A última vez que Patrícia Tosetti viu o filho Miguel, de 4 anos, com vida, ele estava entubado em uma cama de UTI. Depois de dias de sofrimento, a criança morreu vítima de dengue hemorrágica, em Maringá, no Noroeste do Paraná, em abril do ano passado.
Não há nada que consiga explicar essa dor. Como um mosquito tão pequeno faz um estrago tão grande?
A família havia acabado de se mudar para o município, vinda de Londrina, na região Norte. A casa alugada por eles ficava no Parque das Laranjeiras, bairro que apresentava, à época, índice quatro vezes maior que o considerado tolerável pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
“Eu morri junto com ele. Não há nada no dicionário nem na ciência que consiga explicar essa dor. Como um mosquito tão pequeno faz um estrago tão grande?”, questiona Patrícia.
De lá para cá, outras 24 pessoas morreram no estado por causa da doença, conforme o último levantamento da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa). Outras milhares engrossam a lista de acamados que sofrem com os sintomas dolorosos do vírus do mosquito Aedes aegypti . Em todo o Paraná, de agosto de 2014 até o final de agosto deste ano, foram 89.968 notificações da doença. Destes, 35. 433 foram confirmados.
Ângelo Luiz Cardozo, 18 anos, por exemplo, perdeu o vestibular de verão da Universidade Estadual de Maringá (UEM), no início do ano, porque não aguentou sair de casa. Três dias antes da prova para concorrer a uma vaga de Arquitetura, ele foi diagnosticado com dengue. “Mesmo assim, eu queria ir, estava decidido, mas a dor era tão forte, que não conseguia ter controle do meu corpo. Foi um prejuízo e tanto”, lamenta.
Na casa da bióloga Jéssica Xavier, mãe e marido foram acometidos ao mesmo tempo pela doença. No caso da mãe, Eliana Xavier, o caso foi hemorrágico. Os vasos sanguíneos superficiais estouraram, deixando-a toda roxa, conta a filha. O marido Thales Wendpap teve mais sorte, mas ainda assim ficou de cama por vários dias.
O medo de ser a próxima vítima vive rondando a casa, já que, de acordo com Jéssica, a vizinhança ainda não se conscientizou sobre a importância da limpeza local. “Há muito lixo nos quintais, muitas plantas e ninguém se importa com nada.”