Candidatos a conselheiros do CFM (Conselho Federal de Medicina) com posições favoráveis à vida, contra o aborto e a favor da autonomia médica para receitar tratamentos estão sofrendo uma onda de ataques em redes sociais e meios de comunicação. O objetivo é gerar uma guinada progressista no CFM nas eleições que ocorrem nos próximos dias 6 e 7 de agosto.
Os grupos adotam a já desgastada e anticientífica retórica de classificar como contrários à ciência os questionamentos às suas posições. Entre o que eles consideram "anticientífico" está a condenação pelo CFM da assistolia fetal, procedimento usado para matar bebês até o nono mês de gestação nos casos de estupro.
O uso da palavra "ciência" para chancelar um posicionamento ideológico começou em 2020, junto com a pandemia, e resultou na censura à discussão aberta e autenticamente científica sobre a vacinação contra a Covid-19 e sobre o chamado "tratamento precoce".
Na atual eleição para o CFM, os alvos dos ataques não são somente aqueles que receitaram o tratamento precoce ou desaconselharam a vacinação. Todos os candidatos que simplesmente defenderam a autonomia do médico, ousando colocar ponto de interrogação sobre os dogmas veiculados pelo "consórcio" – como são chamados os meios de comunicação que incentivavam a censura a uma discussão científica autêntica durante a pandemia –, têm sido atacados.
Em postagens em redes sociais e entrevistas em podcasts, os grupos ideológicos que se posicionam contra as chapas pró-vida e pró-autonomia médica rotulam o posicionamento de seus adversários como "bolsonaristas", "obscurantistas", "politizados" e contra a ciência.
Editoriais de jornais com viés de esquerda têm ecoado os ataques ideológicos e anticientíficos, afirmando que os médicos que sustentam posicionamentos contrários aos seus estão "polarizando" as eleições do CFM.
Entre os alvos estão:
- a doutora em Bioética Rosylane Rocha (candidata no Distrito Federal);
- o doutor em Ginecologia Raphael Câmara (candidato no Rio de Janeiro);
- o ex-presidente do CFM Mauro Ribeiro (candidato no Mato Grosso do Sul);
- e o infectologista Francisco Cardoso (candidato em São Paulo).
"É aquela coisa: acuse-os do que você é. Quando tentam acusar o Conselho Federal de Medicina ou as chapas que têm certos posicionamentos de estarem fazendo um trabalho que não é técnico, não é ético, mas político, na realidade, eles estão nos acusando do que eles fazem", afirma Rosylane.
Na linha de frente dos ataques estão alguns grupos de médicos como a Associação Brasileira de Médicos e Médicas pela Democracia (ABMMD) e o movimento "Muda CFM", como já mostrou reportagem da Gazeta do Povo.
Os grupos criticam não só as chapas que defendem posicionamentos a favor da vida e da autonomia médica, mas também a própria composição atual do CFM, que, segundo eles, estaria politizando a medicina no país. Para justificar isso, criticam, por exemplo, a postura cientificamente embasada do CFM contra a prática do teleaborto e a defesa que o órgão fez da autonomia médica durante a pandemia.
Nos últimos anos, o CFM tem sido alvo frequente de ataques por adotar uma postura firme contra tentativas ilegais de deturpar o que a lei prevê em relação ao aborto no Brasil. Algumas resoluções do conselho têm sido uma importante forma de salvaguardar o direito do nascituro no país.
Neste ano, o CFM tentou, por exemplo, proibir que os médicos brasileiros fizessem a assistolia fetal, única prática usada hoje para matar bebês de entre cinco a nove meses de gestação. A resolução foi suspensa, contudo, pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Fontes do CFM consultadas pela Gazeta do Povo afirmam que a esquerda dificilmente obterá o resultado que pretende com os ataques, já que, mesmo com a forte campanha nos meios de comunicação, a grande maioria dos médicos brasileiros ainda é a favor da vida.
Os ataques recentes revelam uma cartada final desesperada para tentar dar uma guinada progressista no CFM. Os esquerdistas temem que a posição pró-vida continue prevalecendo no conselho nos próximos anos. As eleições ao CFM ocorrem a cada cinco anos.
Esquerda quer CFM subserviente ao governo Lula, dizem médicos
Para alguns dos alvos dos ataques recentes consultados pela Gazeta do Povo, a ofensiva orquestrada pela esquerda tem um motivo evidente: o desejo de dominar um dos poucos conselhos de classe que ainda resistem ao influxo ideológico esquerdista no Brasil.
Mauro Ribeiro, ex-presidente do CFM e candidato a conselheiro no Mato Grosso do Sul, considera que alguns grupos estão tentando "colocar o Conselho Federal de Medicina como um apêndice do governo do PT". "Isso está muito claro", diz.
Francisco Cardoso, candidato a conselheiro em São Paulo, também vê essa tendência. Ele diz que o CFM nos últimos anos se tornou "um incômodo para certos setores, por defender a autonomia do médico". "Eles querem um CFM subserviente ao governo federal", observa.
Ribeiro diz que suas posições sobre temas sociais sempre foram muito claras, e que sempre se pautou pela ética médica e pela legislação vigente no Brasil, sem nunca politizar sua atuação no CFM.
O ex-presidente do órgão nega de forma veemente a suposta articulação de médicos de direita para colocar visões políticas acima da ciência. Para ele, o fato de o CFM ser um dos poucos conselhos de classe que ainda não foram tomados pelo progressismo no Brasil é um reflexo da própria visão média dos médicos brasileiros, e não de uma articulação direitista. Quem está tentando coordenar ataques, segundo ele, é a esquerda.
