A cidade de Nova York criou um mapa para disponibilizar dados de todas as suas árvores em tempo real. O Mapa de Árvores Urbanas oferece dados e a localização de toda a flora urbana do município, sem contar a vegetação de parques e praças. Dá para comparar bairros mais ou menos verdes (são só 30 plantas nas ruas do Breezy Point, no Queens) e acompanhar a situação de cada uma das 685.721 árvores em tempo real. Além de facilitar a gestão, a ferramenta permite que a comunidade ajude a cuidar da flora local de uma forma organizada.
Qualquer pessoa que cuidar de uma árvore pode marcar isso no mapa. No último sábado (26), por exemplo, alguem adubou e remexeu a terra próxima a um jovem carvalho da espécie Quecus shumardii, cinco quadras acima do Departamento de Parques e Recreação, em Manhattan. Para evitar que as pessoas envenenem ou afoguem as plantas na tentativa de prestar cuidados, o departamento oferece cursos e orientações para os moradores, que podem se tornar “guardiões” da flora local. Esses cuidadores podem tanto cuidar de uma único exemplar quanto da vegetação de toda uma região.
O mapeamento foi feito por voluntários ao longo de 2015. Ao todo, 2.300 pessoas percorreram as ruas da cidade acompanhadas de especialistas registrando as espécies e fazendo medições técnicas. Com 88.301 unidades na cidade, o plátano-de-Londres é a espécie mais comum: responde por 13 % da flora local.
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Uma opção para quem não quer sujar a mão de terra é marcar árvores como favoritas. É só fazer login no site e selecionar plantas para acompanhar. Além da interatividade, o mapa é fonte de informação. Centenas de milhares de dados foram condensados de uma forma simples, bastante visual. As regiões mais arborizadas são marcadas em verde mais escuro; onde as árvores são mais raras, verde claro. Ao dar um zoom no mapa, dá para ver cada uma das plantas mapeadas representadas por um círculo, que varia de cor conforme a espécie.
É possível ver um grande vazio no Leste do mapa. É a área do aeroporto John F. Kennedy, com apenas 39 plantas. Em todo o Bronx, são 86.345 árvores. No Brooklyn, 178.544. Na Ilha de Manhattan, o verde mais escuro fica justamente nos dois distritos que fazem divisa com o Central Park (Upper West Side e Upper East Side). As árvores do parque, como não ficam em ruas, não foram contabilizadas.
A concentração do verde nas áreas nobres é uma discussão antiga em Nova York. E o mapa pode dar pano para a manga. Ele mostra, por exemplo, que não há tanta diferença entre a região do Bronx, mais ao Norte, e Manhattan, área considerada nobre. Ambos são igualmente pobres de árvores urbanas. Embora o Queens concentre o maior número de plantas, também é uma região com muitas desigualdades regionais – alguns distritos têm mais de oito mil, outros menos de mil plantas diferentes.
Para o doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento Cleverson Andrioli, professor do Isae/FGV, o mapa é uma ótima saída para envolver a população, “porque permite o acesso e envolvimento de qualquer pessoa com qualquer cidade”. Inibe, por exemplo, cortes ilegais, já que a comunidade fica mais vigilante. Mas, sob o ponto de vista técnico, o foco da preservação não deve ser nas árvores de rua, mas nos bosques e parques. “Ali você tem todos os subsistemas, o conjunto que estabelece a biodiversidade e permite que a fauna se estabeleça”.
Não significa que as árvores urbanas não tenham importância. “A primeira é estética. Não só da paisagem, mas também do conforto térmico. Segundo que se você tiver uma árvore, necessariamente vai ter um conforto permeável”, explica Andrioli. Além disso, uma espécie bem escolhida pode cumprir um papel importante na polinização, o que também ajuda na preservação do meio ambiente.
Números
A cidade de Nova York estima que suas árvores representem:
30 milhões de litros de água da chuva retidos pela terra
5 mil quilowatts hora de energia conservada
4 toneladas de poluentes atmosféricos retirados do ar
3 toneladas de dióxido de carbono retirado do ar
US$ 872.507,43 é o total do dinheiro “economizado” pela cidade
“Benefícios ecológicos”
Com apenas sete centímetros de diâmetro, o carvalho citado acima rende, ao ano, US$ 39,01 (cerca de R$ 132) em “benefícios ecológicos” para a cidade de Nova York. Traduzir ecologia em dinheiro é uma estratégia do Departamento de Parques, e o Mapa de Árvores Urbanas cumpre um papel importante.
Em sua imagem inicial, a ferramenta escancara o valor “economizado” pela cidade Nova York todos os anos, com as árvores plantadas em suas ruas: US$ 872.507,43. Quase R$ 3 milhões. O valor leva em conta a quantidade de água de chuva absorvida, a energia conservada pela vegetação, e os poluentes atmosféricos e dióxido de carbono retidos do ar.
Código aberto
Depois de mapear e divulgar a localização de todas as suas árvores, a cidade de Nova York quer ver seu Mapa de Árvores Urbanas se multiplicar pelo mundo. A programação da ferramenta foi feita toda em código aberto. Significa que qualquer cidade pode “copiar” o sistema e usar seus próprios dados, de forma gratuita e legal. O departamento tem até uma área em seu site para desenvolvedores que queiram entrar em contato.
Além disso, já há aplicativos de smartphone que reconhecem espécies de plantas só pela fotografia. Entre eles o myGarden Answers e o PlantNet (ambos disponíveis para celulares iPhone e Android). O que pode facilitar em um mapeamento feito com a ajuda de voluntários.
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