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Paulo Skaf retorna à presidência da Fiesp e adota tom crítico ao governo Lula

À frente da Fiesp, o empresário Paulo Skaf já demonstrou proximidade ao ex-presidente Jair Bolsonaro
À frente da Fiesp, o empresário Paulo Skaf já demonstrou proximidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) (Foto: Ayrton Vignola/Fiesp)

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De volta à liderança da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) após quatro anos, o empresário Paulo Skaf (Republicanos) posiciona a entidade rumo a um tom mais crítico ao atual governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).  Único candidato ao cargo e eleito com 99% dos votos, o empresário assume a presidência da federação no início de 2026, sucedendo Josué Gomes da Silva, que chegou a ser cogitado como ministro de Lula e é filho do ex-vice-presidente José Alencar (morto em 2011).  

Apesar das diferentes relações dos presidentes da Fiesp com o PT, Skaf não está necessariamente associado a algum lado. “Skaf é ao mesmo tempo pragmático e um termômetro importante para a gente entender os humores do empresariado paulista, inclusive com relação ao tarifaço”, diz Leandro Consentino, cientista político do Insper.  

Para o analista, contudo, é cedo dizer se Skaf será um aliado da direita nas próximas eleições. “Gomes tem essas ligações umbilicais com o PT e o Lula foi um grande apoiador da eleição dele, mas o Skaf também foi [apoiado por Lula]”, relembra Consentino.  

Em 2004, quando foi eleito pela primeira vez à presidência da Fiesp, Skaf ressaltou que queria uma "Fiesp muito mais parceira", dizendo que a relação com o governo deveria ser “a necessária para obter resultados". Como resultado, na época de seu primeiro mandato, Lula conseguiu contar com maior apoio dos empresários e se aproximar de uma visão mais ao centro.

Por sua vez, Skaf manteve-se na presidência da Fiesp até 2021, cravando papel como interlocutor entre o empresariado paulistano e a Presidência da República. Em seu retorno, contudo, o empresário não poupou críticas à atual gestão de Lula. Na interpretação dele, uma série de decisões do atual governo provocaram os Estados Unidos e levaram à imposição de uma tarifa de 50% sobre um grande rol de produtos brasileiros. 

“O governo brasileiro, neste momento, fez certas opções que não foram convenientes ao Brasil”, disse ele em entrevista ao Estado de S. Paulo. Skaf exemplificou citando a reunião dos Brics e o discurso de Lula sobre a desdolarização como exemplos.  

Skaf também alertou que “todas essas ações provocam o nosso principal cliente de manufaturas, que são os Estados Unidos”, e expressou ceticismo sobre a capacidade de um plano de socorro reverter a situação. Em seu discurso de eleição, Skaf destacou a necessidade de uma “diplomacia empresarial” da Fiesp para enfrentar os desafios do setor. 

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O retorno de Skaf à Fiesp ocorre em um contexto de aproximação política com figuras de destaque da direita brasileira. O evento mais recente que demonstrou a conexão de Skaf ocorreu no último dia 15, quando ele participou de uma reunião com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sobre o tarifaço.

O contato, porém, não revela necessariamente uma proximidade diferenciada, tendo em vista que faz parte das relações republicanas o o diálogo entre o setor produtivo e Poder Executivo do estado que é a maior economia do país, especialmente no contexto do tarifaço. Ao ser procurada pela reportagem da Gazeta do Povo, a assessoria de Tarcísio afirmou que o governador não comentaria respeito da eleição de Skaf.

Uma possível aliança com Tarcísio é ventilada desde 2022. Na época, durante o segundo turno das eleições, Skaf divulgou um vídeo em que declarou apoio tanto a Jair Bolsonaro na reeleição à Presidência da República quanto a Tarcísio para o governo paulista. No vídeo, ele justificou seu voto com o desejo de "menos Estado, menos impostos e menos burocracia" e preferência por quem "faz o que deve ser feito" em vez de quem "fala bonitinho e faz errado".

Além do apoio, Skaf chegou a ser cotado como vice de Tarcísio, quando este ainda era pré-candidato. No mesmo ano, ele filiou-se ao partido do atual governante de São Paulo, o Republicanos.

Outro elo foi estabelecido com a gestão Bolsonaro em 2021. À época, Skaf foi nomeado para o Conselho da República, um órgão consultivo do governo federal que se pronuncia sobre temas sensíveis como intervenção federal e a estabilidade das instituições.

Em 2014, Skaf também se uniu a uma bandeira prioritária da direita liberal com a campanha "Não vou pagar o pato" da Fiesp, que protestava contra o aumento de impostos e apoiou o processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT). 

Apesar desse amplo histórico, a volta do empresário ao comando da Fiesp não significa, necessariamente, apoio garantido à direita, ou mesmo cobranças enfáticas ao governo Lula. Consentino alerta que é “esperar para o ver o que Skaf vai fazer, justamente por ser essa figura pragmática”.  

O cientista político do Insper ressalta que o próprio Skaf deve estar esperando para definir como o tarifaço vai impactar as lideranças produtivas. “Ele será uma figura importante para entendermos a quem o empresariado paulista atribui a responsabilidade”, diz Consentino. “Mas não vejo Skaf como um direitista aguerrido, nem como um esquerdista”, opina.

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