A eleição para a prefeitura de São Paulo ganha contornos de polarização nacional com alianças costuradas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e pelo presidente Lula (PT), que apadrinham as candidaturas do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) e do pré-candidato de esquerda Guilherme Boulos (Psol), respectivamente.
Se a presença dos dois principais líderes partidários da história recente do país, significa atração automática da militância política e dos votos de parte da população, do outro lado da moeda, a rejeição a Lula e a Bolsonaro podem pesar na balança da urna e ser decisiva no resultado eleitoral.
De acordo com um levantamento do Paraná Pesquisas, Boulos lidera no quesito rejeição com 37,7% entre os entrevistados na pesquisa, seguido por Nunes com 32,4%.
O instituto também questionou os eleitores sobre quais fatores vão influenciar na escolha do candidato a prefeito de São Paulo. A resposta “pelo apoio do presidente Lula” ficou com 16,5%. Já o “apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro” aparece como principal influência na decisão de 12,4% dos entrevistados. A opção mais escolhida pelos eleitores foi “pelo projeto de governo que apresenta” com 46,7% das respostas, seguida por “decidirá em quem vai votar na semana da eleição”, com 22%.
O Paraná Pesquisas entrevistou 1.502 eleitores entre os dias 14 e 19 de fevereiro. A pesquisa possui um grau de confiança de 95%, com uma margem de erro de 2,6 pontos percentuais. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número SP-01843/2024 para o cargo de prefeito de São Paulo.
No ano passado, Datafolha indicava maior rejeição a Bolsonaro
Nas últimas eleições presidenciais, em outubro de 2022, Lula venceu Bolsonaro na capital paulista, onde teve cerca de 53% dos votos contra 46% do ex-presidente, apesar da derrota do petista em todo o estado, o que indicaria uma rejeição a Lula, menor do que em relação a Bolsonaro, no eleitorado da cidade de São Paulo.
Em setembro do ano passado, o Datafolha fez um levantamento sobre a rejeição do ex-presidente e do atual mandatário na capital: 68% dos eleitores afirmaram rejeitar o candidato indicado por Bolsonaro à prefeitura de São Paulo, enquanto 37% rejeitam o indicado por Lula.
A pesquisa também levantou a rejeição do candidato apoiado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). O resultado foi de 46% de rejeição ao candidato do governador. As articulações políticas pela chapa encabeçada por Nunes vão unir o PL de Bolsonaro e o Republicanos de Tarcísio, aliado e ex-ministro do último governo.
O Datafolha também divulgou o percentual de eleitores que afirmaram que “com certeza votariam em um candidato indicado por Bolsonaro, Tarcísio ou Lula”: Bolsonaro tem influencia em 13% dos entrevistados, seguido de Tarcísio com 15% e Lula com 23%.
A pesquisa ouviu 1.092 eleitores na cidade de São Paulo entre 29 e 30 de setembro. Segundo o instituto, a margem de erro é de 3%, para mais ou para menos.
Manifestação na Paulista pode apontar tendência a favor do ex-presidente
Cientista política e professora da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Denilde Holzhacker afirma que a manifestação pró-Bolsonaro no último dia 25 de fevereiro, quando toda a avenida Paulista ficou lotada de apoiadores do ex-presidente, pode revelar uma tendência diferente em relação aos números apresentadores pelas pesquisa.
“O ex-presidente não está em nenhum cargo político, isso pode diminur a atratividade. Além disso, é necessário a confirmação se os últimos dados [de rejeição] não foram alterados depois da manifestação em que ele voltou a mobilizar suas redes. Do Lula é um pouco abaixo do que é o percentual tradicional de eleitores que são fiéis ao petista, que, em geral, fica em torno de 20%. Uma das hipóteses possíveis é que o eleitorado ainda não está mobilizado”, comenta a cientista política, ao ressaltar que a campanha eleitoral começa de fato no segundo semestre do ano.
Na avaliação da professora, não é possível definir o quanto da rejeição de Lula e Bolsonaro pode migrar e afetar os apadrinhados nas eleições de São Paulo. “A rejeição sempre tem impacto. Precisamos avaliar o quanto essa rejeição é transferida para o candidato que está sendo apoiado. Os dois [Lula e Bolsonaro] têm alta rejeição, mas também têm muita mobilização de grupos de defesa para os dois candidatos. Isso pode gerar um equilíbrio e diminuir o impacto que a rejeição de cada um poderia ter”, analisa.
Para Holzhacker, a presença do governador de São Paulo na campanha de Nunes pode alavancar a imagem do atual prefeito sem o efeito colateral da rejeição, como no caso do ex-presidente Bolsonaro. “O Tarcísio de Freitas pode ser capaz de melhorar a percepção sobre a prefeitura e gestão do próprio Ricardo Nunes. Então, isso pode ser um ponto de apoio para que ele consiga diminuir as resistências”, pontua a professora.
A cientista política também lembra que a vice de Boulos, Marta Suplicy (PT), deve influenciar na votação de Boulos, seja na atração ou na rejeição do eleitorado antipetista. Ex-prefeita de São Paulo, ela voltou ao PT após receber o convite de Lula para a chapa de Boulos e deixou o secretariado municipal de Nunes. “A Marta é vice e traz consigo a rejeição. Por outro lado, ela foi prefeita e tem a percepção positiva da população sobre algumas das políticas. Ou seja, ela tem um recall positivo que compensa”, diz a professora.
Ex-prefeitos também testam rejeição do eleitorado na capital
Atual secretário de Governo e Relações Institucionais do estado de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD) já confirmou que apoiará a reeleição de Ricardo Nunes. Presidente nacional do PSD, ele foi prefeito da capital paulista de 2006 até 2012 e saiu do cargo com alto índice de reprovação.
Há uma semana para o fim do mandato, o Ibope divulgou uma pesquisa para avaliar a popularidade do então prefeito Kassab. Para 42% dos entrevistados, a administração foi ruim ou péssima, enquanto 27% a avaliaram como boa ou ótima. Um dos projetos que marcaram a gestão Kassab foi a aprovação da Lei Cidade Limpa, que proibiu a propaganda em outdoors na cidade, além de regular o tamanho de letreiros e placas de estabelecimentos comerciais.
Vice na chapa de Boulos, Marta foi prefeita de São Paulo entre 2001 até 2004. Após um mandato marcado por polêmicas, Marta foi derrotada quando tentou a reeleição, superada por José Serra (PSDB) no segundo turno. A impopularidade da petista cresceu após a criação de novos impostos na capital durante a administração da então prefeita que ganhou o apelido de "Martaxa".
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