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Dom José Azcona faleceu nesta quarta-feira (20), em decorrência de um câncer no pâncreas.
Dom José Azcona faleceu nesta quarta-feira (20), em decorrência de um câncer no pâncreas.| Foto: Reprodução/ CNBB

O bispo emérito na Ilha do Marajó (PA), dom José Luís Azcona Hermoso, faleceu nesta quarta-feira (20), em decorrência de um câncer no pâncreas diagnosticado em junho deste ano. Ele estava internado em cuidados paliativos no hospital Porto Dias, em Belém (PA), desde 28 de outubro. A informação foi divulgada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Em nota, a CNBB prestou condolências e agradeceu as contribuições de dom Azcona "como pregador do retiro para o episcopado brasileiro reunido na 56ª Assembleia Geral da CNBB, em 2018". "Dom Azcona deixa-nos um legado de amor, sabedoria e compaixão com os mais pequeninos, testemunho que continuará a inspirar a todos na Igreja no Brasil", disse a conferência.

Dom José Azcona ficou conhecido por sua atuação contra a pedofilia e o tráfico de pessoas na Ilha do Marajó. Em abril de 2006, o bispo emérito apresentou denúncias ao chefe de Gabinete do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, e ao presidente da CDHM na Câmara, deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT/SP) sobre casos de adolescentes que estariam sendo vítimas de exploração sexual no município de Portel (PA).

No ano de 2008, Dom José Azcona voltou a denunciar que crianças entre 12 e 14 anos estavam se prostituindo em troca de comida nos municípios de Breves, Portel e Melgaço no norte do Pará. O bispo ainda acusou o Executivo e o Judiciário paraense de "total omissão" e de nada fazerem para combater esta "vergonha pública".

"Levadas em muitos casos para a prostituição pelos próprios pais, elas abordam passageiros que transitam de barco pela região e oferecem o corpo em troca de dois quilos de carne e cinco latas de óleo de cozinha, para matar a fome da família", afirmava o bispo.

De acordo com o bispo, as Polícias Civil e Federal, além do Ministério Público (MP), não demonstraram nenhum interesse em investigar a exploração sexual de crianças e adolescentes para punir os responsáveis ou combater o tráfico humano de mulheres do Marajó para a Guiana Francesa e a Europa.

"Reconhecendo as chagas de Cristo na humanidade, o irmão no episcopado dedicou sua vida de forma incansável na luta contra o tráfico de pessoas. Também se tornou para nós um farol e uma referência na luta contra a exploração de crianças e adolescentes, a ponto de ter a própria vida ameaçada em decorrência de seu firme testemunho", declarou a CNBB.

Perfil de Dom José Azcona

Nascido em Pamplona, na Espanha, em 28 de março de 1940, dom José Luiz Azcona, agostiniano recoleto, destacou-se por sua atuação no combate ao tráfico humano e à exploração sexual infantil, especialmente na Ilha do Marajó, no Pará.

Ordenado sacerdote em 1963, durante o Concílio Vaticano II, concluiu doutorado em teologia moral em Roma. Nomeado bispo por São João Paulo II em 1987, assumiu a prelazia do Marajó, onde enfrentou ameaças devido à sua luta pelos direitos humanos.

Dom Azcona renunciou ao governo pastoral em 2016, mas continuou a inspirar o episcopado brasileiro, sendo pregador do retiro na Assembleia Geral da CNBB em 2018. Sua trajetória recebeu reconhecimento, como a Ordem do Mérito Princesa Isabel em 2022.

Mesmo internado em Belém este ano, foi homenageado com a visita da imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré, reforçando sua conexão espiritual e legado de dedicação ao próximo.

De acordo com a Prelazia do Marajó, o corpo do bispo emérito será velado durante essa quinta-feira (21) e sepultado na sexta-feira (22) em Soure, no Pará.

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