Pelo menos 180 pessoas morreram no Brasil em decorrência das chuvas de janeiro e suas consequências, de acordo com levantamento da Gazeta do Povo realizado com as Defesas Civis de 12 estados. Em geral, as regiões Sul e Sudeste concentram as ocorrências, mas também foram registrados óbitos em Tocantins, na região Norte. Os líderes em mortes são Rio de Janeiro e São Paulo, com 76 e 69 óbitos respectivamente. O elevado índice fluminense é puxado pelas 53 vítimas dos dois deslizamentos de terra em Angra dos Reis, no réveillon deste ano. No Rio Grande do Sul, a queda de uma ponte sobre o Rio Jacuí, na RSC-287, matou cinco pessoas no último dia 5.
Dos 12 estados pesquisados, 6 não registraram óbitos em razão das chuvas: Santa Catarina, Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Bahia. Já os estados do Paraná, Minas Gerais e Tocantins, além de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, tiveram vítimas em seu território. Além das mortes, a invasão das águas causa outros danos às cidades e às pessoas. No Mato Grosso do Sul, cerca de R$ 22 milhões serão usados para recuperar municípios afetados pelas chuvas, casos de Aquidauana e Miranda, na região do Pantanal. Mais de 50 mil pessoas foram desabrigadas e desalojadas pelas tempestades 43 mil apenas em São Paulo e Rio de Janeiro.
Os problemas causados pelas chuvas se devem ao elevado número de precipitações registradas em janeiro praticamente em todas as cidades o índice pluviométrico superou as médias mensais de anos anteriores. São Paulo é um dos principais exemplos. A capital teve o maior volume de precipitações desde 1947, conforme o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet): 480,5 milímetros (a média para o mês é de 258 milímetros). Os paulistanos não tiveram a companhia da chuva apenas em dois dias de janeiro. Fatos semelhantes ocorreram no Rio de Janeiro e em Angra dos Reis, mas a diferença para a média mensal foi menor que a dos paulistanos.
Nebulosidade
Meteorologista do Inmet, Neide Oliveira apresenta duas explicações para as intermináveis chuvas de janeiro. Uma grande nebulosidade que, em geral, se movimenta entre o norte do Paraná e o sul da Bahia estacionou sobre parte da Região Sudeste. Com isso, as tempestades se concentraram em determinados locais, caso de São Paulo e de partes do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. O Espírito Santo, por exemplo, praticamente não foi afetado pelas chuvas. "Previmos índice de chuvas superior à média do mês para janeiro em São Paulo. Não esperávamos, porém, que fossem de tamanha intensidade", explica Neide.
E a umidade de algumas frentes frias que passam próximas ao litoral colabora na formação de tempestades tropicais, gerando a repetição de um fenômeno padrão: calor forte durante parte do dia, formação de grandes nuvens negras no período da tarde e precipitação no início da noite. "O verão é uma estação mais úmida. Quando essa condição se soma à umidade trazida pelas frentes frias do litoral, as precipitações tendem a ser mais fortes", esclarece Neide.
Mortes
Bombeiros acharam na manhã de ontem o corpo do ciclista Anderson Vaz, 38 anos, que estava desaparecido desde o dia 26, quando um temporal atingiu a cidade de São Roque, na região de Sorocaba (SP). De acordo com testemunhas, Vaz tentou passar de bicicleta por uma área alagada e caiu no Córrego Araçaí. O corpo foi achado na margem do córrego, a centenas de metros do local da queda. Em Brotas (SP), o instrutor de esportes de aventura Ailton Santana Lima Oliveira, 33 anos, foi encontrado morto na tarde de domingo após ficar quase 24 horas desaparecido depois de entrar no Rio Jacaré Pepira para treinar boia cross. O rio estava quase três metros acima do nível normal.