A opressão domiciliar contra idosos está quase no mesmo patamar da violência a que essas pessoas estão submetidas nas ruas. Praticamente um terço da terceira idade do Sul do Brasil já foi vítima de algum tipo de delito 43% dos idosos foram agredidos dentro de casa. Os dados fazem parte de uma pesquisa coordenada pelo coronel Roberson Luiz Bondaruk, da Polícia Militar do Paraná, com cerca de 3 mil idosos do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. "A violência que acontece dentro de casa está superando a violência das ruas", afirma.
O estudo foi divulgado ontem, no Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa. Entre os crimes recorrentes estão roubo, perturbação do sossego, invasão de domicílio e maus-tratos. Segundo a pesquisa, 18% dos atos violentos são cometidos por pessoas conhecidas. "Nestes casos, os maiores opressores são os familiares", complementa Bondaruk. Especialistas avaliam que os resultados regionais obtidos vão em direção ao mesmo cenário traçado em pesquisas internacionais.
"São muitos idosos sofrendo. Infelizmente, a situação de violência dentro da família é uma realidade", comenta a coordenadora do Disque-Idoso Paraná, Dulce Darolt. Neste ano, o serviço de atendimento já recebeu 780 denúncias de maus-tratos, a maioria cometida por parentes. Foram 1,7 mil chamadas no ano passado. "O Disque-Idoso é a ponta do iceberg. O que chega a nós é apenas uma parcela do que acontece nos municípios. Muitas denúncias não chegam a nós", conta Dulce. No balanço feito, 27,5% dos casos envolvem negligência e abandono, 17% de agressões verbais e psicológicas e 16% de apropriação indébita de aposentadorias e outros bens.
As principais vítimas são mulheres idosas, acima de 75 anos. "Nessa idade, a maioria das mulheres encontra-se em um estado de saúde frágil, dependente de quem cuida", conta a psicóloga gerontóloga Laura Machado. A fragilidade deixa essas pessoas mais vulneráveis a violências físicas, emocionais ou financeiras. O estudo apresentado ontem também indica quais são os principais motivos de insegurança para os idosos. O abandono por parte de familiares lidera o ranking (27%), seguido pela falta de policiamento (25%) e pela impunidade (19%).
"Os idosos sofrem a violência em silêncio. Na maioria das vezes, apesar do sofrimento injusto e violento, a pessoa idosa acaba não denunciando por compaixão (ao familiar)", avalia Bondaruk.
Uma senhora de 80 anos, moradora de Paranaguá, no litoral paranaense, vivia uma situação semelhante a essa. Ela era trancada em casa, enquanto o filho saía para gastar cerca de R$ 1,5 mil que a mãe recebia todos os meses. Nada era comprado para ela. A senhora dormia em um sofá de dois lugares; já o filho ficava com a única cama da casa. Comida fresca não tinha. Apesar de elogiar o filho e dizer que não era maltratada, o Ministério Público determinou que a mulher fosse encaminhada para a casa de uma filha.
Especialistas acreditam que esse panorama é um problema cultural. Para contornar essa situação, a gerontóloga Schirley Follador Scremin, ex-presidente do Conselho Estadual dos Idosos, defende a criação de instituições e projetos que venham a conscientizar toda a população para se ter um envelhecimento de qualidade. "As pessoas precisam ser capacitadas para atender os idosos", afirma. Ela explica que há situações em que a família gera atritos e incômodos por desconhecer o problema enfrentado pelo idoso.
Crime
Quem submete idosos a qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão está sujeito a punições previstas pelo Estatuto do Idoso, que variam de reclusões de um mês (humilhar, desdenhar ou menosprezar idosos) a quatro anos (desviar ou apropriar-se de bens ou rendimentos dos idosos), além de multa.