Na capital paranaense, um estudo encomendado ainda em 2015 e cujos primeiros resultados já estão sendo avaliados pela prefeitura de Curitiba deve apontar os caminhos para uma reformulação no sistema de coleta de lixo. Com mais de 81 mil imóveis isentos de IPTU, o valor arrecadado para o serviço no ano passado – R$ 95,3 milhões – foi bem menor que o custo total, de R$ 218,7 milhões (aqui estão incluídos não só a coleta convencional, mas também a coleta seletiva, a destinação para aterros e a limpeza urbana da cidade). A diferença, assim como em anos anteriores, foi bancada pela prefeitura de Curitiba. Esse déficit tem origem não só no aumento de custos do serviço ao longo dos últimos anos, principalmente após o fechamento do aterro da Caximba, em 2010, mas também na correlação estipulada por lei entre os valores-teto da taxa de lixo e do IPTU.
Adoção de taxa variável para a coleta de lixo cresce nos EUA; desafio no Brasil é desvincular serviço do IPTU
Leia a matéria completa“A vinculação da taxa ao IPTU é um caso específico de Curitiba. Quando na década de 1990 foi alterada a Lei do IPTU, estabeleceu-se um teto para a taxa de lixo. Se o seu IPTU fosse zero, sua taxa seria zero. O que gerou isso? Tanto os imunes quanto os isentos passaram a não pagar taxa de lixo, independentemente de produzirem lixo ou não”, explica a secretária municipal de Finanças, Eleonora Fruet.
Na prática, essa vinculação também limita a taxa de lixo. Para 2016, por exemplo, a taxa-teto estipulada para os imóveis residenciais é de R$ 257,40. Mas se o valor do IPTU é menor, paga-se o valor do IPTU.
“Isso aliado ao aumento considerável do custo do sistema a partir da desativação do aterro da Caximba [em 2010] fez crescer muito o subsídio que a prefeitura tem de dar ao serviço”, lembra Eleonora. Hoje a maior parte do lixo gerado por Curitiba e outros 23 municípios é levada para um aterro em Fazendo Rio Grande. “Com isso o custo do transporte do lixo subiu muito. Além disso, se antes pagávamos apenas a manutenção do Caximba, porque ele era nosso, hoje, em Fazenda Rio Grande, pagamos manutenção e por tonelada de lixo transportado”, esclarece o secretário municipal de Meio Ambiente, Renato Lima.
Entenda o caso
Já se arrasta desde 2007 o processo burocrático que vai definir os rumos da destinação de lixo para Curitiba e região metropolitana. Como a proposta foi considerada tecnologicamente e legalmente ultrapassada, uma série de recursos judiciais impediu que a empresa vencedora da licitação, em 2009, assumisse o serviço.
Enquanto a questão era discutida, de forma morosa na Justiça, o consórcio metropolitano decidiu suspender e depois cancelar a licitação realizada, criando a condição jurídica necessária para iniciar um novo projeto. Como nada estava resolvido – e para não deixar as cidades que formam o consórcio sem ter para onde mandar o lixo coletado –, um contrato emergencial foi firmado, destinando cerca de 90% dos resíduos produzidos pelos municípios do consórcio para um aterro localizado em Fazenda Rio Grande.
Espera-se que o estudo do International Finance Corporation (IFC) aponte os caminhos definitivos para a parceria entre os municípios do consórcio da RMC.
É o estudo contratado ao International Finance Corporation (IFC), braço do Banco Mundial, que deve indicar, nos próximos meses, uma solução definitiva para uma nova licitação da gestão do lixo de Curitiba e região. “Conversamos sobre várias possibilidades para a mudança da taxa no início da nossa gestão [2012], mas estávamos num momento de transição, em busca de uma solução para o lixo de Curitiba e municípios vizinhos (...) Concluímos que no meio desse estudo do IFC não seria adequado adotarmos qualquer mudança na cobrança. Estamos na expectativa da finalização do trabalho para podermos avaliar uma nova modelagem”, diz Eleonora.
- Curitiba contrata estudo para tentar voltar à vanguarda na gestão do lixo
- PPP e Sanepar são opções para mudanças na gestão do lixo de Curitiba
- Taxa teria de subir 150% para cobrir custos de coleta em Curitiba
- Um jeito de gastar menos com o lixo dos condomínios
- 73% dos curitibanos não agem para reduzir produção de lixo
De pronto, a secretária municipal de Finanças da capital adianta que acredita ser difícil Curitiba implantar um processo totalmente separado de cobrança da taxa de lixo, em razão do aumento de custos operacionais que a medida traria. “Ou mantemos vinculado com o IPTU, mas com regras diferentes, sem o teto limitador e com parâmetros mais realistas e sofisticados; ou vinculamos a cobrança com outra conta como a da água, para economizar custos operacionais”, conta Eleonora. Ela lembra que estudos já mostraram que há uma correlação entre os gastos com água e a geração de lixo nos domicílios, por isso a possibilidade de se juntar a conta dos dois serviços.
Lima e Eleonora também adiantaram que, provavelmente, uma nova taxa de lixo deverá levar em conta mais faixas de produção de lixo, com valores menores para quem produz menos lixo. Ainda não se sabe, porém, que base será utilizada para o cálculo dessa taxa. Atualmente, o porte do imóvel é o fator determinante. Mundo afora, usa-se também massa/volume médio de lixo produzido por região e até mesmo número de sacos depositados na lixeira. “Se a administração fazendária ou os legisladores municipais propuserem um outro critério de medição de produção de lixo que reflita com precisão a quantidade de lixo produzido por cada um de nós, a alteração da legislação será sem dúvida muito positiva, sobretudo porque estará atendendo rigorosamente à previsão constitucional de divisibilidade para cobrança de taxas, além de contribuir para a sustentabilidade do meio ambiente”, avalia a advogada e professora da UFPR especializada em Direito Tributário Betina Grupenmacher.
Arranjo prorrogado
Atualmente, os resíduos produzidos em Curitiba e nos outros 23 municípios integrantes do Consórcio Intermunicipal para a Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos de Curitiba e Região Metropolitana (Conresol) são levados para dois locais diferentes. Cerca de 2,7 mil toneladas por dia vão para o aterro da empresa Estre Ambiental, em Fazenda Rio Grande. Outra parte, 100 toneladas – compostas principalmente por resíduo vegetal – segue para a Essencis Soluções Ambientais, na Cidade Industrial de Curitiba. Esse arranjo tinha validade até outubro de 2015, mas um novo edital de credenciamento para empresas interessadas no serviço foi aberto ainda em julho do ano passado e o esquema deve perdurar por até mais cinco anos. Se uma solução definitiva surgir nesse meio tempo, o arranjo atual pode ser desfeito.
A festa da direita brasileira com a vitória de Trump: o que esperar a partir do resultado nos EUA
Trump volta à Casa Branca
Com Musk na “eficiência governamental”: os nomes que devem compor o novo secretariado de Trump
“Media Matters”: a última tentativa de censura contra conservadores antes da vitória de Trump
Deixe sua opinião