Os erros nas investigações sobre a morte da adolescente Tayná Adriane da Silva, que envolvem inclusive denúncias de tortura cometidas por policiais, foram a gota d'água para provocar mudanças na cúpula da Polícia Civil do estado.
Após o anúncio da saída do delegado-geral Marcus Vinícius Michelotto, a Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp) divulgou nesta terça-feira (23) a troca do comando da corregedoria-geral da instituição. Sai Paulo Ernesto Araújo Cunha e assume Valmir Soccio. O anúncio foi feito na tarde desta terça-feira pelo secretário de Segurança Pública do estado, Cid Vasques.
"Temos que reconhecer que há um momento de crise", disse o secretário em entrevista aos jornalistas nesta terça. Vasques frisou que a saída de Michelotto foi tranquila. "Há 5 dias ele colocou o cargo à disposição, mostrando-se um homem dotado de espírito público e desprendimento. Esse caso [Tayná], evidentemente gerou uma crise no âmbito da policia civil, mas temos que ressaltar que as divergências na investigação foram detectadas no âmbito da própria segurança pública, pois foi a polícia científica quem detectou essas divergências", argumentou o secretário.
Segundo ele, as mudanças no comando da Polícia Civil estão sendo tomadas para uma "correção de rumos". "Vamos fazer mudanças, por exemplo, na corregedoria da policia civil, para que ela seja reforçada e reavaliada, além disso, vamos estreitar os laços com a policia militar em futuras operações", anunciou Vasques.
O substituto
O delegado Riad Braga Farhat foi indicado pelo secretário da Segurança Pública, Cid Vasques, para assumir o Departamento de Polícia Civil do Paraná. Ele substituirá o delegado Marcus Vinícius da Costa Michelotto, que deixa o cargo de delegado-geral para assumir outras funções na corporação.
Riad Braga Farhat responde atualmente pela Divisão Estadual de Narcóticos (Denarc), unidade especializada no combate ao tráfico de drogas. Antes desta função, Riad foi delegado do Grupo Tigre, equipe de elite da Polícia Civil criada em 1990 e que se tornou referência no País em razão do sucesso na resolução de casos de sequestro.
A posse do novo delegado-geral e do corregedor-geral deverá acontecer nos próximos dias. "Escolhemos o Riad em função da sua folha de serviços prestados e da sua carreira inquestionável", disse Vasques. Já Soccio, o novo corregedor, veio da divisão de infraestrutura da Policia Civil.
Em nota, o delegado Marcus Vinícius Michelotto reiterou que a decisão de sair do comando da Polícia Civil foi tomada em comum acordo. Ele disse que não é o momento para pensar na transição em si, mas de apoiar o novo delegado Riad Farhat.
Crise da Polícia Civil
Apesar das poucas palavras do ex-delegado geral, a crise da Polícia Civil tem crescido ano após ano depois de 2011 e culminou no caso Tayná, onde quatro suspeitos acusam dez policiais civis de tortura para arrancar suas confissões.
Apesar disso, o problema não começou ali. Em 2011, o principal grupo de elite do Paraná, o Grupo Tigre, foi ao Rio Grande do Sul para libertar uma vítima de sequestro. A passagem dos policiais na cidade acabou resultando na morte de um policial militar local, morto ao tentar abordar os policiais paranaenses. Uma das vítimas do sequestro morreu também em troca de tiros da polícia gaúcha com os sequestradores.
Em seguida, uma guerra interna entre policiais civis da base escancarou um racha na instituição. Vários investigadores invadiram uma casa de prostituição de luxo, no bairro Parolin, caso que ficou conhecido como o da "Mansão-cassino". A gestão na corporação continuou enfrentando turbulências como disputa salarial. Os delegados receberam um aumento maior do que a base da Polícia Civil.
O ápice da crise, no entanto, começou na Operação Vortex, desencadeada em abril deste ano pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Paraná. Os promotores do Gaeco prenderam dois policiais e um investigador suspeitos de participarem de uma rede de extorsão montada na Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos de Curitiba. O próprio delegado-geral chegou a ser investigado e foi até ouvido no próprio Gaeco.