Uma estudante do segundo ano do Ensino Médio, do Instituto de Educação Estadual de Maringá, interior do Paraná, acabou sendo “silenciada” em uma aula online de História, após questionar o professor. O docente falava sobre a compra de vacinas contra a Covid-19, criticando a atuação do governo do presidente Jair Bolsonaro. A estudante reagiu, contrapondo as críticas do professor, que acabou desligando o áudio da estudante. Ele disse que não aceitava “gente que defende genocida”. Toda a ação foi filmada pela aluna, que tem 16 anos. Posteriormente, a denúncia e os vídeos foram divulgados pelo youtuber Gustavo Gayer.
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Segundo a mãe da menina, a gravação começou a ser feita após o professor ter insistido em usar o espaço da aula, sobre iluminismo e liberalismo econômico, para fazer comentários sobre política. A aula, na modalidade online devido à pandemia de Covid-19, ocorreu no dia 16 de junho. O professor associava a necessidade de aulas online à má gestão do governo federal, que tachou de incompetente. Ao comentar sobre a compra das vacinas da Pfizer, ele disse que a demora na conclusão do processo foi responsabilidade do governo.
Discussão
A estudante então rebateu, lembrando que a compra só poderia ser feita após haver liberação da vacina pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O professor contestou dizendo que aquela informação seria fake news e que não teria base na realidade. “Vocês não estão acompanhando o que está acontecendo. Elas [citando outra aluna, que também questionou o professor] estão com problema em acompanhar os fatos reais”, disse o docente. Ele afirmou ainda que desligaria o microfone de duas estudantes. O professor repetiu que não aceitava “gente” que ficava “defendendo genocida”.
Em outro trecho das gravações, ele disse: “Nós temos, sim, um presidente negacionista, que anda sem máscara por aí”. E estendeu o adjetivo à estudante: “Vergonha é a posição sua [diz o nome da estudante]. Você está sendo negacionista”. É possível ouvir nas gravações a voz de outro estudante tentando defender o direito das meninas de opinarem. E de outro que tenta acalmar os ânimos.
Abuso
Para a mãe da menina, o professor usou o espaço privilegiado para promover preferências partidárias e ideológicas. Ela ressaltou ainda o tom desrespeitoso do professor, que teria constrangido a aluna ao chamá-la de negacionista e impedir sua livre expressão. “Um professor tem que ensinar a pensar, mostrar todos os lados. E ele trouxe uma opinião político-partidária pronta e impôs aos alunos como se fosse uma verdade. Isso não pode ser considerada uma aula”, disse a mãe. Ainda, segundo ela, após o episódio, a estudante teve de mudar de turma devido a hostilidade de outros alunos.
A direção do Instituto de Educação Estadual de Maringá informou que soube do caso nesta semana e que imediatamente tomou providências. O diretor do colégio, Carlos Cartilho Jr., disse que o primeiro passo foi ouvir o docente. “Orientamos o professor sobre o Estatuto do Magistério, de 1971, e desaprovamos a postura dele. Ele reconheceu que não foi feliz em se expressar daquela forma e se se ofereceu para conversar com a família”, diz o diretor. Na sequência, a família da estudante também se reuniu com a direção do colégio.
Repúdio
Nesta quinta-feira (24), o colégio publicou uma nota de repúdio nas redes sociais, contra “qualquer forma de doutrinação, ou prática que exponha qualquer membro da comunidade escolar em situação de constrangimento”. Ainda segundo o texto, o colégio está tomando todas as providências cabíveis junto aos envolvidos.
Procurado pela Gazeta do Povo, o professor não quis se pronunciar.
A família da estudante falou com a reportagem, mas pediu para não ser identificada.
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