Vai ficar para o próximo ano a discussão sobre regular ou não o Uber, em Curitiba. Um projeto de lei favorável à regulação – similar ao decreto que liberou o serviço em São Paulo – segue em discussão, na Câmara Municipal. Mas, na prática, não há tempo hábil para o trâmite, e o texto vai ser engavetado em 31 de dezembro. A discussão vai sobrar para a nova legislatura, que tende a ser mais favorável à regulação do que a atual, e para o prefeito eleito, Rafael Greca (PMN), que assumem no dia 1.º de janeiro.
Assinado por 17 vereadores, o projeto de lei 563/2016 foi o mais perto que a cidade chegou de uma regulação do “transporte privado individual a partir de compartilhamento de veículos”. Protocolado em maio, o texto empacou um mês depois na Comissão de Serviço Público, que solicitou um parecer sobre a demanda do serviço à Urbs, que administra o transporte na cidade. A empresa informa que o estudo segue na área técnica de sua Diretoria de Transportes, em fase final de análise.
Olhar para o táxi não vai resolver os desafios das cidades com o Uber
Uber perde motoristas e vê expansão ameaçada
Leia mais sobre o Futuro das Cidades
Sem o retorno da Urbs, o relator da proposta na comissão, vereador Serginho do Posto (PSDB) sugeriu a retirada do projeto. Ele defende que o município só volte a legislar quando houver uma normativa nacional sobre o tema. Atualmente há uma série de projetos sobre o tema em trâmite, no Congresso Nacional. O mais avançado é o PL 5587/2016, que impõe aos aplicativos regras similares às seguidas por taxistas.
Proibir
Além da regulação, a atual Câmara de Curitiba tentou proibir o Uber, antes mesmo do aplicativo começar a operar em Curitiba. Mas o texto foi mudado prevendo a inconstitucionalidade, já que leis semelhantes aprovadas em outros municípios foram derrubadas na Justiça. Os parlamentares então optaram por aprovar uma multa administrativa de R$ 1,7 mil para quem faz transporte individual de passageiros e não é taxista. Sancionado pelo prefeito Gustavo Fruet, o projeto ainda não saiu do papel por falta de regulação (é necessário prever como será a fiscalização e para onde vai o dinheiro arrecadado, por exemplo). Atualmente, a Secretaria Municipal de Trânsito (Setran) multa motoristas Uber com base no Código de Trânsito, independente de qualquer legislação municipal.
Apresentado na reunião do Serviço Público nesta quarta-feira (7), o relatório sofreu um pedido de vistas, feito por Julieta Reis (DEM), e volta à comissão na reunião extraordinária da próxima segunda-feira (12). Como o texto ainda teria que passar ir para a Comissão de Urbanismo, e o plenário só tem mais três sessões ordinárias – na segunda, terça (13) e quarta-feira (14) – a tendência é o engavetamento.
No ano que vem, começa tudo de novo. Principal autor do projeto de lei, Jonny Stica (PDT) não foi reeleito. Mas qualquer parlamentar pode reapresentar o texto (ou sugerir um novo). Levantamento da Gazeta do Povo indica que, dos 15 vereadores novatos, pelo menos 12 são favoráveis a regular os aplicativos de transporte. O que pode impactar nas discussões na casa, já que a renovação da Câmara foi de quase 40%.
“Plenamente favorável à regulamentação”, o vereador eleito Jorge Brant, o Goura, vê aplicativos de carro como “tendências que a cidade tem que abraçar” em nome de mudar o paradigma de mobilidade. Ele considera tanto taxistas quanto motoristas de Uber peças importantes para diminuir o número de carros individuais nas ruas. E considera importante incentivar a ambos. E que também seria importante discutir “se a gente tem uma taxação excessiva dos táxis que prejudica a concorrência deles”.
Incertezas para o usuário
Enquanto a discussão regulatória patina, usuários dos serviços vivem um cenário de incertezas. Desde que o Uber começou a operar em Curitiba, em março, motoristas e passageiros relatam casos de perseguição e até agressão, que seriam protagonizados por taxistas. Em um incidente, uma passageira relatou ter sido agredida, ela própria, na saída de uma casa noturna da cidade. Para o advogado Marcelo Araújo, especialista em Direito do Trânsito, o serviço prestado pelo Uber é ilegal. Então o usuário deveria arcar com o ônus de estar em um serviço irregular, caso algo de errado aconteça.
A diretora para o Sul do Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor (Brasilcon), Andressa Jarletti não vê da mesma forma. “Embora não tenha uma regulação, do ponto de vista administrativo, isto não impede o uso pelo consumidor”. E mesmo sem a regulação, o Uber é sujeito às regras do Código de Defesa do Consumidor. Significa que um usuário que se sentir prejudicado pode acionar a empresa (como no caso de uma passageira que perdeu o voo em função de um trajeto ruim, e a empresa foi condenada a pagar R$ 12 mil).
Uma exceção são os casos de agressão. Por ser um “dano causado por terceiro”, a empresa não tem a obrigação de indenizar seu consumidor. Nestes casos, é o agressor que deve ser responsabilizado. Se for um taxista, por exemplo, a cooperativa a que ele pertence pode ser condenada de forma solidária, explica a advogada.
Hugo Motta troca apoio por poder e cargos na corrida pela presidência da Câmara
Eduardo Bolsonaro diz que Trump fará STF ficar “menos confortável para perseguições”
MST reclama de lentidão de Lula por mais assentamentos. E, veja só, ministro dá razão
Inflação e queda do poder de compra custaram eleição dos democratas e também racham o PT
Deixe sua opinião