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Eleições nos CRMs pavimentam o caminho para futuros cargos no CFM
Eleições nos CRMs pavimentam o caminho para futuros cargos no CFM| Foto: CFM / Divulgação

As eleições dos novos membros dos Conselhos Regionais de Medicina (CRMs) – que representam o Conselho Federal de Medicina (CFM) em âmbito estadual –, previstas para os próximos dias 14 e 15 de agosto, poderão ser determinantes para o aparelhamento ideológico desses órgãos.

Atualmente o CFM é alvo de críticas de médicos alinhados à agenda esquerdista por resistir à ideologia e aos excessos da indústria farmacêutica. Chapas com esse viés querem ter mais poder dentro dos CRMs.

A ofensiva desses profissionais pode pavimentar o caminho para a futura ocupação do CFM, já que é comum que membros do Conselho Federal tenham passado anteriormente por Conselhos Regionais.

Os novos membros dos CRMs – órgãos encarregados de fiscalizar e normatizar a prática médica em âmbito estadual – serão eleitos para a gestão 2023-2028. Serão escolhidos 20 conselheiros titulares e 20 suplentes para cada Conselho Regional. As eleições são coordenadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e, pela primeira vez, serão realizadas pela internet.

À Gazeta do Povo, Raphael Câmara, membro do CFM, destacou que as eleições podem ser definidas por médicos recém-formados, e que isso poderia, em tese, facilitar a ascensão da esquerda nos Conselhos Regionais, tendo em vista a militância exercida por professores nas universidades.

"Muitos dos médicos mais novos foram enganados e não têm noção da destruição que o PT fez na época da Dilma em relação à Lei do Ato Médico e na criação do Mais Médicos. E, agora, com a recriação do Mais Médicos, temos visto pessoas que não são médicos e que não têm CRM atenderem no lugar de médicos de verdade. Eles [o PT] também revogaram todas as nossas políticas de Saúde feitas durante o governo passado, principalmente, o Médicos Pelo Brasil, que pagava salário três vezes maiores que o Mais Médicos, com direitos trabalhistas e tratando o médico com dignidade", disse. Ele responsabiliza a imprensa militante por encampar uma narrativa em favor do programa petista.

O médico infectologista Francisco Cardoso, por outro lado, não considera que os mais jovens sejam a principal ameaça. À Gazeta do Povo, ele diz que o histórico de eleições passadas mostra uma baixa participação desses profissionais no pleito.

Cardoso destaca que os médicos mais jovens são "os que mais estão sentindo na pele os efeitos das políticas esquerdistas na área da saúde". Segundo ele, médicos recém-formados acabam se submetendo a "subempregos, desemprego, exploração trabalhista" e "enfrentando restrição à sua autonomia médica, cerceamento dos direitos, sucateamento nos postos e hospitais", além do "desprestígio da profissão médica devido ao exercício de corruptos de esquerda".

Sobre as eleições pelas redes sociais, Cardoso diz que o CFM "vem sendo impiedosamente atacado pelos comunistas e esquerdistas no Brasil".

"Essa eleição não é para decidir qual chapa é mais virtuosa ou bonita. Essa eleição é para evitar que a esquerda assuma o controle dos CRMs. Essa será a pior coisa possível. Serão anos de cassações, perseguições, ameaças e cancelamentos […] Essa turma esquerdista apoia o Mais Médicos, o fim do Revalida, o achatamento salarial, a formação em massa de médicos com qualidade precária, a abertura indiscriminada de faculdades" e "a coerção que houve a todos os médicos antes e durante a pandemia por secretários de saúde e agentes correlatos", escreveu Cardoso em suas redes sociais.

A eleição para os CRMs tem sido motivo de preocupação para muitos médicos, principalmente depois da interferência política e midiática da qual diversos profissionais foram vítimas durante a crise sanitária causada pela Covid-19 nos últimos anos. Além de criminalizar tratamentos, autoridades atacaram a autonomia médica.

