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O túnel imerso no litoral paulista promete revolucionar a mobilidade urbana e impulsionar a economia da região, trazendo benefícios para o porto de Santos, o maior complexo portuário da América Latina.
O túnel imerso no litoral paulista promete revolucionar a mobilidade urbana e impulsionar a economia da região, trazendo benefícios para o porto de Santos, o maior complexo portuário da América Latina.| Foto: Pedro Júnior/Autoridade Portuária de Santos

O túnel Santos-Guarujá, no estado de São Paulo, é considerado um dos principais projetos nacionais de mobilidade. Ideia debatida há cerca de 100 anos, passou por diversas mudanças de projeto até chegar à proposta atual, com investimento superior a R$ 5,6 bilhões, 800 metros de cumprimento e 21 metros de profundidade. A obra receberá uma tecnologia europeia e inédita no Brasil, bastante eficaz e em uso em outros lugares do mundo (veja abaixo).

O túnel no litoral paulista promete revolucionar o deslocamento urbano e impulsionar a economia da região, reduzindo o tempo de viagem, melhorando a qualidade de vida da população e trazendo benefícios para o Porto de Santos, o maior complexo portuário da América Latina. A expectativa é que obra fique pronta até 2028.

O trajeto por balsa varia entre 18 e 60 minutos, pois não há circulação enquanto os navios passam pelo estuário. Isso sem contar as filas, que aumentam em feriados e temporada de verão. Com o túnel imerso em Santos, a expectativa do governo estadual é que a travessia leve em média dois minutos, impactando diretamente na qualidade de vida da população.

O túnel imerso, como o do projeto Santos-Guarujá, será o primeiro neste modelo no país.

Estados Unidos e Holanda lideram o ranking mundial de túneis imersos - 26 - seguidos pelo Japão, com 20. Especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo apontam três principais motivos para esses países concentrarem o número de obras: poder financeiro, tecnologia e empresas especializadas.

De acordo com um levantamento feito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em conjunto com a Universidade do Vale do Itajaí, dos 200 túneis imersos existentes no mundo, 97% estão na Europa, Ásia e América do Norte. A tecnologia de escavação em baixo d’água tem evoluído. Em 1960, existiam cerca de 20 túneis imersos; em 2015, o número saltou para 140, e agora são cerca de 200.

Os maiores túneis imersos do mundo

  • Dinamarca – túnel Fehmarnbelt
    18 quilômetros de extensão (em obras, conclusão em 2029).
Ilustração da entrada do túnel Fehmarnbelt, no lado dinamarquês.
Ilustração da entrada do túnel Fehmarnbelt, no lado dinamarquês. | Femern A/S.

O túnel Fehmarnbelt terá duas pistas duplas de carros e duas linhas de trens elétricos. A viagem durará sete minutos de trem e dez minutos de carro, encurtando um trajeto de 160 quilômetros em terras dinamarquesas. O custo total do projeto é de 10 bilhões de euros.

  • Turquia -túnel Marmaray
    13,6 quilômetros (o maior em atividade).
Túnel imerso que atravessa o Estreito de Bósforo.
Túnel imerso que atravessa o Estreito de Bósforo. | Eym Ohla

O Marmaray recebeu um investimento superior a 3 bilhões de euros após 150 anos de planejamento. O túnel liga a Europa à Ásia numa viagem de apenas quatro minutos. Este é o primeiro do mundo que liga dois continentes - atravessando o Estreito de Bósforo, unindo as partes europeia e asiática de Istambul (Turquia).

Localizado em uma região com fortes abalos sísmicos, o Marmaray foi estruturado para resistir a terremotos de até 9 de magnitude na Escala Richter (que vai até 10).

  • Hong Kong - túnel HKZM
    6,7 quilômetros
Tubos de túnel que são movidos da fábrica para uma doca seca, vedados e abaixados gradualmente para atingir o nível do mar.
Tubos de túnel que são movidos da fábrica para uma doca seca, vedados e abaixados gradualmente para atingir o nível do mar. | Peri Group

O túnel HKZM é responsável por ligar Hong Kong e Macau. O projeto, que comtempla uma ponte, custou R$ 74 bilhões e diminui o trajeto que levava horas para apenas 30 minutos.

