Festejada pelo governo, a visita de Lula à China resultou na promessa de investimentos de R$ 50 bilhões no Brasil. Foram celebrados acordos em áreas de interesse mútuo, como infraestrutura, tecnologia e agronegócio. O presidente, porém, quis dar um passo além: em diversas declarações, deu sinais claros de alinhamento político a um regime autoritário que quer tomar Taiwan e que mal consegue esconder o apoio à invasão russa na Ucrânia.
Poucos detalhes foram divulgados sobre os termos dos diversos pactos assinados por Lula e seus ministros. Mas o histórico de relações exteriores da China em direção a países da África e da América Latina revela uma estratégia agressiva, de crescente influência sobre assuntos internos dos países e acesso a bens naturais ou territórios valiosos, em troca de investimentos.
O presidente e sua comitiva celebraram e venderam os compromissos firmados como sinais de pragmatismo, de que o que interessa é fortalecer as trocas com o principal parceiro comercial do Brasil. Mas ao defender que Taiwan, uma democracia saudável, é “parte inseparável da China”, e que a Rússia e Ucrânia são igualmente culpadas pela guerra, Lula aderiu de cabeça ao interesse geopolítico de Pequim, que busca se firmar como potência global que despreza valores ocidentais que o Brasil deveria defender.
Ao agradar tanto a China e a Rússia, o Brasil dá as costas para Estados Unidos e Europa, muito mais atentas aos perigos representados pelos dois países. No mais, a tentativa de Lula de se colocar como um mediador para a paz na Ucrânia soou a autoridades americanas e europeias como ingênua e pretensiosa.
Como e em que medida os compromissos assumidos por Lula deixam o Brasil à mercê da China? Suas declarações, ao gosto de Pequim, contra Estados Unidos e Europa, nos afastarão desses aliados? Esse é o tema do Segunda Opinião desta segunda (17), com Renan Ramalho, Paula Marisa, Flávio Gordon e Adriano Soares da Costa.
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