Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Negacionismo das viralizações

Esquerda se nega a admitir crescimento orgânico de virais da direita

Vídeo contra fiscalização do PIX de NIkolas Ferreira
Em vídeo publicado nas redes sociais, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) critica mudanças de fiscalização das transações por Pix. (Foto: Reprodução/Instagram @nikolasferreiradm)

Ouça este conteúdo

A viralização do vídeo do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) sobre o Pix suscitou novamente uma acusação sem provas que a esquerda brasileira tem feito com frequência a adversários da direita nos últimos anos: a de que engajamento de seus conteúdos não é orgânico, mas resultado de estratégias artificiais, como o uso de bots e financiamentos ocultos.

Publicado em 14 de janeiro, o vídeo ultrapassou 300 milhões de visualizações no Instagram em menos de 48 horas. Na gravação, Nikolas expressa preocupações sobre a fiscalização pelo governo de transações acima de R$ 5 mil. Não há nenhum sinal de que o vídeo tenha sido impulsionado artificialmente.

Mesmo assim, figuras proeminentes da esquerda sugeriram que o sucesso do vídeo poderia ser resultado de estratégias artificiais, como já haviam feito com outros conteúdos da direita nos últimos anos (leia mais abaixo). O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou acreditar que o PL, o ex-presidente Jair Bolsonaro e o marqueteiro Duda Lima estariam por trás da produção e financiamento do vídeo.

Em entrevista à CNN Brasil, Haddad disse que é normal que ocorra uma crise de credibilidade "quando uma pessoa turbina uma publicação falsa com profissionais pagos pelo partido do Bolsonaro" e quando "não tem mais censura nas redes sociais". "O PL financiou o vídeo do Nikolas. O Duda Lima, que é o marqueteiro do Bolsonaro, foi quem fez a produção daquele vídeo", afirmou, sem mostrar provas.

Em resposta, Nikolas Ferreira desafiou Haddad a apresentar provas, oferecendo R$ 1 milhão caso o ministro conseguisse comprovar suas alegações.

A Gazeta do Povo buscou as últimas postagens impulsionadas em plataformas da Meta por Nikolas Ferreira, Jair Bolsonaro e o Partido Liberal (PL). Tanto a legenda quanto os dois políticos não usam em seu próprio nome o recurso de impulsionar conteúdos da Meta desde as eleições de 2022.

O Partido dos Trabalhadores (PT), por outro lado, pagou ao menos R$ 10 mil para impulsionar um vídeo da deputada Gleisi Hoffmann (PR), presidente da legenda, com tentativa de esclarecimento sobre a polêmica do Pix. Mesmo com o dinheiro investido, o conteúdo não chegou perto do engajamento do vídeo de Nikolas.

Além disso, Gleisi repostou um vídeo do empresário João Pacífico que insinua que o sucesso do vídeo de Nikolas tem relação com as novas políticas anunciadas pela Meta sobre moderação de conteúdo. Não há nenhuma evidência disso.

O especialista em redes e cibersegurança Filipe Augusto da Luz Lemos, professor pesquisador por cortesia da Universidade de Syracuse, explica que os algoritmos das plataformas sociais "têm como prioridade entregar vídeos que rendem mais: conteúdos com boa retenção, muitos compartilhamentos e um fluxo consistente de interações". "Esse comportamento orgânico geralmente cria um ciclo virtuoso, onde o engajamento gera mais exposição, e a exposição, por sua vez, gera mais engajamento", diz.

Em casos de crescimento artificial, por outro lado, Lemos explica que há geralmente um descompasso entre o número de visualizações e o nível de engajamento. "Vídeos com muitas visualizações, mas baixa retenção ou poucos comentários e compartilhamentos, podem indicar que o interesse genuíno do público não foi atingido. Isso rompe o ciclo natural que beneficia tanto os criadores de conteúdo quanto as plataformas", comenta.

Esquerda repetiu várias vezes acusações semelhantes ante sucesso da direita nas redes

Acusações semelhantes e sem provas de impulsionamento artificial já foram feitas pela esquerda em diversas ocasiões nos últimos anos.