Apesar de não figurar entre os maiores, a Argentina possui um túnel imerso chamado de Hernandarias. A obra foi a primeira no continente, inaugurada em dezembro de 1969. Com cerca de 2,4 quilômetros de extensão, o túnel liga Santa Fé e Paraná, ambas capitais de províncias no país vizinho.

Engenharia brasileira têm avanços com túnel imerso Santos-Guarujá

Hugo Cassio Rocha, professor de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, destaca que o projeto do túnel imerso na região de Santos envolve uma engenharia bastante sofisticada. "É uma obra que não existe experiência no Brasil, inclusive participou do projeto empresa holandesa que detém essa tecnologia".

Ele aponta o motivo da escolha do túnel, ao invés de uma ponte. "Nesse caso [Santos-Guarujá], para se ter uma ponte, precisaria ter um tabuleiro da ponte a 85 metros de altura para garantir a navegabilidade do canal. Além disso, precisaria ter uma altura máxima para garantir o tráfego da base aérea de Vicente Carvalho, o aeroporto do Guarujá. O túnel imerso é uma solução bem ajustada e localizada. Um desafio grande, mas uma excelente oportunidade de trazer essa tecnologia para o Brasil", avalia.

Rocha, aponta os conceitos técnicos do projeto. “É uma galeria mergulhada no fundo do canal, como se fosse uma galeria de canalização de um córrego, só que ao contrário, a água por fora e os ônibus, carros, caminhões e trens por baixo. O túnel escavado precisaria estar a 60 metros de profundidade, porque [em Santos] o solo é muito ruim, demandaria uma distância grande do emboque e desemboque de cada lado. Por isso que está se optando pela solução de túnel imerso, foi muito estudada pela Dersa [Desenvolvimento Rodoviário S.A]. Estudaram-se seis possibilidades de posicionamento da travessia e todas tinham vantagem e desvantagens, essa escolhida se mostrou a mais adequada”, pontua.

Pedro Henrique de Lyra, coordenador do curso de engenharia civil do Instituto Mauá de Tecnologia, atesta a importância de trazer novos tipos de tecnologias construtivas. Conforme ele explica, essa é uma tecnologia que vem em partes prontas, prepara o leito e é imergido no mar para realizar a travessia entre os canais portuários. "A vantagem [do túnel imerso] é em comprimento [menor], dentro das metodologias construtivas que utilizamos. Por exemplo, se o túnel imerso tiver 800 metros, a ponte teria pelo menos 1,3 quilômetro, porque é preciso fazer as cabeceiras", explica.

Pioneira na tecnologia, a Holanda exportou a proposta para o Brasil: uma das empresas chamadas pelo governo de São Paulo é holandesa. "Tudo começa em quem tem a tecnologia e nesse caso são os EUA e a Holanda. Na Europa tem porque a cultura do pré-moldado é mais difundida na região. Isso traz menos concretagem e mais segurança e exatidão na obra", acrescenta Lyra.

Em alguns casos pode ser mais caro, salienta Lyra. "Por exemplo, em Santos, demanda um canteiro maior de obras e máquinas maiores, o guindaste deve vir da Europa. A nossa mão de obra não está preparada, porque não temos essa tecnologia, por isso estamos juntos com empresas internacionais para poder executar a obra".

Além da Holanda, a Dinamarca é percursora em túneis imersos. "Tanto é que quando abriu a concorrência para o túnel Santos-Guarujá, teve empresa dinamarquesa com know how", observa Lyra.

O engenheiro afirma que, depois da execução do primeiro túnel imerso no país, outras propostas poderão deslanchar. “O Brasil tem uma extensão territorial muito grande e uma costa também, esse tipo de túnel começa a valer a pena se tem profundidade boa como é o caso de Santos, que permite as embarcações passarem".

"A construtora brasileira vai adquirir experiência com a empresa estrangeira e vai facilitar a aplicação de outros túneis imersos no país".   

Pedro Henrique de Lyra, coordenador do curso de engenharia civil do Instituto Mauá de Tecnologia
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