Desde que o aumento dos casos de microcefalia foi associado aos registros de zika vírus, os boatos sobre a infecção causada pelo mosquito Aedes aegypti passaram a ocupar espaço nas redes sociais. Áudios compartilhados por meio do WhatsApp, supostamente gravados por médicos e especialistas, apontam que o vírus é capaz de trazer sequelas neurológicas não só para bebês, mas para outras pessoas infectadas. Há mensagens que indicam ainda que o Aedes não é o único transmissor do zika.
A reportagem conversou com os especialistas Lavínia SchulerFaccini, presidente da Sociedade Brasileira de Genética Médica e professora da UFRGS, e Paulo Behar, chefe do serviço de infectologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, que ajudam a esclarecer dúvidas sobre a doença e desmentem informações que têm circulado.
Perguntas e respostas
O zika vírus poderia causar sequelas neurológicas graves em crianças de até sete anos ou idosos?
Não há nenhuma evidência de que o zika cause alterações neurológicas em crianças ou idosos até o momento. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) esclareceu em nota que esse boato não teria fundamentação científica.
Deve-se usar repelente de duas em duas horas como precaução?
Os repelentes podem ser usados por grávidas e crianças acima de dois anos, mas é necessário seguir a recomendação de cada produto sobre o tempo de aplicação. Em excesso, os repelentes podem causar intoxicação.
O vírus pode ser transmitido pelo leite materno ou pelo sêmen?
Até hoje, foram raros os casos documentados indicando que o zika pode ser transmitido pelo sexo. O vírus tem características biológicas parecidas com a dengue e com a febre amarela. Em relação ao leite materno, especialistas indicam que é um risco em potencial, porém, ainda faltam evidências científicas que comprovem isso. Não é motivo para interromper a amamentação sem indicação médica. O maior sinal de alerta sobre a transmissão do zika continua sendo o Aedes aegypti.
Há casos de microcefalia em países da África que convivem com o zika? Se não, por quê?
Nos países africanos onde há a presença do vírus, como Uganda e Nigéria, a falta de registros sobre má- formações congênitas em recém- nascidos e a alta mortalidade infantil impossibilitam o controle de casos de microcefalia. Na Polinésia Francesa, após o alerta do Brasil, os pesquisadores estão buscando evidências sobre a relação entre o vírus e a condição.
Há um estudo definitivo ligando o zika aos casos de microcefalia?
Os estudos feitos até então apontam que há, sim, uma relação. Especialistas ainda estão investigando o que leva alguns bebês a desenvolverem a condição, afinal, nem todas as mulheres que contraíram o vírus durante a gravidez terão bebês com microcefalia. É comprovado que o zika foi encontrado no líquido amniótico de gestantes.
Já existe vacina contra o zika?
Ainda não existe uma vacina disponível para a população. Tudo ainda está no campo das pesquisas.
Vacina da rubéola vencida aplicada em gestantes poderia ser a causa do aumento de casos de microcefalia?
A rubéola é uma síndrome que, quando contraída por gestantes, também pode causar microcefalia em bebês. No início do ano, o Brasil foi declarado oficialmente livre da rubéola pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Não há ligação com a vacina da rubéola com casos de microcefalia, e não há registro de imunizações em massa de gestantes no último ano. Quando fora da data de validade, a vacina perde o seu efeito, mas não causa doenças ou problemas de saúde.
O zika chegou ao Brasil junto com os turistas da Copa do Mundo?
Há hipóteses de que o vírus tenha chegado ao Brasil com o fluxo intenso de turistas na Copa do Mundo de 2014 ou até mesmo durante uma competição internacional de canoagem, quando atletas da Polinésia Francesa vieram para o Rio de Janeiro em agosto. Um dos maiores surtos no mundo ocorreu entre 2013 e 2014, exatamente naquela região do Oceano Pacífico.
No futuro, será fundamental levar os avanços em saúde a todos os lugares do mundo. Cidadãos, governos, setor privado e sociedade civil organizada deverão fazer sua parte. A luta contra o Aedes aegypti é um exemplo disso. Para combater o mosquito, é preciso que todos façam a sua parte para impedir a proliferação do inseto que transmite três doenças: zika, dengue e chikungunya. Apesar de ter sido descoberta em 1947, o zika carece muito de pesquisas, tanto de medicamentos quanto de suas possíveis consequências.
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