A principal delas envolve o chamado "gabinete do ódio", um grupo de assessores ligados à Secretaria de Comunicação (Secom) do ex-presidente Jair Bolsonaro que, segundo uma teoria defendida por políticos e formadores de opinião de esquerda e o Judiciário brasileiro, promoveriam ataques coordenados nas redes sociais contra algumas personalidades e instituições.

Apesar da ampla cobertura midiática negativa contra o grupo e da abertura de investigações, nunca foram apresentadas provas concretas de um esquema organizado e financiado de disseminação artificial.

A própria eleição de Jair Bolsonaro em 2018 foi alvo de acusações semelhantes, com adversários políticos e parte da mídia atribuindo sua vitória ao suposto uso massivo de disparos em massa via WhatsApp e ao impulsionamento ilegal de conteúdo por empresários aliados.

Muitos formadores de opinião ainda sustentam a narrativa de que a ascensão do ex-presidente teria sido artificialmente inflada, aproveitando-se do suposto apelo do "discurso de ódio" com os algoritmos das plataformas. Eles descartam teorias mais evidentes, como o desgaste da classe política tradicional e o apelo que uma mensagem conservadora direta e combativa tem diante da histeria woke.

Outro exemplo recente de acusações de impulsionamento ocorreu durante as eleições de 2024, com o crescimento meteórico da popularidade de Pablo Marçal nas redes sociais. O empresário, que se candidatou a prefeito de São Paulo pelo PRTB, viu seu nome se tornar um dos mais comentados, com vídeos viralizando organicamente e atraindo milhões de visualizações em poucas horas. Adversários políticos e setores da imprensa sugeriram que sua ascensão poderia estar relacionada ao uso de impulsionamento pago irregularmente.

Especialista em marketing digital refuta teoria da esquerda sobre vídeo de Nikolas

Após as insinuações de que a postagem de Nikolas teria sido impulsionada, viralizou nas redes um vídeo do especialista em marketing digital Nick Moretti refutando essa teoria.

"Primeiro, não existe nenhum favorecimento do Zuckerberg em relação ao vídeo postado pelo Nikolas", disse Moretti. "Não tem nenhuma nova mudança na legislação do Brasil. As mudanças afetadas serão feitas apenas nos Estados Unidos, num processo de teste que nem chega perto de vir para o Brasil. O Brasil continua tendo fact-checking, um grupo progressista fazendo moderação e também tendo uma inclinação no seu escritório muito contrária a tudo o que foi falado pelo deputado", acrescentou.

O especialista também falou sobre a importância de entender o que se chama de "movimento de recorrência" nas redes. "Toda vez que você vê algo que te irrita, você dá mais engajamento para isso. Se você vê um vídeo de um cachorrinho feliz, você não vai chegar lá e ficar olhando os comentários. Você vai dar um like e prosseguir para o próximo conteúdo. Quando algo te incomoda, você lê os comentários, comenta com as pessoas… E isso faz com que você não volte para o vídeo uma, duas, três vezes, mas volte para o vídeo várias vezes."

Moretti disse ainda que a esquerda ajudou a bombar o vídeo ao se desesperar com sua repercussão, fazendo com que muitas pessoas voltassem a ver o conteúdo diversas vezes. "E isso é o que algumas pessoas não entenderam: 'Ah, o Brasil tem 200 e poucos milhões de pessoas, como tem 300 milhões de views?' Porque não é uma view por pessoa", explicou. "Você pode voltar naquele vídeo cem vezes. E é provavelmente o que está acontecendo com um grupo de centenas de milhares de pessoas."

O especialista considera que o sucesso de vídeo de Nikolas "não é um fenômeno de plataforma, mas um fenômeno de pessoas". "A gente tem que olhar pra isso aqui como a voz popular. As pessoas se sentindo representadas por um tema, e isso gerando audiência num movimento de recorrência."

Para Moretti, o evento "vai ficar marcado para a história como a voz de um rapaz jovem de 20 e poucos anos conseguiu abalar a presidência do Brasil a ponto de eles revogarem uma lei [ato normativo] simplesmente porque ele postou um vídeo do quarto dele num fundo preto".

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.