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Liberdade de culto

Estudantes da USP tentam impedir cultos evangélicos promovidos pelo Dunamis

Dunamis USP
Culto de jovens evangélicos dentro do principal campus da USP atraiu mil participantes (Foto: Jake Brookbank/Dunamis)

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Na noite de 29 de agosto, o movimento cristão evangélico chamado Dunamis Movement promoveu um culto na Praça do Relógio, dentro do Campus Butantã, o principal da Universidade de São Paulo (USP). Cerca de mil jovens participaram do encontro.

Após o culto, estudantes que se sentiram incomodados com a manifestação religiosa passaram a cobrar da Reitoria que proibisse novos atos desse tipo. No dia 17 de outubro, um jornal impresso feito por estudantes da USP – chamado Jornal do Campus – sintetizou essas críticas ao publicar, como manchete, uma reportagem sobre o evento.

A matéria faz críticas ao grupo religioso, cita que há em curso um “crescimento acelerado da organização” dentro da universidade e aponta suposta linha ideológica dos estudantes evangélicos. Um dos pregadores teria dito que “a USP não pertence a Karl Marx nem ao comunismo, mas a Jesus Cristo”, segundo o jornal, que argumentou que as pregações teriam “indícios de discurso de ódio”.

O Jornal do Campus menciona que, após o culto, questionou a Reitoria mais de 15 vezes, e que teriam sido negados “esclarecimentos sobre as diretrizes de uso do espaço da Universidade”. Alguns veículos de imprensa tradicionais também publicaram matérias ou artigos opinativos críticos à realização do culto dentro da USP.

Apesar disso, não há vedação para manifestações religiosas dentro de universidades públicas. Constitucionalmente, o Estado (e suas instituições, como as universidades federais e estaduais) não pode promover atos religiosos, mas por outro lado também não podem impedir tais manifestações, desde que sejam voluntárias, pacíficas e não discriminatórias.

Em outras palavras, estudantes, professores e servidores têm o direito de expressar suas crenças individual ou coletivamente nesses locais. Encontros de grupos religiosos diversos – cristãos, espíritas, judeus, muçulmanos, etc. – dentro de universidades públicas são comuns. Via de regra, entretanto, é necessária autorização formal para uso de salas, auditórios ou praças.

Alguns estudantes da USP dizem que o Dunamis Movement não solicitou autorização formal para o encontro. Já o grupo evangélico afirma que os encontros na USP acontecem desde 2016 todas as terças e quintas-feiras na Praça do Relógio, sem o uso de salas ou auditórios da instituição, e que em outras ocasiões já reuniram centenas de jovens sem ter havido resistência semelhante.

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Líder do Dunamis diz que alto número de participantes e tensões recentes explicam reação

À Gazeta do Povo, o líder global do Dunamis Pockets (braço universitário do movimento), Gabriel Namorato, avalia que o que chamou a atenção de estudantes críticos ao ato religioso teria sido o número maior de participantes e tensões recentes envolvendo cultos em universidades, como a expulsão de jovens cristãos por seguranças da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), por ordem da Reitoria, em agosto.

Além disso, a Cidade Universitária da USP foi marcada, nos últimos meses, por uma série de confrontos entre membros de um grupo de direita e estudantes ligados à militância de esquerda. O Dunamis, entretanto, não tem relação com esses acontecimentos.

“Em abril já tínhamos feito um culto com umas 400 pessoas. Depois fizemos outro, em julho, um pouco menor, com umas 250. E agora tivemos esse com mais de mil jovens”, conta Namorato. “Fizemos a adoração igual nos outros e pregamos como nos outros. Acho que o que chamou a atenção foi a quantidade de pessoas e também porque já está tendo essa tensão no ar”, diz, citando a expulsão de jovens evangélicos de área da UFRGS.

Os pequenos grupos do Dunamis Pockets, que se reúnem semanalmente nas universidades, têm média de 50 universitários e acontecem dentro de salas de aula ou em outros espaços das faculdades, como auditórios. Já o encontro que ocorreu no final de agosto foi o “Pockets Geral”, que é um encontro de estudantes de todos os campi da USP.

Namorato não considera a menção a Marx como discurso político, nem avalia que esse teria sido o real motivo que incomodou os estudantes.

“Não foi essa fala que acalentou, foi a nossa simples presença lá. Essa fala nossa de que a universidade não é de Marx, mas de Jesus Cristo, é algo que não foi exclusivo para a USP. A gente sabe que existe um movimento do marxismo de se apoderar das universidades, mas em nenhum momento fizemos qualquer menção à política. A gente não está levantando um partido”, declara o representante do Dunamis Movement.

Em relação a críticas do jornal da USP sobre o barulho, Namorato conta que foram usadas duas caixas de som e que o grupo não descumpriu as determinações da chamada “Lei do Psiu” – que prevê limite de horário e decibéis para sons considerados altos.

“Estávamos com técnico de som para garantir que estivesse dentro dos decibéis permitidos e encerramos antes das 22h. E depois, a Praça do Relógio é um lugar muito distante de qualquer outra parte da universidade. Além disso, enquanto a gente estava organizando o evento, montando o som, o tempo todo escutamos os ensaios das baterias das atléticas ecoando pela faculdade inteira, durante horário de aula. E não teve reclamação. Então me parece uma coisa muito seletiva”, questiona.

Culto Dunamis universidadesJornal feito por estudantes da USP disse que as pregações teriam “indícios de discurso de ódio”. Foto: Jake Brookbank/Dunamis. (Foto: Jake Brookbank)

Resistência nas universidades está aumentando, diz líder evangélico

Para Lucas Teodoro, fundador do Aviva – organização cristã que faz trabalhos evangelísticos e sociais em escolas e faculdades – há um aumento recente no preconceito contra manifestações cristãs dentro das universidades.

“O que estamos percebendo é que nos últimos meses as resistências estão aumentando, porque os encontros nas universidades estão crescendo, reunindo milhares de pessoas, e isso está incomodando”, diz o líder do Aviva – movimento que, como mostrado pela Gazeta do Povo, também tem promovido uma série de cultos em universidades públicas.

“Estamos em um período difícil no meio acadêmico, onde ser cristão é tachado como algo inadequado, ultrapassado e até mesmo com viés político. Isso é uma barreira a ser vencida, porque não estamos na universidade para pregar alguma doutrinação política. Estamos ali para falar sobre Jesus. É isso que o Aviva e o Dunamis estão fazendo, e consequentemente as resistências virão”, prossegue.

O culto para estudantes da UFRGS que foi barrado pela Reitoria, em agosto, foi organizado pelo Aviva. Impedidos de realizar a cerimônia, os cerca de 500 jovens se reuniram em uma área externa do campus. Mesmo assim, o momento de oração foi interrompido por um grupo de seguranças da instituição, que expulsou os religiosos.

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O que é o Dunamis Movement

O Dunamis Movement foi fundado em 2008 por Teo Hayashi, missionário e pastor da igreja Zion Church, em São Paulo. O movimento, que foca no evangelismo de jovens, tem como braço universitário o Dunamis Pockets, que existe há 16 anos e consiste na formação de pequenos grupos de estudantes, chamados “pockets”, que estão presentes em mais de 360 universidades públicas e particulares no Brasil e em mais 13 países.

O Dunamis Movement também tem forte presença na internet e conta com uma banda própria, reconhecida como uma das principais bandas de adoração cristã jovem no Brasil.

Posicionamento da USP

A Gazeta do Povo solicitou um posicionamento oficial da Reitoria da USP sobre a realização de manifestações religiosas dentro da estrutura da universidade, mas não houve retorno até o fechamento da reportagem.

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