Ponto que concentra dezenas dos mais graves acidentes de trânsito do Paraná, a Curva da Santa é um desafio para a engenharia de tráfego. Quais medidas poderiam ser adotadas para diminuir os problemas na acentuada curva na descida da serra, na BR-376, já perto da divisa com Santa Catarina? Depois de um estudo, o Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas no Estado do Paraná (Setcepar) diz que reduzir a velocidade dos caminhões ajudaria.
A ideia do levantamento surgiu depois de a Gazeta do Povo mostrar que houve 246 acidentes nos últimos seis anos no local, com aproximadamente 90% causados por abusos cometidos pelos motoristas. Os dados são da Polícia Rodoviária Federal. Segundo o Setcepar, o problema é que os caminhões chegam ao fim da serra com os freios comprometido.
O presidente da Setcepar, Gilberto Cantu, comenta que muitas rodovias têm traçado antigo e que os veículos foram sendo modificados ao longo do tempo, com potências e tamanhos aumentados. “Há reforços na sinalização, mas os problemas continuam”, diz.
Para o sindicato, seria preciso diminuir a velocidade em todo o trecho de descida e – não apenas na curva. “Tem também imprudência, mas o risco poderia ser reduzido com velocidades menores”, acredita.
Para o engenheiro mecânico Rubens Penteado de Melo, responsável pelo estudo feito a pedido da Setcepar, há indícios de que uma alternativa técnica poderia ajudar. “A gente suspeitou que tinha algo mais porque o local é bem sinalizado”, conta. Antes da Curva da Santa existe uma sequência de dez curvas em descida, com mais de 7% de declive. “Embora seja uma serra curta, é bastante íngreme”, comenta.
Atualmente, nos 2,6 quilômetros mais críticos da serra, a velocidade máxima é de 60km/h. Mas, a partir do estudo, o sindicato sugere que o limite seja de no máximo 40km/h, apenas para veículos pesados, em toda a serra. Assim, o caminhoneiro se obrigaria a usar uma marcha pesada e não acionaria tanto o freio. “Não é só manter a velocidade baixa, mas começar com uma velocidade mais baixa”, diz o engenheiro. Ele conta que vários vídeos mostram caminhões “soltando fumaça” na frenagem durante a descida.
A Polícia Rodoviária Federal não concorda que seja preciso mudar a velocidade máxima antes do trecho da Curva da Santa. Para o agente Fernando Oliveira, da comunicação social da PRF, bastaria o motorista respeitar as regras da via. “Não nos parece necessária a redução de velocidade. O trecho é bem sinalizado, com três radares com pórticos. Mas muitos cuidam para passar a 60 km/h no radar e depois aumentam de novo. Por isso, segundo ele, aquele trecho seria ideal para ter um sistema de verificação pela média de velocidade, que considerasse o tempo que o veículo levou para descer a serra e aplicasse multa a quem fez o percurso mais rapidamente. Segundo ele, o limite de 40km/h levaria a congestionamentos em dias de maior fluxo.
O coordenador de tráfego da concessionária Autopista Litoral Sul, Fernando Luz, também concorda que a redução no limite de velocidade na descida da BR-376 poderia causar mais lentidão, sem trazer benefícios diretos. Ele ainda destaca que a diminuição do limite poderia levar a mais colisões traseiras, em função da frenagem brusca. “Acredito que nos dias de movimento comprometeria o fluxo”, diz. Em dias normais 15 mil veículos passam pelo trecho e na alta temporada esse número mais do que dobra.