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Saúde Pública

A grande família dos soropositivos

Alba e Silas no anfiteatro onde acontecem os encontros do Grupo de Adesão, no HC, na comemoração dos 15 anos  de trabalho. | Antônio More/Gazeta do Povo
Alba e Silas no anfiteatro onde acontecem os encontros do Grupo de Adesão, no HC, na comemoração dos 15 anos de trabalho. (Foto: Antônio More/Gazeta do Povo)

“Meu nome? Maria Eliza Tavares, dona de casa, tenho 78 anos e sou soropositiva há 19. Pode escrever aí: o que mata não é a aids. O que mata é o preconceito”, declara a senhora com jeito de avó, em meio a outros 60 homens e mulheres que, assim como ela, foram contaminados pelo HIV. Eliza e os demais não estão à espera de consulta médica – estão em festa, comemorando os 15 anos de atividades do “Grupo de Adesão do Hospital de Clínicas (HC)”, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O encontro foi na tarde do dia 7 de abril, mas as comemorações vão se estender por 2015. O momento pede: não fosse aquela pequena rede de apoio, talvez não estariam mais ali.

O Grupo de Adesão do HC nasceu para ajudar soropositivos a não abandonarem o tratamento, “prova de fogo” após a testagem. A simplicidade e a eficiência da proposta chegam a impressionar. Graças às reuniões, cai o índice de mortalidade causadas pelas infecções – grande feito no país que registrou, em 2013, 12,7 mil mortes por aids, mil por mês. Não há estatísticas seguras, mas sobram certezas. Conviver com gente que está no mesmo barco serve de vacina contra o isolamento e a impotência diante dos pesados efeitos colaterais dos medicamentos. Funciona como um espelho: conferir a dor e a vitória do outro, redimensiona o próprio sofrimento.

Funciona

Deixar de tomar os remédios ocorre com mais frequência do que se imagina, tamanho o impacto provocado pelos coquetéis, formados por tantos comprimidos que enchem a palma da mão. O programa brasileiro de distribuição de antirretrovirais inclui 21 drogas destinadas a mais de 310 mil pacientes. A disciplina para consumi-los exige acompanhamento e ombro amigo, em especial na fase inicial. Nesse ponto, muitos desistem, desestabilizando-se. Ao “queimar” a medicação, como se diz, abrem espaço para as infecções oportunistas. O grupo está lá para evitar que isso aconteça.

Um dos dissabores é a lipodistrofia, concentração de gordura no abdome. Beira a deformidade e apavora as mulheres, como testemunha a agente da Pastoral da Aids Nair Thomazini, de 46 anos, 24 com diagnóstico. Ela mora em Céu Azul, no Sudoeste do Paraná, e acompanha 150 contaminados na região. Ponha-se na lista diarreias e tonturas. Frente a esses e outros inconvenientes, muitos desenvolvem rejeição às cápsulas, pondo a perder o tratamento e acelerando as contaminações, uma derrota depois de duas vitórias – o trauma do diagnóstico e o medo da rejeição.

O curioso é que coibir o abandono dos coquetéis não chega a ser um bicho-de-sete-cabeças. O grupo é uma prova disso. Segue-se ali uma receita caseira, semelhante às dos grupos de jovens da Igreja, ONGs: às terças-feiras, os soropositivos sentam em roda num pequeno anfiteatro do HC. Ali falam de suas angústias, partilham pequenas conquistas e recebem orientação de profissionais de saúde. Criam vínculos. Tudo termina com café com bolo e uma animada rodada de abraços, técnica de autoajuda criada pelo frade capuchinho Pedro Brondani, um dos fundadores da Pastoral da Aids e presença garantida nas reuniões.

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