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Riscos para crianças e adolescentes

Escoteiros passam a dividir barracas e banheiros por gênero e não pelo sexo biológico

Nova política da União de Escoteiros do Brasil (UEB) afirma que o sexo biológico não será critério para divisão de espaços íntimos. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

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A União dos Escoteiros do Brasil (UEB) anunciou uma nova política de diversidade que afirma que a divisão de espaços íntimos deverá ser feita de acordo com o gênero e não pelo sexo biológico. Segundo a diretriz publicada em dezembro de 2024, barracas e banheiros passaram ser divididos de acordo com o gênero que as crianças e adolescentes se identifiquem. Para especialistas, a decisão gera preocupação no que diz respeito à privacidade e segurança, especialmente de meninas e mulheres, incluindo possíveis implicações sociais e psicológicas.

“Compreendemos que o sexo biológico não deve ser o critério para a designação de espaços comuns, como barracas e banheiros compartilhados. Em vez disso, deve-se considerar a identidade de gênero”, afirma o documento da UEB.

“É evidente que não é conveniente colocar crianças e adolescentes usando espaços íntimos de forma mista. Isso é claramente um facilitador de violências sexuais”, destaca João Malheiro, doutor em educação pela UFRJ.

Para especialista, diretriz dos escoteiros pode impactar o desenvolvimento integral das crianças

A Matria (Mulheres Associadas, Mães e trabalhadoras do Brasil) se manifestou contra a nova política dos escoteiros. “Em nome de uma inclusão que ignora aspectos biológicos e culturais amplamente reconhecidos, as novas diretrizes colocam meninas em situações potencialmente desconfortáveis e até em risco, desconsiderando a importância de preservar a privacidade e a segurança em ambientes compartilhados”, destacou a associação em nota oficial.

Malheiro ressalta que os problemas da política de diversidade da instituição vão além dos riscos de violência sexual. Ele explica que o sexo é um elemento constitutivo da pessoa humana, impactando o desenvolvimento das cinco dimensões da criança ao longo do processo educacional. São elas: corporal (que envolve os aspectos físicos e hormonais), psicológica, racional, social e espiritual. Segundo ele, ignorar o sexo biológico compromete esse desenvolvimento integral de crianças e adolescentes.

O especialista ilustra as diferenças entre meninos e meninas com uma analogia às mãos. “A mão esquerda é muito semelhante com a mão direita. Elas parecem iguais, mas quando analisamos vemos que são totalmente diferentes, possuem funções diferentes e precisam ser ‘educadas’ de maneira diferente”, explica. Ele também enfatiza a importância da consolidação da identidade sexual na infância. “Meninos e meninas precisam consolidar a identidade sexual, até os 12 anos idade. Quando isso não acontece, a gente vê pessoas confusas com a sua sexualidade”, acrescenta.

Em 2021, escoteiros lançaram cartilha sobre visibilidade lésbica

“Várias empresas e organizações ainda estão reféns dessa agenda woke. O caso dos escoteiros é um caso típico, pois já há algum tempo se discute questões relacionadas a gênero na instituição”, afirma uma pesquisadora e palestrante em questões de gênero e domínio da linguagem, que prefere não se identificar. Em 2021, a União dos Escoteiros do Brasil lançou uma cartilha sobre a visibilidade lésbica, como mostrou reportagem da Gazeta do Povo. A instituição afirmou, na ocasião, que a diversidade e a inclusão passaram a ser valores institucionais.

A pesquisadora acrescenta que essas adoções vêm a partir de uma agenda globalista. “Existe uma pressão que é de uma linha ideológica que tem essa abordagem global. Várias instituições se curvaram diante dessas pautas de fundo identitário, a partir de uma falsa concepção de identidade. Essas empresas se sentem forçadas a incorporar essas perspectivas progressistas”, avalia.

A União dos Escoteiros do Brasil se posicionou, por meio de uma nota publicada em seu site. “A implementação da política de diversidade e inclusão está plenamente alinhada com o Projeto Educativo dos Escoteiros do Brasil, que reafirma nossa abertura a todas as crianças, adolescentes, jovens e adultos, sem nenhum tipo de distinção”, destacou a entidade.

À Gazeta do Povo, Ivan Nascimento, presidente dos Escoteiros do Brasil, defendeu a postura da organização. “Um grupo escoteiro é um grupo formado por famílias. Esses assuntos serão discutidos entre as famílias que frequentam aquele grupo e conhecem as suas necessidades. Juntos, vão escolher a melhor solução, que respeite a diferença e deixe todos confortáveis”, defende.

Mudanças visam atender a pessoas trans sem tirar direitos de outros, diz presidente da UEB

Nascimento explica que as mudanças na política dos Escoteiros do Brasil foram motivadas pela necessidade de atender à demanda de pessoas que se identificam com gêneros diferentes do masculino e feminino. “Nós não estamos tirando direitos ou gerando situações desconfortáveis para quem é do sexo masculino ou feminino. Estamos apenas criando oportunidade para que as pessoas que se identificam com outro gênero também possam se sentir confortável”, afirma o presidente da instituição.

Ele ressalta que os casos de crianças e adolescentes trans são minoria, mas que há uma preocupação da instituição em garantir que todos os participantes se sintam acolhidos. No entanto, a pesquisadora que preferiu não se identificar aponta que essas mudanças podem ter um impacto significativo sobre as meninas, por estarem mais propensas a se sentirem desconfortáveis ao compartilharem banheiros com pessoas de outro sexo biológico.

“É muito problemático que, em nome da inclusão de um grupo muito minoritário, você tem a exclusão de um grupo majoritário”, alerta a especialista. Ela ainda enfatiza que o problema se agrava porque as organizações são pressionadas a aceitar, automaticamente, a autoidentificação. “Ou seja, há uma pressão para que não se questione uma criança ou adolescente que diz se identificar com outro gênero”, conclui.

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