"Não existe, por parte dos atuais conselheiros do Conselho Federal de Medicina que estão concorrendo à reeleição, nenhum tipo de articulação contrária ao que a esquerda está fazendo. Eu, pelo menos, não participo de absolutamente nada", afirma.
Ribeiro é explícito sobre suas posições pessoais: "Eu sou um homem conhecido, eu sou um homem conservador, e o que eu defendo é a vida e a autonomia médica. Eu tenho 65 anos de idade, eu sou um homem de direita. Sempre fui. Eu sou contra o aborto, eu sou contra a liberação das drogas, eu sou a favor da família. Eu sempre fui. Eu sou católico, eu defendo a religião. Eu me senti ultrajado com a abertura das Olimpíadas, por exemplo. Então, essa é a minha essência".
Suas visões, garante ele, não o impedem de aplicar critérios técnicos em sua atuação, como tenta propalar a esquerda.
Médicos contra a colonização ideológica esquerdista do CFM são alvos de processo
Durante seu período como presidente do CFM, o fato de Ribeiro não aderir a pautas ideológicas da esquerda gerou incômodo.
Ele afirma que, nos últimos anos, foi alvo de seis processos judiciais diferentes. Não foi condenado em nenhum deles, mas, mesmo assim, tornou-se uma das figuras mais perseguidas da classe médica brasileira, e as notícias sobre os processos prejudicaram sua imagem.
"Tive meu nome enxovalhado no Brasil inteiro, por toda a grande mídia, os grandes jornais, redes de televisão, blogs. Disseram, por exemplo, que eu tinha faltado a 873 plantões. Eu nunca tive vínculo de plantão com a Prefeitura de Campo Grande", esclarece.
Outra figura que tem sofrido ataques é Raphael Câmara, atual conselheiro federal pelo Rio de Janeiro e candidato à reeleição. Desde que foi secretário de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde do governo de Jair Bolsonaro durante a pandemia, ele se tornou alvo frequente da esquerda, que o acusa de ser um defensor do tratamento precoce – Câmara, na verdade, defende a autonomia médica.
O conselheiro do Rio também foi um dos autores da resolução do CFM suspensa por Moraes que proibiu a prática da assistolia fetal por médicos no Brasil. Desde então, é um dos nomes mais citados nas reportagens e postagens de redes sociais que acusam médicos pró-vida de polarizar e politizar as eleições do conselho.
Francisco Cardoso, candidato em São Paulo e a favor da vida, também tem sido alvo de processos e matérias críticas em jornais desde que defendeu posições contrárias às do consórcio durante a pandemia. Ele é especialmente atacado pela Associação Paulista de Medicina (APM), que costuma apoiar as posições ideológicas do consórcio.
"Defendi a autonomia do médico, a liberdade de prescrição baseada nas melhores evidências disponíveis. Esse é o verdadeiro conceito de ciência médica", diz.
Recentemente, Cardoso também foi acusado, sem provas, de ser responsável por um disparo de SMS orientando voto em sua chapa. Segundo ele, a esquerda o ajudou com a acusação.
"A ideia era me criminalizar, dizendo que eu estaria fazendo propaganda irregular para me cassar. Fizeram um furdunço na mídia para gerar um factoide. Só que, na hora de comprovar, não tiveram como. Mas acabaram espalhando para o Brasil inteiro que eu sou a única chapa de direita. Foi um tiro no pé o que eles fizeram", comenta Cardoso, que acredita que a maioria dos médicos em São Paulo é de direita.
Ribeiro também é otimista em meio aos ataques. "Se alguém pensa que com esse movimento que estão fazendo na grande mídia de ataque a médicos conservadores – a mim, por exemplo, ou ao presidente [atual do CFM, José Hiran] Gallo, que somos os mais visados, porque somos os dois últimos presidentes –, se pensam que vão enganar os médicos brasileiros, os 600 mil médicos brasileiros, para eleger médicos que vão ficar a reboque do governo do PT, eles estão muito enganados e vão se frustrar", comenta.
"Semana que vem sai o resultado. Eu não sei se eu vou ser eleito, mas eu tenho certeza de que a maioria absoluta das chapas eleitas será de médicos conservadores", acrescenta.
Médica alerta sobre risco de militância ideológica ganhar espaço no CFM
Rosylane Rocha concorda que a maioria dos médicos não compra os discursos ideológicos e não deve eleger muitas chapas de militância esquerdista, mas alerta para a possibilidade de que a esquerda comece a ganhar espaço no CFM aos poucos.
"Tenho algum receio, sim, porque eles não jogam limpo. Eles têm contato na mídia, de pessoas que recebem aquela informação e nem sempre checam, e acabam veiculando informações falsas ou meias verdades. E aí podem levar os médicos que vão votar a uma interpretação equivocada daquele candidato", comenta.
Para ela, isso não deve afetar a composição do CFM de forma relevante para o próximo mandato, mas é algo a que os médicos que participam da organização política do conselho devem estar atentos.
"Dentro do conselho, nesse momento, ainda não terá tanto peso. Mas, se eles conseguirem, ao longo do tempo, ir galgando espaço lá dentro, a sociedade corre risco. Porque o pensamento deles é enviesado. Eles têm uma conduta partidária, uma conduta ativista. Não é uma conduta baseada em evidência, baseada em ética, baseada na autonomia do médico, na autonomia do paciente. Eles têm projeto de poder, têm projeto de modificar procedimentos, de modificar a regulamentação da medicina. Isso é perigoso", conclui.
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