Pela primeira vez, dois parlamentares se revezarão no comando da bancada evangélica do Congresso Nacional durante o primeiro e o segundo semestre do ano. O deputado federal Eli Borges (PL-TO) assumirá nos primeiros seis meses de 2023, enquanto Silas Câmara (Republicanos-AM) comandará a frente parlamentar até o final do ano. Esse revezamento seguirá também em 2024.
O acordo, anunciado nesta quarta-feira (8), foi feito após dificuldades e discussões na tentativa de uma votação entre os deputados para a presidência da bancada na última quinta-feira (2). Silas Câmara retornará ao posto que já ocupou nos anos de 2019 e 2020. Já Borges, que foi o porta-voz da bancada evangélica no último ano, comandará a frente parlamentar pela primeira vez.
Conheça mais sobre os deputados que revezarão o comando da bancada:
Eli Borges
Pastor evangélico natural de Goiás, Borges foi reeleito no ano passado para o segundo mandato como deputado federal pelo Tocantins. É filiado ao Partido Liberal (PL) desde abril de 2022. Antes, quando integrava o Solidariedade, chegou a atuar como vice-líder do partido na Câmara. Na vida pública também já foi vereador e deputado estadual.
O deputado se tornou, em fevereiro do ano passado, porta-voz da Frente Parlamentar Evangélica no Congresso. Aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Borges também é defensor de pautas conservadoras. Em entrevista à Gazeta do Povo no ano passado, disse que seu maior desafio como parlamentar era impedir o avanço de pautas como linguagem neutra, ideologia de gênero, passaporte sanitário e legalização da maconha.
Borges também já teceu críticas à conduta do Supremo Tribunal Federal (STF) quanto à atuação em temas sensíveis ao conservadorismo. "Como eles estão legislando – e, às vezes, querem ser presidentes da República também –, é lamentável dizer, mas nós corremos o risco da ditadura da toga querer impor isso [o aborto] goela abaixo", declarou. Na época, ele afirmou acreditar que em 2023 a bancada evangélica iria aumentar. Esse crescimento de fato ocorreu, com pouco mais de 25% dos parlamentares da Câmara e 17% no Senado.
Eli Borges também expressou, em sessão na Câmara em novembro de 2022, preocupação com a democracia brasileira devido ao ativismo judicial e à atuação da alta cúpula do Judiciário no novo mandado de Lula (PT) na presidência. Ele reforçou o receio de que uma eventual aproximação entre a nova gestão do governo federal e o STF enfraquecesse o Congresso. Na época, disse que temia a “visão do Presidente da República governar através do Judiciário, e nós sermos meros carimbadores de leis, menos importantes neste Parlamento”.
Após ser reeleito no ano passado, um áudio vazado do parlamentar repercutiu nas redes sociais. Ele classificou a vitória na Câmara como “humilhante” por ter obtido número de votos menor do que o esperado. No mesmo áudio, ele lamentou não ter conseguido eleger o filho. “Confesso que, aos 62 anos e por tanta coisa que eu fiz, eu tô tendo uma vitória assim. O partido vai fazer dois [deputados federais], mas é uma vitória humilhante”, disse no áudio.
Sobre a relação da frente parlamentar com o presidente Lula, Eli Borges disse recentemente ao jornal Metrópoles que a bancada evangélica precisa ter equilíbrio para manter uma relação respeitosa com o novo governo, mas sem "perder o foco da defesa do objetivo maior da frente parlamentar evangélica”.
Silas Câmara
O deputado federal Silas Câmara (Republicanos-AM) é natural do Rio Branco (AC), pastor evangélico e casado com a também deputada federal Antônia Lúcia (Republicanos-AC). Ele está na política desde 1989.
Defensor de pautas conservadoras, o parlamentar já declarou sua visão pró-vida. Em 2020, quando a Argentina legalizou o aborto, Câmara manifestou indignação com a medida. “Aqui no Brasil, nós sempre combatemos e vencemos todas as tentativas de legalização dessa prática. Nesses 20 anos de Frente Parlamentar Evangélica no Congresso Nacional nada prosperou em relação a esse atentado à vida”, disse.
Ele também já se manifestou contra a ideologia de gênero ao mencionar a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5668, apresentada pelo Psol ao STF, para estimular debates sobre ideologia de gênero nas escolas. Na ocasião, referiu-se à pauta como um “absurdo” e “uma aberração”.
O deputado também costuma se posicionar contra a legalização das drogas. “A legalização desta droga [maconha] nunca trará solução para diminuir o tráfico nem a dependência química no Brasil. Pelo contrário, essa medida causaria um dano enorme à saúde pública e à segurança em todo o País”, disse, em 2015, nas redes sociais.
Contudo, Silas Câmara já esteve envolvido em alguns escândalos de corrupção. Após ser acusado da prática de "rachadinha" com salários dos funcionários na Câmara e de uso de servidores comissionados para serviços particulares, fez um acordo de não persecução penal com o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, no final do ano passado. Silas aceitou pagar R$ 242 mil para se livrar de uma possível pena de prisão.
Em 2009, o parlamentar também foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) pelos crimes de falsificação de documento público e uso de documento falso. Apesar de o STF ter condenado o deputado, a pena de prisão de 8 anos não foi cumprida em razão da prescrição do crime.
Durante as eleições de 2022, o parlamentar apoiou a candidatura do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Após a vitória de Lula, Silas ainda não se manifestou sobre como enxerga a relação da bancada evangélica com o novo governo petista.
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