Propostas e iniciativas para melhorar a qualidade de vida de portadores de deficiência estão em debate desde ontem em Curitiba, na 2ª Conferência Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência, promovida pela Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania (Seju). As boas idéias e os bons exemplos, no entanto, parecem limitadas ao evento: segundo cadeirantes e deficientes visuais que vieram do interior para participar das discussões na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a organização não se preocupou com o tema central da conferência, as limitações dos portadores de deficiência.
O problema, segundo os participantes, começou no transporte para o hotel, feito em um ônibus da Polícia Militar. A seguir, os deficientes foram alojados em dois hotéis, no centro da cidade, que não têm quartos e banheiros adaptados. Na hora de ir para a PUCPR, novo problema com o ônibus. O jeito foi ir de táxi. O auditório também gerou reclamações, já que não há espaço para cadeiras de rodas. Por volta das 18 horas, no fim do primeiro dia da conferência, os cadeirantes voltaram aos hotéis em uma van e tiveram de contar com a ajuda do motorista para entrar no veículo. "Eu não vou entrar aí. Isso é uma humilhação", reclamou o cadeirante Reginaldo Santos, 46 anos, da organização não-governamental Centro de Vida Independente (CVI), de Cascavel.
Como não conseguiu tomar banho ontem segundo ele, há um degrau no meio do caminho , a saída para o cadeirante Alberto Moi, 45 anos, foi cortar uma garrafa de plástico e usar água da torneira para se lavar. "No elevador, a cadeira só cabe de lado. E só tem um banheiro que eles chamam de acessível, no primeiro andar. Mas também tem um degrau", afirma. "Estamos discutindo a acessibilidade sem o mínimo de acessibilidade", disse o deficiente visual Ivan de Pádua, 28 anos, também de Cascavel. "Há dois anos participamos de uma conferência e tivemos problemas. Além de não resolverem nada, os problemas aumentaram."
O arquiteto Ricardo Tempel Mesquita apontou outro problema: segundo ele, a rampa improvisada entre a platéia e o palco do auditório está em um ângulo errado. "A norma fala em 8% de inclinação, esta deve estar em 25%. Um cadeirante pode cair quando descer", disse. O senador Fávio Arns (PT), um dos palestrantes, procurou não entrar na polêmica. "Precisamos de uma rutpura daqui para a frente: nada se constrói sem que a lei seja respeitada", afirmou.
A chefe de gabinete da Seju, Maria Catarina Mesquita Lopes Leite, lembrou que esse tipo de problema é comum em todo o país. "Houve dificuldades em relação ao transporte, algumas cadeiras eram maiores e não cabiam nos veículos. Trocamos os veículos", disse. Outro problema é a determinação legal para hotéis: segundo José Aparecido Leite, cadeirante e membro do Conselho Nacional das Cidades, os hotéis devem ter 20% de seus quartos adaptados.
"Não tínhamos como espalhar os participantes por vários hotéis, isso inviabilizaria o evento", afirmou Maria Catarina. A conferência tem 171 participantes e será encerrada hoje à tarde. As propostas serão encaminhadas para a conferência nacional, que será realizada em dezembro, em Brasília.
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