Para o cardiologista Julio Braga Vieira, que é conselheiro federal, é preciso que os médicos analisem o perfil dos candidatos sem se deixarem levar pela popularidade de determinado postulante, mas levem em conta o posicionamento em relação a questões importantes para a categoria.

"Não basta ser uma boa pessoa, não basta ser um profissional competente. Tem de ver as outras questões relacionadas ao que ele entende […] Muitas vezes as pessoas têm medo até de falar, mas é preciso conhecer os posicionamentos sobre temas como carreira de estado, médicos do SUS, Mais Médicos, revalidação automática… São questões essenciais para definir como o representante vai atuar dentro do Conselho. Então, recomendo muito cuidado porque muitos com boa imagem não são adequados para defender a categoria", diz Vieira.

Candidato a vaga no CRM diz que esquerda age tolhendo o debate

Um dos candidatos a disputar uma vaga no CRM de Minas Gerais é o médico cardiologista, Ricardo Hernane Lacerda. À Gazeta do Povo, ele diz que tem buscado a pacificação entre entidades médicas no estado.

"Aqui em Minas tivemos grupos ligados a governos marxistas em eleições do Conselho mas, com certeza, nos últimos anos eles não lograram êxito nesta empreitada. A pluralidade de ideias, como diria Sócrates, nos faz crescer. O grande problema é a dialética burra que impede isso. A dialética marxista traz muito desse preconceito e não permite a discussão de ideias. Felizmente, em Minas todos trabalhamos em prol dos médicos e da boa prática médica", disse o cardiologista.

Lacerda ainda diz que é preciso lutar para a consolidação do Revalida como condição mínima para o exercício da medicina e chama o programa Mais Médicos de "erro".

"É um erro desde o início, pois nasce de uma premissa errada que atribui a situação do SUS e da saúde pública no país à falta de médicos. Isso é totalmente errado. Temos número de médicos suficientes, sendo que o crescimento do número de médicos supera o crescimento da população. Temos de pensar e repensar vagas nas universidades bem como melhor equilibrar e fixar o médico de forma adequada nas regiões carentes. E isso se faz com carreira de estado para estas situações a fim de assegurar condições adequadas para prática médica”, disse o cardiologista.

Sobre a autonomia médica, Lacerda diz que "o tema foi absurdamente politizado durante a pandemia".

"A ciência foi deixada de lado. Todo mundo queria estar certo numa situação de ignorância geral. Drogas seguras foram demonizadas, medidas truculentas e sem respaldo foram tomadas. Ao final, ainda discutimos a eficácia de todas as medidas. Tentaram tirar a autonomia do médico, e os conselhos, em especial em Minas, lutaram pela autonomia e continuam lutando", conclui.

CFM resistiu a pressões ideológicas nos últimos anos

Enquanto medidas draconianas eram impostas à população durante a pandemia – mesmo sem comprovação científica de eficácia – o CFM atuou como um fiel da balança em diversos momentos e se insurgiu contra o sequestro ideológico da medicina.

Na fase aguda da crise, em 2021, quando políticos e jornalistas atacavam médicos que tentavam tratar a Covid-19, o Conselho Federal defendeu a autonomia do médico de decidir – junto com o paciente – o que fazer em cada caso de pessoa infectada pelo coronavírus.

Ao mesmo tempo, o CFM resistiu à tentativa de proibição do uso de medicamentos off label (fora da bula), pois, apesar da pouca informação que se tinha sobre a doença, diversos medicamentos que foram usados no tratamento precoce são conhecidos da medicina há décadas.

Além disso, o Conselho Federal tem se posicionado, com base em evidências médicas, contra pautas impostas pela esquerda, a exemplo da resistência da entidade ao movimento da indústria que quer liberar a maconha sob pretexto de benefícios medicinais.

O CFM também tem assumido um importante papel ao alertar contra cirurgias de transição de gênero em crianças e o movimento antimanicomial, que poderá colocar nas ruas milhares de criminosos nos próximos anos.

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