir algum nome novo?

Tem sido dito o nome do Boulos e às vezes aparece uma figura bolsonarista, embora não saibamos até que ponto haverá uma. O Bolsonaro tem derretido muito a liderança política com o seu exílio, três meses fora do país, o episódio de 8 de janeiro... Vamos ver como essa herança do bolsonarismo vai chegar no ano que vem e com que força. O próprio Eduardo Bolsonaro e o Ricardo Salles têm sido cotados, Boulos, Datena, Russomano, eles têm força e aparecem em pesquisas, mas o que é para valer realmente? A partir do ano que vem começamos a ver os posicionamentos dos partidos, acordos e quais são as propostas políticas para São Paulo efetivamente. Não vejo grandes novidades surgindo.

Em breve teremos as eleições na Alesp e a presidência deve sair das mãos do PSDB depois de muitos anos. Isso é positivo?

O PSDB perdeu espaço e agora provavelmente vai ser o André do Prado, do PL. É um deputado muito experiente e articulado em termos de Assembleia e que terá uma boa parceria e interação com o Tarcísio, um alinhamento até natural. É uma liderança do PL bastante próxima e da confiança do Valdemar Costa Neto. Vejo com muita naturalidade essa mudança da Alesp, são novos tempos, as forças políticas se mexeram, o PL se fortaleceu muito, o Tarcísio foi eleito, o PSDB não tem mais essa força política e provavelmente haverá uma mesa muito heterogênea. A Alesp sempre foi assim, há um esforço para fazer uma chapa de composição da mesa que agregue o maior número de partidos possível e é natural que cada partido tenha o seu peso político representado na mesa. O PL vai ser presidente, o PT vai ser primeiro secretário, como é em Brasília para que a composição da mesa espelhe mais ou menos a composição da força política do plenário.

Essa mudança na presidência da Alesp deve facilitar a aprovação de pautas do governador Tarcísio?

Sempre facilita, mas não significa que PT e PSOL deixarão de ser contra. Isso facilita o andamento do processo político legislativo dentro da Alesp ou de qualquer parlamento. Às vezes, as pessoas olham com certo estranhamento uma chapa heterogênea, mas é que essa chapa não é um sacramento ou uma unidade política ideológica, é um acordo de gestão interna da Casa. Acho que o Tarcísio vai ter uma maioria bem consolidada na Alesp e tem um cara muito habilidoso fazendo a articulação política que é o Kassab. O Kassab tem uma andança no PT, no PSOL, com todo mundo, ele sabe fazer a coisa funcionar. Acredito que o Tarcísio terá uma Assembleia bastante colaborativa e com resistências pontuais, assim como nós temos com a Câmara dos Vereadores. É como tem de ser, o Executivo depende do Legislativo para trabalhar, o Legislativo depende do Executivo para entregar, nada mais justo que haja o espírito colaborativo dentro das responsabilidade de cada um tem. Como o presidente Temer gosta de falar, a harmonia entre os poderes é um dever constitucional, não é só uma coisa bacana.

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