Itajaí - A forte chuva que atingiu quase 80% da população de Itajaí, litoral de Santa Catarina, contribuiu para que os saques em residências e em estabelecimentos comerciais aumentassem consideravelmente. O número de furtos em imóveis residenciais nas duas semanas antes do desastre estava em 30. Mas foi só a chuva engrossar e moradores terem que deixar as casas alagadas que os registros passaram para 63. O comércio também sentiu o aumento da criminalidade: de 20 furtos para 33.
Os números fazem parte dos registros da Polícia Civil de Itajaí, que analisou a quantidade de ocorrências recebidas 17 dias antes do desastre e 17 dias depois. A análise mostra que os registros de furtos em residência aumentaram 110% e no comércio 65%. Nem creches e escolas ficaram imunes aos saques. Foram registrados cinco furtos em repartições públicas após o desastre.
A ousadia dos ladrões foi tamanha que eles chegaram a levar eletrodomésticos pesados. A dona de casa Ivone Zanin, que mora no bairro de São Vicente, perdeu máquina de lavar, forno elétrico, forno de microondas, computador, batedeira e liquidificador. A família de Ivone tinha ido a um retiro de casais na sexta-feira em Blumenau e só conseguiu voltar depois de três dias para Itajaí. Quando a água desceu da altura da barriga da dona de casa ao comprimento do joelho, na quarta-feira, ela percebeu o prejuízo. "Foi uma angústia. Estava tudo revirado", lembra.
Como a vizinhança também não estava em casa, Ivone não tem nenhuma pista para ajudar os policiais. A dona de casa conseguiu mobiliar novamente a casa graças à ajuda de parentes, pois, além do furto, teve que jogar muita coisa fora por causa da lama.
Já a vizinha Juliana Favaro preferiu ficar por perto para tomar conta da sua residência. Enquanto a família foi para casa de parente, a estudante ficou na casa da vizinha de dois andares espiando a rua. "Tem muita gente que veio aqui para roubar. Estavam até de canoa", lembra.
Pelo que observou e ouviu dos moradores, Juliana tem várias situações de furto para contar. Ela diz que na lanchonete da esquina ladrões roubaram comida e refrigerante. Na casa de outro vizinho, levaram um freezer cheio de peixe. Juliana também diz que viu ladrões se passaram por membros da família, dizendo que queriam salvar o cachorro. "E os moradores continuam com medo", afirma.
No meio de tantas ocorrências, o furto que se tornou nacionalmente conhecido foi o saque ao supermercado Maxxi. Câmeras de vídeo registraram o momento em que os ladrões entraram no supermercado e levaram principalmente bebidas alcoólicas. Segundo o delegado Antônio Carlos Gomes, da 1ª Delegacia de Itajaí, foram autuadas 31 pessoas pelo furto, sendo 24 em flagrante. A maioria responderá o processo em liberdade provisória e apenas três continuam detidas por terem mandado de prisão em aberto e antecedentes criminais graves. Todas estão sujeitos a pena de dois a oito anos de prisão e multa.
O delegado Gomes observa que os roubos (crimes cometidos com violência) diminuíram bastante na cidade porque o comércio fechou e menos dinheiro ficou circulando. Já os furtos (quando não há violência) cresceram. "Vem muito boletim de ocorrência de furto em residência, do pessoal que volta para casa e vê que foi furtado", afirma. O delegado diz que a investigação é difícil porque não se conseguiu patrulhar todos os bairros nem colher informações com vizinhos.
Os atendimentos feitos pela Polícia Civil passaram de 157 para 190. Pelo menos 172 pessoas procuraram as delegacias de Itajaí para o registro de danos causados pela chuva, a maioria visando à cobertura do seguro.