Com experiência de mais de 20 anos no combate contra o Primeiro Comando da Capital (PCC), o promotor do Ministério Público de São Paulo (MPSP), Lincoln Gakiya, disse que a facção “se tornou uma máfia e, portanto, age com a corrupção de agentes públicos”.
A declaração foi dada durante entrevista concedida ao jornal O Globo publicada nesta sexta-feira (15).
Na entrevista, Gakiya comenta sobre o caso da execução do empresário ligado ao PCC ocorrida no aeroporto de Guarulhos, na sexta-feira da semana passada, durante o dia.
O empresário Antônio Vinicius Lopes Gritzbach foi morto a tiros de fuzis. Gritzbach estava jurado de morte pela facção por ter, supostamente, mandado matar o traficante Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como Cara Preta, e Antônio Corona Neto, o Sem Sangue, motorista de Anselmo, em dezembro de 2021.
Além das mortes de Cara Preta e Sem Sangue, Gritzbach era acusado pela facção de ter desviado R$ 100 milhões da organização.
Delação
O empresário tinha um acordo de delação premiada junto ao Ministério Público de São Paulo (MPSP) contra membros do PCC. O promotor Lincoln Gakiya era um dos responsáveis pelo acordo no MPSP.
“O PCC já usou, no passado, policiais corruptos ou ex-policiais para execução de seus desafetos. O PCC paga uma rede de agentes públicos, não vou generalizar os policiais. A polícia, na verdade, é mais citada porque é a instituição que está na linha de frente, que recebe primeiro a proposta de corrupção. Mas a gente tem visto tribunais envolvidos com decisões, no mínimo, estranhas… Até mesmo tribunais superiores, em Brasília”, disse o promotor.
“O PCC já se tornou uma máfia e, portanto, age com a corrupção de agentes públicos, necessariamente conta com isso. No caso do Vinícius, não é que ele passou a ser jurado de morte porque ele fez uma delação. Ele já era jurado de morte pelo PCC. O Vinícius tinha contra si vários desafetos. Era um arquivo vivo do crime”, completou.
O promotor ainda relatou dificuldades com as delações do empresário. De acordo com Gakiya, Vinicius costumava enviar provas incompletas com o intuito de proteger conhecidos.
Execução foi "recado claro"
Segundo o promotor, a forma como Vinícius foi executado “mandou um recado muito claro”.
“Poderiam ter executado o Vinicius em outro local. O Vinicius não estava recluso na casa dele. O Vinicius saía normalmente, todos os dias. Para restaurantes, para baladas, para tudo quanto é lugar. Então, foi escolhido um local público de grande aglomeração — o maior aeroporto do Brasil, numa sexta-feira, lotado de gente — para mandar um recado. Seja um recado do PCC ou seja um recado de quem, eventualmente, possa ter sido envolvido nessa delação. O recado de que quem quebrou o código de silêncio deve morrer”, afirmou.
Sobre a facilidade dos executores para matar Vinícius devido à falta de segurança, o promotor disse que o empresário se recusou a participar de um programa de proteção e que, na verdade, ele queria uma escolta policial para acompanhá-lo em suas atividades normais.
“Foi oferecido um programa de proteção para ele. O programa de proteção não precisa ser reformulado, como estão dizendo por aí, que foi uma falha e não há proteção. Na verdade, o que ele queria? Escolta policial. Queria continuar levando a vida dele, inclusive criminosa. Fazendo os negócios dele, saindo com a namorada, saindo com garotas de programa. Continuar levando a vida normal com escolta policial. Isso não existe nem aqui, nem em nenhum lugar do mundo”, explicou o promotor.
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