Resistência
A reportagem procurou a advogada Lucy e deixou recado no telefone celular, mas não obteve retorno. Nenhuma das advogadas foi denunciada pelo Ministério Público de São Paulo. A tentativa de influenciar os tribunais superiores teria como objetivo vencer as resistências encontradas pelos bandidos para a concessão de benefícios.
Reportagem do jornal O Estado de São Paulo deste sábado revelou que a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) tenta influenciar as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e se infiltrar na corte desde 2010. É o que demonstram interceptações telefônicas feitas pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP). Trata-se de mais uma prova da ousadia dos bandidos que comandam o crime organizado de dentro da cadeia em pelo menos 22 estados, dentre eles o Paraná. Segundo o MP-SP, o estado paranaense concentra o segundo maior número de integrantes do PCC, depois de São Paulo.
De acordo com a reportagem, a ação dos bandidos foi detectada pela primeira vez em 2010 e envolveu uma articulação entre pelo menos dois integrantes da cúpula da facção, e advogados que trabalhariam para a Sintonia dos Gravatas, o departamento jurídico do PCC.
No dia 28 de agosto de 2010, à 0h46, Daniel Vinícius Canônico, o Cego, conversou com uma advogada identificada pelo MP-SP como Maria Carolina Marrara de Matos. Ele reclama de que dificilmente um benefício legal é concedido aos detentos da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, onde está a maior parte da cúpula da facção.
A advogada revela então o plano de reunir diversos recursos negados pela Justiça paulista aos integrantes da facção, como pedidos de concessão do regime semiaberto. Diz a Cego que o "irmão" dela "foi chamado para trabalhar com um ministro, o (Ricardo) Lewandowski".
A reportagem procurou entre os funcionários do gabinete do ministro algum que tivesse o mesmo sobrenome. Não encontrou. Também procurou a advogada. Ela negou que conhecesse alguém no STF. Disse que seu irmão não trabalha lá. "A acusação é um absurdo e eu tenho como provar", disse. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, a contratação não foi efetivada após o MP-SP ter alertado o STF da ligação do assessor com o crime organizado.
No telefonema, Cego pede que a advogada faça o que propõe e ela afirma que vai a Brasília falar com o ministro. Não há nenhuma indicação na investigação de que a conversa realmente tenha ocorrido.
Em 15 de setembro de 2010, os investigadores surpreenderam um dos maiores traficantes do PCC, Edilson Borges Nogueira, o Biroska, pedindo para sua mulher que procurasse uma advogada identificada como Lucy de Lima. A advogada devia contatar um político de Diadema, no Grande ABCD (SP), para que ajudasse a obter benefícios no cumprimento de sua pena.
Dias antes (24 de agosto), Biroska conversa com uma mulher identificada como a advogada Lucy. Ela trata do recurso que está tentando para ajudar seu cliente e afirma que vai se encontrar com um ministro do STF. Ela quer tratar de um habeas corpus cujo relator, segundo o MP-SP, era Joaquim Barbosa o ministro negou o habeas corpus.
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