Turvo - A operação Angustifolia, que reúne agentes federais e estaduais de várias instituições para o combate ao desmatamento e ao trabalho ilegal, está concentrando esforços também para desestruturar a rede que abastece siderúrgicas com carvão feito de madeira nativa no Centro-Sul do Paraná.
Nos quatro dias de operação, foram emitidos 66 autos de infração por diversas irregularidades, que resultaram em R$ 1,7 milhão em multas e três prisões. Nos seis meses que antecederam a Angustifolia, o Ibama lavrou 31 autos de infração no Centro-Sul do Paraná, com multas que totalizam R$ 6 milhões, e apreendeu 1,3 mil metros cúbicos de madeira quantidade suficiente para encher 86 caminhões.
Os 223 agentes da Polícia Federal, do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Força Verde devem vistoriar 1,1 mil fornos de carvão durante as duas semanas da operação. Uma das 21 equipes em que a Angustifolia foi dividida destruiu nove fornos de carvão ontem. Três fornos eram clandestinos e seis estavam funcionando com licença vencida. Foram encontradas 800 sacas de carvão. Os responsáveis pelos fornos serão multados em pelo menos R$ 15 mil cada.
Inibir a atividade em fornos clandestinos de carvão é essencial porque a maior parte da madeira cortada no Paraná é usada como fonte de energia. As toras viram carvão vegetal ou alimentam, na forma de lenha e cavaco, fornos e caldeiras. E, pelos cálculos do Instituto Nacional de Eficiência Energética (Inee), a metade do material vegetal usado para produzir energia vem de matas nativas. Em recentes fiscalizações, o Ibama encontrou fornos de carvão e picadores de madeira abastecidos com araucária, cedro e até imbuia.
Uma grande quantidade do que é produzido de carvão no Paraná é usada nas usinas siderúrgicas de Minas Gerais. Assim, araucárias cortadas no estado estariam sendo usadas para fabricar aço e ferro gusa. A "importação" de carvão paranaense seria uma forma de burlar uma rigorosa lei mineira: todo o produto queimado nas caldeiras das usinas só pode vir de madeira de florestas plantadas. Os fornos usam tecnologia milenar e arcaica.
Procurado, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), por meio da assessoria de imprensa, informou que precisaria de pelo menos 24 horas para informar quantos são os fornos com licença de operação no estado.
Toras no chão
Já numa serraria, também em Turvo, os fiscais encontraram 107 metros cúbicos de toras de araucária sem autorização de corte o equivalente a carga de oito caminhões. O proprietário ainda tinha um picador de madeira e trabalhava sem autorização de funcionamento. Foi multado em R$ 63 mil. Além dos 145 pontos em que a fiscalização já estava prevista vistoria motivada por denúncias ou mesmo por indícios de irregularidades percebidos em sobrevoos de helicóptero , os agentes estão encontrando vários outros focos de crimes ambientais. Na terça-feira, por exemplo, uma área equivalente a oito campos de futebol foi localizada totalmente devastada em Pinhão, na Região Centro-Sul. A mata antes formada por árvores centenárias será agora uma plantação de soja.
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, era esperado na região ontem. Ele iria sobrevoar áreas de desmatamento e depois visitar fornos clandestinos de carvão e depósitos de madeira ilegal. Chegou a ir à base aérea, em Brasília, mas as condições do tempo não permitiram o voo de helicóptero.