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Tesouro Real

Museu-cofre de Lisboa conquista brasileiros com pepita de ouro gigante e diamantes de Minas Gerais

Porta de acesso ao acervo do Museu Tesouro Real: cinco toneladas de blindagem. (Foto: Jônatas Dias Lima/Gazeta do Povo)

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Dentro de um cofre monumental, protegido por portas blindadas e vitrines de segurança, funciona um museu que não para de chamar a atenção por unir, de modo muito peculiar, a tecnologia mais moderna na preservação de itens de alto valor, típicos de um banco, com a nostalgia de um passado glorioso, aquela que se sente em castelos. O Museu Tesouro Real, de Lisboa, inaugurado em 2022, vem angariando prêmios, reconhecimento e uma legião de fãs, dos quais os brasileiros compõem significativa parcela.

De fato, é impossível a um turista vindo do Brasil se manter indiferente diante de tantos objetos trazidos da antiga colônia portuguesa, com evidente destaque para a pepita de ouro que pesa 20 quilos, maior que um crânio humano, originária do que hoje é o estado de Goiás. É considerada a segunda maior do mundo.

As minas de ouro e as jazidas brasileiras de diamantes sustentaram a coroa portuguesa, sobretudo no reinado de Dom João V (1707–1750), período chamado de “Reinado de Ouro”. Além da pepita gigante, também estão no museu-cofre vários exemplares de diamantes, alguns brutos, de grande porte, como o de 138,5 quilates, chamado “diamante de Abaeté”, extraído no final do século XVIII, em Minas Gerais.

A pepita de ouro gigante, trazida de Goiás para Lisboa no século XVIII. À frente do item original está uma réplica que pode ser tocada pelos visitantes. (Foto: Jônatas Dias Lima/Gazeta do Povo)

Um cofre digno de reis

O tesouro está reunido em uma estrutura de três andares, com cerca de 40 metros de profundidade e 10 metros de altura. O acesso é feito por portas de cinco toneladas, e todas as peças estão protegidas por vitrines à prova de balas. A coleção é organizada em seções temáticas que incluem joias, insígnias reais, ordens honoríficas, presentes diplomáticos, objetos litúrgicos e até a prataria usada em banquetes reais.

Entre os itens mais importantes está a coroa de Dom João VI, feita no Rio de Janeiro em 1817 pelo ourives Inácio Luís da Costa. Com 2,5 kg de ouro, a peça nunca foi usada sobre a cabeça do rei, por decisão do próprio monarca. Em 25 de março de 1646, Dom João IV consagrou Portugal a Nossa Senhora da Imaculada Conceição e colocou a coroa real aos pés de sua imagem. Desde então, determinou que os reis da Casa de Bragança não usariam mais a coroa, reservando-a simbolicamente à padroeira de Portugal.

Símbolos de poder

Vários itens reforçam a ligação entre Portugal e o Brasil. A tiara de diamantes e safiras de Dona Maria II, filha de Dom Pedro I, foi criada a partir de gemas reaproveitadas de vestimentas reais. O broche da Ordem do Tosão de Ouro, com mais de 1.600 diamantes e 200 rubis, pertenceu a Dom João, que viria a ser rei de Portugal, Brasil e Algarves.

O acervo também guarda peças que foram salvas do ódio revolucionário, como o serviço de mesa em prata produzido pelo ourives François-Thomas Germain, preservado quando coleções semelhantes foram destruídas ou derretidas durante a Revolução Francesa. Destinada a banquetes, a organização dos pratos, talheres, taças e toda uma variedade de utensílios desconhecidos da gastronomia contemporânea seguia uma ordem rígida de apresentação, que refletia a etiqueta das cortes europeias do século XVIII. O “mapa” de onde vai cada item na mesa, aliás, está disponível ao visitante que tenta entender a complicada tarefa dos copeiros daquele tempo.

O visitante encontra também diversas referências às ordens militares, como a de Cristo, Avis e Santiago, além de insígnias rituais da monarquia: cetros, mantos, estandartes e objetos usados nas aclamações reais, que em Portugal substituíam a cerimônia de coroação. Assim como em outras cortes europeias, o conjunto simboliza, sobretudo, autoridade, mas em Portugal ganhava uma dimensão própria pela presença das ordens religiosas e pela ligação direta à devoção mariana.

Manto, trono e retrato de Carlos I, rei de Portugal entre 1889 a 1908. (Foto: Jônatas Dias Lima/Gazeta do Povo)

Reconhecimento internacional

A capacidade de emocionar em um ambiente inusitado ajuda a explicar a rápida ascensão do Museu Tesouro Real, surpreendente para qualquer museu com apenas três anos de vida. O ápice do reconhecimento se deu em 2024, quando ele foi indicado como finalista do Prêmio Museu Europeu do Ano, conhecido como o “Oscar” da museologia. A indicação destacou tanto a inovação na forma de preservar e apresentar o patrimônio da monarquia portuguesa quanto a capacidade de transformar esse legado em uma experiência culturalmente relevante para o público.

Naquela disputa, o Tesouro Real não chegou a vencer, mas um título não demorou a chegar. No mesmo ano, o museu foi eleito Melhor Museu Estrangeiro pelo Archeological & Cultural Tourism Awards, em Florença, na Itália. O júri ressaltou o caráter singular da instituição: uma coleção histórica organizada dentro de uma das maiores caixas-fortes do mundo.

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OBS: o jornalista viajou a convite da associação Turismo de Lisboa.

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