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Historinha contada por meus filhos: um menino da vizinhança estava insuportável no dia de seu aniversário porque acreditava piamente que, naquela data, todos deveriam bajulá-lo: ga­­nhava imunidade no pega-pega, era o dono da bola no futebol e "vencia" no videogame. O divertido é que, apesar de terem ficados revoltados com a postura de reizinho do amigo, os meninos cederam aos seus caprichos. No fundo, todos achavam que o aniversariante era uma pessoa especial.

Crianças adoram o dia de aniversário. Acreditam que naquela data se transformam na pessoa mais importante do mundo, na­­quele dia são únicos – no máximo, compartilham a divindade momentânea com os demais aniversariantes do dia.

Curiosamente, quanto mais aniversários a pessoa faz, menos ela se interessa por aniversários. Ou passa a achar que é uma data boba ou fica de mau humor porque está ficando velha ou se irrita porque lembra o que ainda não fez e queria fazer. E assim vai o rosário de motivos para tentar esquecer a data. Exceção são os festeiros, que gostam de comemorar seja lá o que for que lhes soe como uma celebração da vida ou como uma boa desculpa para fazer uma festa. Para esses, um aniversário por ano é pouco.

Em resumo, se a data natalícia perturba alguém, é por fazer pensar no tempo (mal que não atinge as crianças, para quem não existe a noção de presente, passado e futuro semelhante à dos adultos). Comemorar que fiquei mais velho? E se me perguntarem a minha idade? Para piorar, ninguém vai te deixar ganhar na discussão ou trabalhar menos porque é seu aniversário. Em resumo, a magia dos aniversários da infância quase acabou.

Não acabou totalmente porque, dentro de um círculo me­­nor, a comemoração guarda suas delícias. Famílias e amigos próximos estão carecas de saber em que ano você nasceu, se lembram de você jovenzinho, de ca­­beleira farta e magrinho, e não estão nem aí para as mudanças. Os íntimos te conhecem e gostam de você do jeito que está ho­­je (e há esperanças de que continuem gostando de você, mais velhinho, careca e grisalho, no ano que vem). A festa, se houver, tem de ser com eles. Não vão te deixar ser o rei do pedaço, mas quem sabe dão um desconto e te deixam contar – sem te interromper – de novo aquela história que você já contou várias vezes.

Marleth Silva é jornalista.

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