Apesar de a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) ter anunciado que vai investigar os registros de geração da hidrelétrica de Itaipu na noite do apagão, analistas do setor dão como improvável a responsabilidade da usina binacional no incidente que deixou 18 estados sem luz na última terça-feira. O que causou o problema, de acordo com eles, não foi um evento de sobrecarga gerada pela hidrelétrica, mas uma falha no sistema de emergência para lidar com um imprevisto. Ainda segundo os especialistas, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) tem registros detalhados de toda a transmissão de energia no território nacional. Falta apenas as informações virem a público.Segundo o professor Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP José Goldemberg, um bom sistema energético é organizado por vários subsistemas. No caso de sobrecarga, existem chaves magnéticas que protegem o sistema maior, isolando a área problemática, até que ela seja restaurada e reintegrada ao anel. De acordo com ele, a tese de que um raio ou qualquer outro fenômeno meteorológico teria derrubado o sistema elétrico de quase todo o país não faz sentido. "O que faz sentido é uma falha na engenharia de sistemas, no sistema operacional da rede nacional", afirmou."O responsável por decidir de onde vem a energia é o ONS. Por razões que não entendo, na noite do apagão as usinas da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) não estavam gerando energia, estavam desativadas. Itaipu, por outro lado, estava trabalhando em carga máxima, portanto mais suscetível a um desligamento. Na minha avaliação, isso é resultado de uma má tática de organização", diz.Goldemberg também avalia ser improvável a possibilidade de sobrecarga na geração de energia. "A geração de energia é uma atividade passiva. O operador fica sentado em sua mesa obedecendo às ordens do ONS. Quem avalia e decide sobre a necessidade de geração e transmissão é o ONS. Eu acharia muito estranho se uma usina tivesse autonomia para gerar mais ou menos energia do que é programado. É por isso que existe um centralizador, que faz o planejamento e ordena a execução."O diretor da Interact Consultoria de Energia, Rafael Herzberg, tem opinião semelhante. "Do ponto de vista técnico, não consigo imaginar uma operação manual agindo em um sistema tão automatizado e regulamentado como é o despacho de energia", diz. "O ONS determina, e a empresa cumpre. É assim que deve ser, não existem lacunas para operar fora do sistema. Qualquer um que faça acusações nesse jogo tem de comprovar. Os registros existem", completa o engenheiro Ivo Pugnaloni, da consultoria Enercons.
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