Cuidado, proteção, educação, limites e muito amor. Não seria preciso explicar que essas qualidades são típicas de mãe. Típicas da curitibana Vera Pinheiro e típicas da manauense Rosângela Santos. Elas atuaram como mães sociais na Associação Cristã de Assistência Social – Acridas, em Curitiba, e é graças ao trabalho de instituições como essa, que milhares de crianças e adolescentes em vulnerabilidade social recuperam o direito que nunca deveriam ter perdido: o de ter um colo de mãe.
Quando Vera conheceu a Acridas teve certeza que aquele trabalho era o que ela realmente queria fazer. “Vi a oportunidade de cuidar dessas crianças que precisam tanto de uma mãe”, afirma a curitibana que também é mãe biológica de quatro filhos. Em 2020, por exemplo, ela tinha sob seus cuidados maternais, em tempo integral na instituição, 10 crianças que carregavam histórias diferentes – e todas muito sofridas. “Tenho que trabalhar muito o interior de cada uma, e isso é muito difícil porque tem muita dor, muita frustração”, relata Vera. “Minha relação com elas é de muito afeto, dedicação e carinho, porque é só disso que elas precisam”.
Desde sua fundação, em 1984, a Acridas já acolheu pelo menos 6 mil crianças. Elas foram afastadas de suas famílias de origem por serem vítimas de violência física, psicológica, abuso sexual, dependência química dos pais ou graves dificuldades socioeconômicas. Muitas dessas crianças são acolhidas em casas lares na instituição.
Cada uma dessas casas é cuidada por uma mãe social, que também conta com a ajuda de uma auxiliar durante o dia. As crianças frequentam a escola, participam de diversas atividades culturais e esportivas durante a semana e também têm acompanhamento psicológico. Mas bom mesmo é ter a certeza de que, na volta para casa, terão o carinho e cuidado da mãe Vera, da mãe Rosângela e de tantas outras mães sociais pelo Brasil. Aliás, esse não é o único modelo de maternidade social no país, nem mesmo na Acridas.
Acolhimento familiar
Além do acolhimento institucional, centenas de crianças e adolescentes também são acolhidos por mães e pais em famílias temporárias; o chamado acolhimento familiar. Nessa modalidade, a criança permanece na casa de uma família – que tenha interesse em acolher uma criança provisoriamente e atenda a alguns requisitos específicos –, recebendo todo suporte e carinho necessários, enquanto a justiça decide se ela poderá voltar para sua família de origem ou ser encaminhada para adoção. Sérgio Kreuz, juiz responsável pelo início do programa de Acolhimento Familiar no Paraná, lembra que há uma lei (Lei 12.010/2009) que prevê que toda criança tem o direito de viver em uma família e que, por isso, programas como esse são tão importantes.
No Brasil, de acordo com o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), são pelo menos 32 mil crianças acolhidas. Desse número, apenas 5,3% estão em famílias acolhedoras (mais precisamente 1.680), enquanto 94,7% dependem do acolhimento institucional. Segundo publicação de agosto de 2023 no portal do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o plano é ampliar o percentual de crianças na modalidade de acolhimento familiar de 5% para 20% até 2025. É por isso que o trabalho das mães sociais é tão importante.
A manauense Rosângela Santos confessa que, no início, achou que não conseguiria lidar com tantas realidades difíceis presentes no olhar de cada criança, mas a verdade é que o segredo estava apenas em oferecer aquilo que ela já tinha: o seu amor de mãe. “Conforme fui mostrando para eles o meu carinho, a minha atenção, o meu cuidado, vi que eles começaram a se sentir seguros comigo”, conta a mãe social.
Mudança de vida, de hábitos, de pensamentos e até de sonhos. Para Vera, a maternidade lhe trouxe todas essas transformações. “A gente realmente abre mão dos nossos sonhos para levar os filhos adiante, para ensiná-los a viver”, expressa. “Ser mãe é ter uma razão para ser um ser humano cada dia melhor e para que seus filhos vejam em você aquilo que eles querem para a vida deles”.
Esse conteúdo originalmente foi publicado no portal Sempre Família em 10/5/2020
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