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Doença afeta menos as crianças

Crianças de até 4 anos estão entre os grupos menos afetados pela gripe A (H1N1). No Paraná, essa faixa etária é a que apresenta menos casos confirmados: 6,6% do total, segundo análise epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde. Também entre as 142 mortes registradas no estado, 4 aconteceram entre crianças dessa idade. "Esse vírus pegou as crianças de forma branda", diz o infectologista Marcos Lago, chefe do Departamento de Pediatria da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, um dos participantes de um encontro realizado neste fim de semana, na Bahia, em que se discutiu a vacinação.

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A professora aposentada Maria Helena (nome fictício), 58 anos, ficou confusa quando a funcionária de uma farmácia de manipulação ligou para sua casa avisando que o medicamento homeopático dela contra a gripe A estava pronto. "Levei um susto. Eu não tinha encomendado nada", conta. O médico Sidney (nome fictício) também ficou surpreso quando um paciente seu lhe falou que um outro médico tinha recomendado a vacina contra gripe comum para proteção contra a nova gripe, cobrando um valor 75% maior que o usual.

Em tempos de gripe A, em que o número de vítimas fatais da doença cresce em progressão geométrica, a população fica sem saber o que fazer e no que acreditar. E, quando as autoridades de saúde parecem falhar, a saída buscada é qualquer uma que aparecer primeiro. Um exemplo disso é a receita do tal chá de anis estrelado que correu a internet, por meio de e-mails, e fez com que a planta se tornasse o novo Tamiflu em sua versão popular, somente porque ambos contêm uma substância semelhante na composição. Mesmo sem comprovação científica sobre os seus efeitos, o chá de anis passou a ser recomendado de boca em boca, na falta do medicamento de marca, para o combate e prevenção da nova gripe.

É justamente em momentos como esse, porém, que as pessoas devem ficar mais atentas, dizem os especialistas. "É nessa hora que os espertos vão abusar da fé das pessoas", afirma o presidente da Sociedade Paranaense de Infectologia e membro do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), Alceu Fontana Pacheco.

Nesta semana, a reportagem entrou em contato com uma farmácia de manipulação da capital paranaense e encomendou a tal medicação homeopática contra gripe A. A informação passada pelos atendentes é que o remédio estaria sendo prescrito, a pedido de um médico, para todos os seus pacientes como forma de prevenção. Sem qualquer dificuldade, o pedido foi feito e os dois frasquinhos, um com a substância influenzinum e outro com colibacillinum, no valor total de R$ 15,80, foram apanhados no dia seguinte, sem qualquer consulta prévia, receita ou confirmação de dados.

De acordo com o presidente da Associação Médica Homeopática do Paraná, Jayme Simões, não existe nenhum medicamento homeopático contra a gripe A. Contudo, segundo ele, a homeopatia pode ser usada como forma de retomar o equilíbrio do corpo do indivíduo. Essas substâncias, já utilizadas na prevenção e tratamento da gripe comum, estimulam as defesas do organismo e, assim, melhoram a imunidade contra várias doenças.

O "x" da questão, porém, é que melhorar a imunidade de um paciente não significa dizer que ele ficará imune. "Se a medicação homeopática for usada da forma correta, o indivíduo fica menos suscetível a doenças e a tendência de pegar gripe A e outras é menor, mas fortalecer o organismo não significa que o indivíduo esteja imunizado", explica Simões.

O tratamento homeopático correto, segundo Simões, prevê individualidade na terapêutica. "Não existe fórmula mágica que pode ser dada para todo mundo", afirma. A individualização também acontece na produção do medicamento. Segundo a coordenadora da Vigilância Sanitária, Rosana Zappa, as farmácias de manipulação não podem produzir em escala. "A medicação tem de ser feita sob receita médica, paciente a paciente", diz.

De acordo com Simões, para prescrever a medicação, ainda, é necessário que o médico avalie quais pacientes têm indicação ou não e qual será o remédio específico para cada um. A ideia de que "mal não faz" cai por terra, segundo Simões. De acordo com o médico, medicamentos homeopáticos utilizados indevidamente podem, sim, trazer efeitos colaterais sérios.

Vacina

Em relação à vacina, é preciso também estar bem informado. Para Pacheco, o fato de os pacientes acharem que estão imunizados contra a gripe A ao tomar a vacina contra gripe comum pode ser perigoso. "Isso pode desarmar as pessoas", opina. A despeito de alguns artigos científicos levantarem a hipótese de que a vacina para gripe comum pode trazer alguma proteção contra o vírus da gripe A, por meio de uma reação cruzada, não há nenhuma comprovação científica sobre esse efeito.

"Eu sou a prova cabal de que a vacina para gripe sazonal não protege contra a pandêmica", afirma Pacheco – o médico teve confirmação laboratorial de que pegou o vírus da nova gripe, mesmo tendo se vacinado contra a gripe comum. De acordo com Pacheco, todo médico, porém, tem o direito a ter uma opinião técnica sobre o assunto. "O que não pode haver é interesse econômico por trás disso", explica.

Caso exista essa suspeita, o paciente deve procurar o CRM-PR e protocolar uma denúncia. Uma sindicância será aberta para investigar os fatos. Até o momento, o CRM-PR não registrou nenhuma denúncia contra profissionais e a abordagem em relação a prevenção e tratamento suspeito contra gripe A.

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Serviço

As denúncias devem ser assinadas e protocoladas na sede do CRM-PR, localizada na Rua Victório Viezzer, 84, Vista Alegre. Dúvidas podem ser tiradas pelo e-mail protocolo@crmpr.org e pelo telefone (41) 3240-4000.

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