Falta quase nada para o prefeito Gustavo Fruet tomar coragem de convidar os curitibanos a dar um definitivo adeus ao metrô, seja nesta reta final de sua atual gestão, seja num eventual segundo mandato se reeleito em 2016: o projeto agoniza e já apresenta aquele som característico da respiração dos moribundos, popularmente conhecido como sororoca.
O diagnóstico clínico não chega a apontar o prefeito ou o seu secretário do Planejamento, Fabio Scatolin, como responsáveis pela morte. Eles ainda insistem em manter ligados os aparelhos e os tubos para garantir o restinho de oxigênio necessário para garantir sobrevida à ideia de construir 17 quilômetros de linhas entre o Pinheirinho e o Cabral, seguindo a mesma trajetória das canaletas.
A morte tem outras causas e podem ser identificadas pela conjunção de vários fatores circunstanciais: nem o poder público (federal, estadual ou municipal) dispõe de recursos para tocar uma obra de R$ 5 bilhões a 6 bilhões, nem a crítica e recessiva situação da economia nacional permite à iniciativa privada ter segurança de que a parceria se revele um bom negócio.
Ainda ontem o secretário Fabio Scatolin foi à Câmara de Vereadores explicar a quantas anda o projeto. Voltou a apontar o metrô como solução a médio e longo prazo para o já quase esgotado sistema de ônibus que faz a ligação Norte-Sul da cidade desde os idos da década de 1970. Com maior capacidade, velocidade, segurança e conforto que ofereceria aos passageiros, o metrô seria a alternativa mais adequada para prevenir a breve, definitiva e inevitável saturação do transporte coletivo atual.
A ideia, no entanto, esbarra em questões técnicas e financeiras. A divisão quadripartite do financiamento, tal como prevista, está cada vez mais distante da realidade: se os cofres públicos já nem suportam os gastos com saúde, educação e segurança; se a quebradeira geral obriga a todos a fazer drástico ajuste das contas para pagar (sem reajustar à altura) o funcionalismo – fica cada vez mais difícil imaginar que o estado e a prefeitura se comprometam com endividamentos para investir em contrapartidas, muito menos o governo federal, às voltas com déficits monstruosos –, embora a presidente Dilma Roussef tenha por três vezes prometido verbas a fundo perdido para o empreendimento.
Já a iniciativa privada se encontra travada: as grandes empreiteiras (muitas delas envolvidas na Lava Jato) repensam seus programas de investimento ao mesmo tempo em que se veem obrigadas a demitir empregados aos milhares.
Só há um problema: se o metrô continuar apenas no papel e como tema de campanhas eleitorais, o transporte coletivo da capital vai continuar se deteriorando? Vai continuar na marcha à ré da desintegração ou da exigência de subsídios? Ou haverá outras soluções mais baratas e realizáveis em prazos mais compatíveis com a urgência que o problema exige?



