O Vaticano publicou, nesta quarta-feira (12), o documento oficial de finalização do Sínodo da Amazônia, a Exortação Apostólica pós-sinodal, "Querida Amazônia". Assinada pelo papa Francisco, a publicação apresenta “quatro sonhos” para a Amazônia, que incluem a proteção dos povos amazônicos e a fidelidade aos ensinamentos da Igreja, como o celibato dos padres e a não ordenação de mulheres. O papa também se posiciona contrário à internacionalização da Amazônia, que tornaria a região refém de "enormes interesses econômicos internacionais".
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A exortação é o escrito do magistério da Igreja para o Sínodo e, portanto, o documento feito pelo cardeal Claudio Hummes e outros que participaram da reunião, "Amazônia: Novos Caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral", apesar de ser citado pelo papa, não tem valor oficial, apenas para discussão nas comunidades locais. No documento de Hummes, há a sugestão de permitir o diaconato de mulheres e possibilitar padres de "ter uma família" – uma metáfora para a permissão do casamento de padres –, propostas não acolhidas pelo papa Francisco.
Primeiro o "empoderamento" dos povos amazônicos, depois a ecologia
O papa, logo no início do documento, aponta que "não serve um conservacionismo" ecológico que se preocupa com as matas e os animais, mas "ignora os povos amazônicos".
Em seguida, ele critica "interesses colonizadores" que "legal e ilegalmente, fizeram – e fazem – aumentar o corte de madeira e a indústria de minérios, e que foram expulsando e encurralando os povos indígenas, ribeirinhos e afrodescendentes", levando-os a viver miseráveis na periferia das cidades.
Essa devastação, aponta o papa, não é de hoje e foi indicada por outros papas, como Bento XVI.
"Às operações econômicas, nacionais ou internacionais, que danificam a Amazônia e não respeitam o direito dos povos nativos ao território e sua demarcação, à autodeterminação e ao consentimento prévio, há que rotulá-las com o nome devido: injustiça e crime. Quando algumas empresas sedentas de lucro fácil se apropriam dos terrenos, chegando a privatizar a própria água potável, ou quando as autoridades deixam mão livre a madeireiros, a projetos de mineradoras ou petrolíferos e outras atividades que devastam as florestas e contaminam o ambiente, transformam-se indevidamente as relações econômicas e tornam-se um instrumento que mata".
O papa defende que os indígenas e os mais pobres tenham uma educação adequada que "desenvolva as suas capacidades e empoderamento".
Celibato dos padres
Apesar de sugerido pelo cardeal Hummes, a flexibilização do celibato dos padres não foi recomendada pelo papa. Para o papa, pelo contrário, mais do que "vislumbrar soluções muito diferentes para os problemas" e de formas "opostas de organização eclesial", a verdadeira resposta para desafios, como a falta de padres e as dificuldades da Igreja em regiões remotas, como a da Amazônia, é superar essas propostas de mudanças "procurando outros caminhos melhores".
A preocupação social e pela liberdade cultural dos povos indígenas também não deve, segundo o papa, ser desculpa para esconder que o motor dos missionários é a sua vocação e crença em Deus.
"Perante tantas necessidades e angústias que clamam do coração da Amazônia, é possível responder a partir de organizações sociais, recursos técnicos, espaços de debate, programas políticos… e tudo isso pode fazer parte da solução. Mas, como cristãos, não renunciamos à proposta de fé que recebemos do Evangelho. (...) Se damos a vida por eles, pela justiça e a dignidade que merecem, não podemos ocultar-lhes que o fazemos porque reconhecemos Cristo neles e porque descobrimos a imensa dignidade a eles concedida por Deus Pai que os ama infinitamente".
Ordenação de mulheres seria "clericalismo" e "reducionismo"
O papa também descartou a possibilidade de dar às mulheres a possibilidade de trilhar qualquer um dos passos para a ordenação sacerdotal.
"Na Amazônia, há comunidades que se mantiveram e transmitiram a fé durante longo tempo, mesmo decênios, sem que algum sacerdote passasse por lá. Isto foi possível graças à presença de mulheres fortes e generosas, que batizaram, catequizaram, ensinaram a rezar, foram missionárias", escreveu o papa.
"Isto convida-nos a alargar o horizonte para evitar reduzir a nossa compreensão da Igreja a meras estruturas funcionais. Este reducionismo levar-nos-ia a pensar que só se daria às mulheres um status e uma participação maior na Igreja se lhes fosse concedido acesso à Ordem sacra. Mas, na realidade, este horizonte limitaria as perspectivas, levar-nos-ia a clericalizar as mulheres, diminuiria o grande valor do que elas já deram e sutilmente causaria um empobrecimento da sua contribuição indispensável".
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