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Um dia após Tarcísio de Freitas (Republicanos) participar da filiação de Guilherme Derrite ao Progressistas e receber o apoio dos cinco principais “caciques” da direita e centro-direita brasileira no palanque do evento, o governador paulista entrou em cena na propaganda eleitoral do Partido Liberal, na última sexta-feira (23).
No espaço reservado para a sigla no estado de São Paulo, Tarcisio foi o convidado do deputado estadual André do Prado (PL), presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), que durante os 30 segundos da propaganda partidária exaltou a parceria com o governador do Republicanos.
“Cortamos gastos, melhoramos a arrecadação e priorizamos o que mais importa”, afirma Prado. Em seguida, Tarcísio cumprimenta o parlamentar do PL e crava: “São Paulo está avançando na direção certa”.
A participação do governador no evento do PP, que também contou com a presença do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, e a presença de Tarcísio no espaço da sigla na TV movimentaram os bastidores da política paulista. Considerar os episódios apenas coincidência seria muita inocência ainda mais no meio político, sendo que parceria entre os líderes do Executivo e do Legislativo reforça a reeleição ou aventura presidencial de Tarcísio e coloca André do Prado como a primeira opção do governador, seja como vice ou como cabeça de chapa ao Palácio dos Bandeirantes. Procurados pela Gazeta do Povo, o presidente da Alesp e o PL-SP não se manifestaram sobre a propaganda até a publicação da reportagem.
Movimentos de Tarcísio apontam para busca por apoio de partidos
A presença de Valdemar Costa Neto no evento do Progressistas foi criticada por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), queixa reforçada após a entrada em cena de Tarcísio na propaganda do PL.
Na avaliação do professor do Insper e cientista político Leandro Consentino, os episódios apontam para a estratégia do governador paulista em angariar “o maior número de apoiadores” para uma candidatura presidencial. “Para isso, ele conta com vários pretendentes ao próprio lugar dele [o cargo de governador]. À medida que constrói uma pré-candidatura, ele consegue cativar uma série de lideranças dos partidos do entorno. Mas a gente sabe que só haverá um possível candidato ao governo do estado”, comenta. “Em algum momento, vai precisar haver uma tomada de decisão por parte dele”, completa.
Apesar de negar publicamente a ambição de disputar a Presidência da República no próximo ano, o cenário político na direita é de indefinição por causa da inelegibilidade do ex-presidente Bolsonaro, imposta pela Justiça Eleitoral. O vácuo permite que os partidos testem os principais nomes políticos, principalmente governadores de oposição a Lula, com término dos mandatos em 2026.
Mas é justamente Tarcísio de Freitas - com possibilidade de reeleição por estar no primeiro mandato - que desponta entre os favoritos com maior potencial de concorrer contra o quarto mandato do presidente petista. O fator-chave deve ser a candidatura de Bolsonaro, que promete se manter no jogo até o último segundo.
“O Tarcísio sabe também que existe essa estratégia do ex-presidente de colocar o seu nome na urna, independentemente de ter viabilidade ou não do ponto de vista jurídico. E isso atrapalha a candidatura dele, colocando limitações para que ele possa cativar o eleitorado de Bolsonaro”, analisa Consentino.
Teste do PL e distanciamento de ex-presidente
O presidente da Alesp, André do Prado, iniciou a semana reforçando a estratégia de “colar” no governador do Republicanos. Nesta segunda-feira (26), o deputado do PL posou, novamente, ao lado de Tarcísio em uma foto postada nas redes sociais. “Uma foto que simboliza parceria e compromisso com São Paulo. Ao lado do governador Tarcísio de Freitas, sigo trabalhando por um estado mais eficiente, desenvolvido e com mais oportunidades para todos. Que a segunda seja produtiva e a semana cheia de realizações”, postou no Instagram.
Mais tarde, ele se encontrou com o governador em uma reunião para discutir “alinhamento, planejamento e ação”. Com três aparições públicas em dois dias e falas convergentes, a parceria sugere uma união estratégica para as eleições - embora ainda sem definição clara sobre os papéis que cada um ocupará.
O cientista político Samuel Oliveira analisa que a estratégia de Valdemar Costa Neto é “testar” o nome do presidente da Alesp para o Executivo, seja como governador ou vice. A atitude é comum entre os partidos políticos nos anos que antecedem os pleitos eleitorais, quando os possíveis pré-candidatos têm os nomes citados em pesquisas de intenções de voto ou ganham maior projeção nas ações do governo e eventos dos partidos.
“O movimento para testar o nome do André do Prado, seja para ser o titular, eventualmente com Tarcísio indo para a disputa presidencial ou como vice, fortalece ainda mais o grupo do PL, coordenado por Valdemar”, avalia o cientista político.
Além disso, Oliveira afirma que a presença de Tarcísio na propaganda do PL logo após o evento do Progressistas pode indicar um distanciamento de Bolsonaro, sem quebra da aliança com o ex-presidente, considerado o padrinho político do governador.
“É o sinal de afastamento mais claro do Tarcísio em relação a Bolsonaro e do grupo do ex-presidente, que de certa forma não daria apoio para ele concorrer a presidente. É um movimento de afastamento sem ser uma ruptura como se fosse um processo mais orgânico”, comenta.
A aliança entre Tarcísio e Prado também pode reposicionar o papel do PSD de Gilberto Kassab, secretário estadual de Governo e presidente nacional da sigla. O PSD ocupa a cadeira de vice-governador com Felício Ramuth, mas é Kassab que dá sinais de articular um projeto próprio para o estado.
No entanto, o cientista político não descarta a possibilidade do cacique do PSD integrar uma nova composição partidária, caso André do Prado fosse o escolhido para a sucessão de Tarcísio, seja em 2026 ou em 2030.
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